Volcano da nova picape da Fiat é a que melhor mostra versatilidade e conteúdo para atrair um novo público
por Eduardo Rocha/Auto Press
Não foram poucas vezes que a Fiat fez apostas ousadas em seus mais de 40 anos de Brasil. Começou com a estreia, com o então moderníssimo modelo 147, primeiro carro nacional com motor transversal que tinha um conceito de aproveitamento de espaço inovador. Foi a partir do 147 que a marca criou a primeira picape compacta do país em 1978. E de ousadia em ousadia, a Fiat chegou na atual picape Strada cabine dupla e quatro portas. A invenção, como toda boa invenção, veio da necessidade. O objetivo da fabricante ao projetar a nova geração da picape Strada era atrair para o modelo os consumidores que querem uma picape que também funcione como carro pessoal e familiar, para uso diário. Este conceito, em outro patamar, foi um dos principais motivos do sucesso da Fiat Toro. O modelo mais emblemático para esse subsegmento de lazer, designado como Play pelo marketing da fabricante, é a versão Volcano. A configuração de topo na linha Strada traz recursos de conforto e conveniência que aproximam a picape de um automóvel de passeio.
Para deixar clara a intenção da marca com a Volcano, a versão tem apenas configuração com cabine dupla. O preço de R$ 79.990 inclui todos os equipamentos disponíveis na linha Strada. O único opcional são rodas de liga leve aro 16, no lugar das original, também em liga leve, mas com medida 15. Por dentro, a Volcano conta com ar, direção e trio elétricos, sistema multimídia Uconnect com tela touch de 7 polegadas, conexão com aplicativo Apple CarPlay e Android Auto via Bluetooth, bancos parcialmente em couro, sensor traseiro com câmera de ré, volante multifuncional e faróis full led. Na parte de segurança, são quatro airbags, controle de estabilidade e tração, ABS com EBD. E tem ainda capota marítima, santantônio, barras longitudinais no teto, grade na janela traseira e barra porta-escada.
O preço da versão deixa uma margem segura para as versões iniciais da picape Toro, que custam em torno de R$ 100 mil. E ainda deixa espaço para a criação de uma nova versão de topo, quando a marca finalmente apresentar a versão turbinada do motor 1.3 Firefly. Nas linhas externas, a nova Strada abusa das referências visuais à picape maior. Principalmente pelo formato dos conjuntos óticos, que se prolongam em direção ao para-lamas, e pelo formato da grade, alta e com frisos horizontais sobre uma trama hexagonal A assinatura em led, uma linha na parte superior dos faróis, reforça esta referência. A linha de cintura é em cunha acentuada, finalizando nas lanternas traseiras com seções concêntricas, que também se alongam em direção ao para-lama, lembram também os da Toro. Por dentro, o painel é semelhante ao da linha Mobi, com um cluster central em arco, com uma tela de TFT quadrada, com 3,5 polegadas, que exibe as informações do computador de bordo. Ela é contornada por um enorme velocímetro analógico. Nos dois cantos ficam o conta-giros e o medidor de combustível. A tela do sistema multimídia fica no centro do console frontal, logo acima do controle analógico do ar-condicionado.
A nova Strada foi desenvolvida sobre a nova plataforma MPP, que aproveita elementos estruturais da Fiorino e da suspensão do Argo e do Uno. A partir dela, a picape cresceu em todas as dimensões e ganhou rigidez torcional – o que melhora o comportamento no asfalto. A Strada com cabine dupla tem capacidade de carga de 650 kg, caçamba acomoda 844 litros até a borda, com 1,31 m² de área de piso. As portas traseiras abrem em 80º, para compensar um pouco o tamanho reduzido. Sob o capô, a versão Volcano traz o motor 1.3 Firefly de quatro cilindros, com 109 cv a 6.250 rpm/101 cv a 6 mil e 14,2 kgfm/13,7 kgfm a 3.500 rpm, com etanol/gasolina. A aposta da Fiat é que a nova Sttrada consiga crescer em 20% nas vendas, em boa parte por conta da versão cabine dupla. Em situações normais, sem pandemia, isso significaria que as vendas mensais subiriam da média de 6.500 para 7.800 unidades. A média nos primeiros dias de venda da nova Strada dão conta de uma média próxima a 5 mil unidades mensais.
Ponto a ponto
Desempenho – A Strada Volcano mostra uma boa agilidade em baixas e médias rotações, bastante usuais em trânsito urbano. No ambiente rodoviário, ela consegue acelerar e retomar com algum vigor. O câmbio tem engates precisos e um escalonamento muito bem ajustado ao motor Firefly 1.3, de 101/109 cv e 13,7/14,2 kgfm com etanol. O conjunto oferece um comportamento agradável, mas sem maiores arroubos. É um carro adequado para a proposta de lazer e a esportividade fica restrita aos eventuais apetrechos que forem transportados na caçamba. Nota 7.
Estabilidade – Pela grande variação de peso com que tem de trabalhar, a suspensão é um pouco mais rígida que a tradicional receita da Fiat para carros de passeio. Embora roube um pouco o conforto dos passageiros, o conjunto mantém o controle da carroceria. A direção é bem direta e nas retas, mesmo em velocidades mais elevadas, não há necessidade de correções de trajetória nem há flutuações, como ocorre com picapes maiores. Nas curvas, há pouca rolagem de carroceria. Nota 8.
Interatividade – A comunicação entre motorista e veículo se dá de maneira funcional e lógica, com um nível de conectividade bastante melhorado por conta da conexão sem cabo com celulares IOS e Android e o sistema multimídia Uconnect tem interface amigável. Os comandos estão nos locais esperados e o volante multifuncional facilita a navegação pelo computador de bordo. Nota 8.
Consumo – De acordo com o InMetro, a Strada Volcano 1.3 registrou médias de 8,4/12,1 km/l com etanol no tanque na cidade/estrada e 9,4/13,3 km/l com gasolina, nas mesmas condições. Este consumo rende à Strada o índice A na categoria e B no geral. Nota 9.
Conforto – A suspensão é ligeiramente rígida, mas não chega a comprometer o conforto dos passageiros, mesmo diante das ruas mal cuidadas. Os bancos acomodam bem o corpo. O isolamento acústico é suficiente para abafar os ruídos aerodinâmicos e de rodagem. Em velocidade de estrada, é preciso aumentar o som. Nota 8.
Tecnologia – A Strada tem uma plataforma nova, que utiliza aços especiais e tecnologia embarcada atualizada. Ela traz os sistemas eletrônicos de auxílio dinâmico obrigatórios, como controle de tração e estabilidade, tem quatro airbags, sensor traseiro e câmera de ré. O sistema multimídia com conexão sem cabo é prático, mas durante o teste, perdia o celular de vista de vez em quando. O motor Firefly é moderno, com boa potência e grande eficiência. Nota 8.
Habitabilidade – O habitáculo da Strada é amplo para quem vai na frente, mas um pouco apertado para os passageiros de trás. No segmento, no entanto, o espaço é bem superior ao da sua única rival, a Volkswagen Saveiro CD. A caçamba tem trava na tampa, o que a torna mais prática para uso como porta-malas, ainda mais pelo sistema de alívio de peso. Por dentro, há porta-copos no console central e porta-objetos nas portas, mas todos com dimensões bem reduzidas. A abertura em 80º das portas traseiras facilitam bem o acesso. Nota 8.
Acabamento – A Fiat não usa materiais requintados ou caros, mas tem o cuidado de dar um tratamento mais refinado às peças de acabamento. Mesmo os plásticos rígidos ganham texturas agradáveis. No caso da versão Volcano, o revestimento do banco tem partes em couro sintético e o volante é forrado em couro. Nota 7.
Design – O Strada tem detalhes herdados da Toro, mas tem personalidade própria. As linhas buscam exaltar a robustez nas proporções do modelo e o desenho tem traços limpos e elegantes. O conceito mistura de linhas orgânicas e geométricas de forma harmônica e os conjuntos óticos são bem charmosos. Ela ainda se diferencia bastante das outras picapes compactas do mercado. Nota 8.
Custo/benefício – A Fiat buscou uma formulação de tecnologia, conteúdo e versatilidade que não só mantivesse a liderança da Strada, mas que ainda fosse capaz de ampliá-la. A versão Vulcano é bem completa e o preço de R$ 79.990 garante uma ótima relação custo/benefício. A única rival direta, com lugar para cinco passageiros, é Volkswagen Saveiro. A versão top, Cross CD, é menos equipada que a Volcano e custa a partir de R$ 92.390, ou 15% mais cara. Nota 9.
Total – A Fiat Strada CD Vulcano 1.3 somou 80 pontos em 100 possíveis.
Impressões ao dirigir
Amplo espectro
A Fiat praticamente colocou o ovo em pé quando criou a Strada cabine dupla com quatro portas. A nova configuração credencia o modelo tanto para o uso como carro de família quanto de trabalho. Com espaço para cinco passageiros – com quatro, o conforto é bem melhor – e um enorme compartimento de carga, protegido visualmente por uma capota marítima e com uma tampa com trava –, a Strada se presta a viagens. A versão Volcano ainda tem um nível de conteúdo capaz de seduzir um público que normalmente optaria por um modelo compacto mais completo. Não chega a ser luxuoso, mas não falta nada relevante.
O desempenho do motor Firefly 1.3 reforça a versatilidade do modelo. Ele mostra um comportamento equilibrado tanto no ambiente urbano quando na estrada. Tem potência suficiente para não irritar quem conduz, mas não tem rompantes esportivos. Arrancadas, retomadas e ultrapassagens podem ser feitas com alguma confiança. O ganho de velocidade é consistente, graças ao torque máximo de 14,2 kgfm plenamente disponível aos 3.500 giros. E boa parte dele aparece bem antes. O câmbio manual poderia, porém, ter engates mais macios.
A suspensão consegue responder bem às demandas de carga e de conforto. é outro exemplo desse equilíbrio, ao combinar conforto com neutralidade dinâmica. Ela absorve bem os impactos causados por desníveis no solo e o isolamento acústico consegue manter certa tranquilidade no ambiente. As curvas são contornadas com precisão e sem grandes torções de carroceria, sempre com boa comunicação entre rodas e direção. O volante com base reta tem tamanho adequado e tem diversos comandos que interagem com o computador de bordo, o sistema de telefonia e de som. O sistema Uconnect consegue conectar o celular pelos aplicativos Apple CarPlay ou Android Auto sem cabo. Durante o teste, porém, a conexão via Bluetooth foi perdida em diversas ocasiões. A visibilidade traseira não é das melhores. O sensor traseiro e a câmera de ré são muito bem-vindos nas manobras,
Ficha técnica
Fiat Strada CD Volcano 1.3
Motor: Gasolina e etanol, dianteiro, transversal, 1.332 cm³, quatro cilindros em linha, duas válvulas por cilindro. Injeção eletrônica. Sistema start/stop opcional.
Transmissão: Manual de cinco marchas à frente e uma a ré. Tração dianteira. Controle eletrônico de tração opcional.
Potência: 101 cv a 6 mil rpm (gasolina)/ 109 cv a 6.250 rpm (etanol).
Torque: 13,7 kgfm (gasolina)/ 14,2 kgfm (etanol) a 3.500 rpm.
Diâmetro e curso: 70,0 mm X 86,5 mm. Taxa de compressão: 13,2:1.
Aceleração 0-100 km/h: 11,2 segundos.
Velocidade máxima: 168 km/h.
Suspensão: Dianteira do tipo McPherson com rodas independentes, braços oscilantes inferiores transversais com barra estabilizadora, amortecedores hidráulicos, telescópicos de duplo efeito e molas helicoidais. Traseira por eixo de torção com mola parabólica de lâmina única com amortecedores hidráulicos. Controle eletrônico de tração e estabilidade.
Pneus: 205/60 R15.
Freios: Discos sólidos na frente e a tambor atrás. Oferece ABS com EBD. Assistente de partida em rampa opcional
Carroceria: Picape cabine dupla em monobloco, com quatro portas e cinco lugares. Comprimento de 4,47 metros com 1,73 m de largura, 1,60 m de altura e 2,74 m de entre-eixos. Possui airbags frontais e laterais de série na versão.
Peso: 1.174 kg em ordem de marcha com 650 kg de capacidade de carga.
Capacidade da caçamba: 844 litros com 1,32 m² de área.
Tanque de combustível: 55 litros.
Lançamento no Brasil: 2020.
Produção: Betim, Minas Gerais.