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Royal Enfield Meteor 350: prazer à moda antiga

Custom monocilíndrica da marca indiana chega com design clássico, conforto e ótimo comportamento dinâmico

                A Royal Enfield usou com bastante inteligência as armas que têm. A partir de uma gama de modelos que ficou parada no tempo, a marca indiana encontrou um espaço quase exclusivo para se reacender no mercado mundial. Agora, ela aproveita o visual clássico de seus modelos e o status de originalidade da marca para adotar novas tecnologias tanto para se adequar à legislação quanto para oferecer conforto e confiabilidade – como ABS, partida elétrica e injeção eletrônica. É exatamente o caso da recém-lançada Meteor 350, que assume no Brasil a função de ser o modelo de entrada da marca.

A Meteor é montada em Manaus em três versões, que se diferenciam apenas em relação aos acessórios e às cores. Começa com a Fireball, que custa R$ 17.990, passa pela Stellar, que sai a R$ 18.490, e chega na versão avaliada Supernova, cotada a R$ 18.990. Ela já vem equipada com para-brisa em acrílico, rodas diamantadas e pintura bicolor, que pode ser tanto azul metálico com preto, como o exemplar de teste, como também marrom metálico com preto. Ela conta também com os acessórios adicionado na intermediária Stellar, como encosto de garupa e emblema em relevo no tanque. Uma novidade da Meteor é o pequeno aparelho batizado de Tripper, que usa dados do Google Maps para fazer uma navegação através de seta, a partir de uma conexão Bluetooth com um smartphone.

                O modelo faz referência à clássica Super Meteor, uma motocicleta produzida na Inglaterra entre 1952 e 1962 especialmente para exportar para os Estados Unidos, ainda na época em que a Royal Enfield era uma marca britânica. No modelo original, o motor era bicilíndrico com 692 cm³ e 40,5 cv. O propulsor da Meteor moderna tem a metade do tamanho e da potência. Trata-se de um monocilíndrico com comando simples no cabeçote de 349 cm³, refrigerado a ar e óleo com cárter seco. Ele gera 20,2 cv de potência a 6.100 rpm e 2,75 kgfm de torque a 4 mil giros e é gerenciado por um câmbio de cinco marchas. Este conjunto apresenta um desempenho mais que adequado para lidar com os 191 kg do modelo.

                A Meteor traz uma arquitetura tradicional, mas bastante resistente. O quadro é em berço semiduplo com suspensão dianteira telescópica com 130 mm de curso e traseira bichoque com seis ajustes de pré-carga da mola com curso de . Ela tem no total 2,14 metros de comprimento, 84,5 cm de largura, 1,40 m de entre-eixos e 17 cm de distância livre para o solo, com 74,5 de altura no assento do piloto. As rodas de liga leve têm aro 19 na frente e 17 atrás, com pneus sem câmera 100/90 19 na dianteira e 140/70 17 na traseira. Os freios são a disco nas duas rodas, com 300 mm na frente, 270 atrás, gerenciados por ABS de dois canais.

                O ponto forte da Meteor – e da gama Royal Enfield em geral – é mesmo o visual clássico, aliado a um acabamento de boa qualidade e de gosto refinado. O farol redondo com aro cromado é ladeado pelos piscas fixados em hastes. O visual clássico da parte frontal é complementado pelo para-brisa acrílico, os espelhos cromados redondos e o guidão levemente curvado para cima com comandos tradicionais nos punhos apoiado em uma mesa pintada de preto fosco.

                Os instrumentos combinam a estética retrô com recursos mais modernos. A parte externa do relógio principal traz um velocímetro analógico com um grafismo simples, com marcações em km/h na cor azul e, em números menores, marcação em milhas/h, na cor branca. Na parte inferior, luzes-espia monitoram farol alto, bateria, neutro, injeção, piscas acionados, ABS etc. Na parte central, um pequeno visor de LCD redondo traz marcador de combustível, hodômetros, marcha engatada, temperatura e relógio.

                De perfil, as linhas valorizam a pegada custom do modelo, com o guidão alto, o tanque que se alinha com o banco com dois assentos individuais e em duas alturas, finalizado por um encosto de garupa almofadado. O tanque em formato de gota ganha um aspecto mais esportivo pela barra em preto na parte inferior, que o faz parecer menor do que é. Ele é capaz de comportar 15 litros de combustível – no caso, apenas gasolina ‑, o que permite uma autonomia superior a 480 km, seguindo a média de 32,3 km/l que o modelo manteve durante a avaliação. A traseira traz uma pequena lanterna redonda traz luzes de posição e de freio. Ela se projeta a partir do para-lama pintado de preto, que traz os piscas presos a hastes no limite inferior.

                A estratégia mercadológica da Royal Enfield tem tudo para ser bem-sucedida. Atuar com modelos clássicos com preços atraentes, sem cobrar pelo “valor imaterial” de uma motocicleta conceitual, vem dando bons resultados no Brasil. A fabricante conta com apenas quatro modelos em seu portfólio – além da Meteor, há a trail Himalaya, a roadster Interceptor e a cafe racer Continental GT ‑, mas já conseguiu alcançar a sétima posição no ranking de motocicletas em 2021, à frente de marcas tradicionais como Triumph, Harley-Davidson e Suzuki. Em seu primeiro mês completo de vendas, a Meteor emplacou 110 unidades, um volume respeitável para um modelo de nicho. E a tendência é que continue crescendo, conforme for ganhando a confiança do consumidor, o que vem com o tempo de mercado (Texto de Eduardo Rocha/Auto Press, fotos de Jorge Rodrigues Jorge/CZN).

 

Impressões ao pilotar

Memória viva

                A Royal Enfield Meteor 350 funciona como um túnel do tempo. Não se trata apenas do desenho, que remete imediatamente o piloto aos modelos dos anos 1950 e 1960. Apesar de a beleza ser fundamental, a questão aqui é que nada é cenográfico. Não é um modelo atual travestido de clássico, mas de uma motocicleta de concepção genuinamente antiga. O motor monocilíndrico de 349 cm³ rende apenas 20,2 cv e 2,75 kgfm, aproximadamente 60% do que um motor moderno renderia. A boa notícia aqui é que exatamente essa característica dá a esta Royal Enfield uma dinâmica similar à das motocicletas da segunda metade do século passado.

                E é nesse ponto que está o prazer em conviver com a Meteor. O motor gira lentamente, de forma marcada, algo semelhante ao motor a ar de um Fusca. As acelerações são boas, a ciclística é bem equilibrada, os assentos são macios e a rodagem é bem confortável – a suspensão é rígida como costuma ser em modelos custom, mas no asfalto liso, é extremamente agradável. E, mais importante, tem a capacidade de estampar um sorriso no rosto do condutor, como costuma acontecer com quem dirige um modelo antigo, com a tranquilidade de saber que se trata de um modelo novo, com confiabilidade mecânica.

Por conta disso, inclusive, que a Meteor traz muitos elementos modernos. Alguns respondem a demandas práticas, outros a recursos que se tornaram obrigatórios. Caso da injeção eletrônica, necessária para cumprir os índices de emissão, o ABS, que é obrigatório e mais seguro, os freios a disco, que são mais eficientes, o painel com LCD, necessário para monitorar um motor que usa eletrônica e até da partida elétrica, que adequa o modelo ao mercado atual.

                O único ponto dissonante é mesmo o Tripper, que talvez por usar o sistema do Google Maps, não conseguiu se entender com um Iphone – com smartphones com sistema operacional Android não houve problema. Mas esse detalhe não tem muita importância e nem é capaz de ofuscar a principal qualidade da Meteor, que é provocar uma profunda sensação de familiaridade. Mais que levar do ponto A para o ponto B, a Meteor leva o piloto a uma viagem no tempo.