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330 Touring: espécie em extinção

Combinação sem vez

Station da BMW tem espaço de SUV e dinâmica de sedã, mas não chega no Brasil

com Jorge Beher

Autocosmos.com/Chile

Exclusivo no Brasil para Auto Press

Não existe um carro ideal, já que cada um tem um ideal diferente. Mas um BMW que tem potencial para satisfazer diversos ideais diferentes é o BMW Sport Touring, um modelo que nem é importado para o Brasil, pois foi esmagado pela sanha “SUVista”, uma daquelas unanimidades a que Nelson Rodrigues se classificava como “pouco inteligente”. A station da BMW Série 3 passou por um face-lift em 2022, acompanhando as mudanças implementadas no sedã. A versão avaliada foi a 330i M Sport, uma versão intermediária da perua, abaixo da M340i ou da M3 Touring. No entanto, 330i talvez seja a versão mais equilibrada e a que melhor matiza toda a tradição da marca alemã. Muito mais do que um famigerado IX ou XM.

As vantagens da Série 3 são bem conhecidas e consagradas. Ela é relativamente compacta ao lado da Série 5, não tem aquela escalafobética grade de dentes de coelho da Série 4 e do M3 e combina muito bem as linhas modernas da linguagem de design atual da BMW com outros elementos mais clássicos da marca. Em suma, é sóbrio e esportivo em partes iguais e é tão prático quanto um SUV, mas sem ser enorme, alto ou desengonçado.

Em dados mais precisos, trata-se de um carro de 4,71 metros de comprimento, 1,44 m de altura, 1,83 m de largura e 2,85 metros entre eixos, com um porta-malas de 500 litros. Ele também vem de mãos dadas com os para-choques M, a grade recém-projetada com frisos verticais duplas e os conjunto ótico de design revisado, com uma assinatura luminosa que cita os tradicionais faróis duplos da marca. Na traseira, a presença dos dois escapamentos de grosso calibre sugere alguma esportividade. A versão avaliada ainda trazia rodas de 19 polegadas.

No habitáculo, há mudanças importantes. O painel de instrumentos e a exibição do sistema multimídia são substituídos por um novo painel panorâmico integrado, batizado de BMW Live Cockpit Professional. Ele corresponde a uma tela de 12,3 polegadas para o painel de instrumentos e uma tela de 14,9 polegadas para o sistema multimídia, que opera, com o sistema de última geração da marca, o iDrive 8. Como a tela do sistema multimídia é maior e tem mais funções, os comandos do ar-condicionado são integrados e operados apenas digitalmente. O seletor de transmissão agora é um comutador, semelhante ao usado no BMW IX.

O novo sistema da BMW aumentou a velocidade e a resolução, mas tudo ficou um tanto sobrecarregado. Com a remoção do seletor da caixa de câmbio e dos botões do controle de temperatura, tudo parece mais espaçoso, arrumado e minimalista. Restou o seletor iDrive e também o botão de volume do som para que nem tudo seja 100% tátil. Os antigos interiores em dois tons dos carros premium ajudavam a entregar uma sensação de luxo e maior qualidade, mas a BMW se rendeu à monocromia, ainda mais porque o preto é uma cor que disfarça muito a qualidade dos materiais. Já o volante é enorme e desnecessariamente grosso.

Em relação a equipamentos, o 330i é bastante abundante. Há head-up display colorido, climatização com três zonas de temperatura, carregador sem fio, espelhamento de Apple CarPlay e Android Auto sem fio, teto panorâmico e diversas assistências, incluindo um programa que memoriza a manobra de estacionamento e a repete em marcha à ré para sair. Claro, ele não tem direção semiautônoma de nível 2.

Sob o capô, o 330i traz o propulsor Twin Power Turbo 2.0, com quatro cilindro em linha, função Start/Stop automática e frenagem regenerativa, gerenciado por um câmbio automático sequencial de oito marchas, com paddle shifts no volante. Ele rende 258 cv e 40,8 kgfm e é capaz de empurrar o modelo de zero a 100 km/h em 5,8 segundos. É a mesma motorização usada no sedã 330i, vendido no Brasil até 2021 – com o face-lift, a BMW passou a trazer a versão híbrida plug-in 330e, que custa a partir de R$ 422.950. A marca não oferece nenhuma station wagon no país.

Impressões ao dirigir

Esporte chique

A resposta do motor Twin Power é muito generosa e a 330i Touring parece bem mais potente do que o que a ficha técnica indica. Os 400,8 kgfm de torque são sentidos em quase todo o curso do conta-giros e essa é provavelmente a chave para que este motor de dois litros pareça um pouco mais explosivo do que o de outros carros. Por exemplo, um rival do 330i Touring embora com um preço mais razoável seria o Subaru WRX Sportwagon, com mais potência e mais cilindrada (2.4 Turbo) mas menos torque e gerenciado por um CVT que nunca será tão ágil como o câmbio BMW Steptronic, embora seja provavelmente o melhor CVT de todos existentes.

Outra coisa é que o 330i tem tração traseira, o que o torna um pouco mais nervoso e divertido de dirigir quando explorado esportivamente – mesmo que a traseira seja tão grudada no chão que é praticamente impossível fazê-la escorregar. É um carro que pode ser tão esportivo quanto o condutor quiser, com uma arrancada rápida em um semáforo, retomadas impressionantes e comportamento em curvas, mesmo em sequências, absolutamente neutro e controlada. É uma combinação entre carroceria e motor que reflete os dois talentos da BMW: eficiência e desempenho. Há modelos até mais potentes, mas dificilmente seria necessário.

Obviamente, não é um carro perfeito, por mais perto disso que o 330i Touring chegue. O volante é desnecessariamente grosso e acaba reduzindo a agilidade nas manobras. Os bancos traseiros são generosos para quatro ocupantes, mas não para cinco ocupantes ‑ a menos que o do meio seja uma criança pequena para ocupar pouco espaço e grande a ponto de dispensar o uso da cadeirinha. Um problema do 330i Touring em relação a um mercado tão avarento em ofertas como o brasileiro é o fato de ser destinado a alguém que precisa de espaço de bagagem, valoriza o estilo e que um comportamento mais esportivo. No país, o único modelo que atende este chamado é o Audi RS6 Avant, que custa a bagatela de R$ 1.175 mil.