Além da expectativa
Kia Niro HEV tem ousadia no visual, conforto na condução e consumo impressionante, de quase 20 km/l na cidade
com Marcelo Palomino
Autocosmos.com/México
O híbrido Kia Niro chegou ao mercado sem maiores alardes. A discrição, porém, nada tem a ver com a capacidade do SUV médio sul-coreana em chamar atenção. Ao contrário, ele tem um visual ousado e cheio de personalidade. O caso é que o modelo padece por conta da tímida atuação da marca no Brasil – que pode acarretar outros problemas, como a dificuldade de obtenção de peças de reposição. O mercado, claro, responde na mesma moeda: a média de vendas tem ficado em torno de 20 unidades por mês, apesar de ter virtudes como ótima habitabilidade, desempenho convincente, bom nível de acabamento e uma média de consumo excelente, de 19,7 km/l na cidade e 17,8 km/l na estrada – com direito a certificado do InMetro. E apesar de altos, os preços nem são tão assustadores: a versão de entrada, EX, é oferecida por R$ 208.990 e a top, SX Prestige, sai por R$ 243.990.
Como parâmetro, o Toyota Corolla Cross XRV, a versão híbrida de entrada, custa a partir de R$ 202.690, mas é menos equipado, menos eficiente energeticamente e menos potente (122 cv contra 141 cv do SUV da Kia, na potência combinada). O Niro foi um dos primeiros modelos ecológicos da sul-coreana. Ele nasceu em 2016 como um modelo híbrido convencional, antes de adicionar as variantes híbridas plug-in em 2018 e totalmente elétrica em 2019. Este novo Niro foi apresentado oficialmente no final de 2021 no Salão de Seoul com uma gama composta por versões híbridas (HEV), híbridas plug-in (PHEV) e 100% elétricas (BEV). No Brasil, apenas a versão HEV está sendo importada.
Esta segunda geração do Niro utiliza a mesma base arquitetônica do modelo anterior, mas melhora as dimensões e mantém a silhueta do SUV com uma estética que o aproxima dos modelos com design mais ousados da marca.. As medidas são de um SUV médio-compacto, como o próprio Corolla Cross e o Jeep Compass, que também tem uma versão híbrida, mas que tem preço bem mais salgada, a partir de R$ 347 mil. O Niro tem 4,42 metros de comprimento, 1,83 m de largura, 1,55 m de altura e 2,72 m entre os eixos. São medidas que permitem oferecer uma boa área na cabine e um porta-malas bem generoso, para 425 litros com os bancos em posição normal e 1.419 litros com a fileira traseira rebatida.
O estilo exterior ostenta a filosofia de design Opposites United, ou União de Opostos, numa tradução livre. É o mesmo estilo já empregado no Sportage e no Carnival (modelo, aliás, que a Kia deixou de oferecer temporariamente, por excesso de demanda em outros mercados). O projeto tem uma forte ênfase em oferecer eficiência aerodinâmica para um carro ecológico, neste caso, bons 0,29 Cx. Embora a estética seja um atributo subjetivo, as linhas provocam mais estranhamento do que aprovação. Mas é inegável que é distinto e capaz de destacar o Niro em meio à multidão de SUV que circulam pelas ruas.
Por dentro, a Kia apresenta muitos materiais reciclados e estofos com base vegetal. Se destaca também o design paramétrico do painel de instrumentos, que se curva à frente dos ocupantes dianteiros. Ambas as versões apresentam duas telas de 10,25 polegadas para o painel de instrumentos e a central multimídia, que tem espelhamento sem fio através dos aplicativos Apple CarPlay e Android Auto. A percepção de qualidade é alta, apesar de nem sempre materiais reciclados e veganos apresentarem um aspecto sintético e pouco refinado.
No habitáculo, há muitos lugares para deixar objetos e, de maneira geral, tudo é bastante funcional. Os bancos traseiros são espaçosos o suficiente para transportar bem três pessoas e o acesso é favorecido pela altura intermediária do modelo – nem tão baixo quando um sedã nem tão alto quanto uma SUV mais robusto. Em relação à segurança, o Niro chega com sete airbags e mesmo na versão mais simples adiciona recursos como sensor de luz, monitor de fadiga do motorista, alerta de presença no banco traseiro, monitor com centralização de faixa, farol alto automático, sensor traseiro com câmera e alerta de colisão frontal com frenagem autônoma.
Já na versão EX o Niro traz ar-condicionado com duas temperaturas, bancos do motorista com regulagem elétrica, faróis de neblina em led, luz de condução diurna, rodas de liga aro 18, freio de estacionamento elétrico. Mas a versão SX tenta justificar a diferença de preço – são R$ 35 mil a mais – com alguns recursos ADAS – controle de cruzeiro adaptativo com Stop&Go, monitor de desembarque, monitor de ponto cego com intervenção para evitar colisão, alerta de tráfego cruzado, sensores frontais, alerta de colisão em conversão e trava infantil com acionamento elétrico – e também itens de conforto, como teto solar, tampa do porta-malas elétrica, revestimento em Altaica ‑ um couro sintético desenvolvido a partir do eucalipto –, seletor de marcha rotativo, luzes interna em led, sensor de chuva e faróis full led.
Sob o capô, o Niro HEV está equipado com um motor a gasolina GDI de quatro cilindros e 1.6 litros, acoplado a um motor elétrico síncrono de ímã permanente de 32 kW de potência (43,5 cv), para uma potência máxima combinada de 141 cv e 27 kgfm de torque. Este trem de força é acoplado a uma transmissão automática de dupla embreagem DCT com seis velocidades e a tração é somente na frente. A bateria que alimenta o motor elétrica é de polímero de lítio com 1,32 kWh de capacidade para armazenas a energia gerada nas frenagens e desacelerações (Fotos de divulgação, texto-base de Marcelo Palomino, do Autocosmos México, exclusivo no Brasil para Auto Press).
Impressões ao dirigir
Refinamento dinâmico
A experiência de condução oferecida pelo Niro HEV é das melhores. Foram mais de 300 quilômetros de trajeto, 80% deles na cidade, que é onde o crossover sul-coreano fica mais à vontade e o sistema híbrido é mais eficaz. A média de consumo durante a avaliação, sem poupar tanto o acelerador, foi de 17,7 km/litro. Em trechos em que a condução foi mais pragmática, a média subiu para 19,2 km/l.
A configuração padrão do sistema é dar preferência ao modo totalmente elétrico, quando é possível chegar a até 60 km/h, mas por um trecho muito curto ‑ a autonomia é de, no máximo, 4 pífia, é sempre feito em modo elétrico e é possível levá-lo até quase 60 km/h, mas 4 km. A função principal do motor elétrico é assumir o comando em situações críticas para o consumo, como arrancadas e retomadas. Nesses casos também, ele disponibiliza o torque adicional. O motor a combustão sozinho gera 105 cv e 14,7 kgfm, que são elevados a 141 cv e 27 kgfm pelo sistema híbrido.
Essa combinação consegue dar ao Niro um comportamento surpreendente. A aceleração de zero a 100 km/h em 10,8 não expressa o poder de reação do SUV. O caso é que a melhor condição é até os 60 km/h. Ou seja: na saída de um semáforo, o Niro larga na frente facilmente. E o melhor é que o funcionamento é extremamente suave e silencioso. E não só no modo elétrico. O momento em que o motor de combustão entra em operação simplesmente não é sentido.
O chassi, embora vindo da geração anterior, é muito bom. O foco principal é no conforto, com uma suspensão macia e refinada – McPherson na frente e multilink atrás ‑, mas que pode encontrar fim de curso se não for bem tratada. Mesmo assim, transmite muita segurança e equilíbrio e, apesar de seu peso de quase 1.400 kg devido ao sistema elétrico –, o Niro HEV se comporta de forma muito neutra. O Kia Niro HEV oferece dinamismo e suavidade, mas impressiona mesmo pela economia em um modelo com estas dimensões.