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Carga de sofisticação

Refinamento brutal

Mitsubishi Triton evolui para atacar pontos fracos da velha L200

Jorge Beher

Autocosmos.com/Chile

Exclusivo no Brasil para Auto Press

Em outubro passado, a Mitsubishi apresentou no Brasil a nova Triton, mas trata-se, na verdade, da sexta geração da picape L200, lançada na Tailândia em meados de 2023. Mas como a representante brasileira da marca, a HPE, quer fazê-la conviver com a antiga geração, resolveu usar apenas Triton como nome comercial (no ranking de vendas, claro, os emplacamentos dos dois modelos são somados). Mesmo com esse expediente, o resultado foi uma queda do 4º lugar obtido em 2023 para 5º lugar nos últimos três meses de 2024, com vendas anuais 13% menores.

No entanto, esse resultado não pode ser imputado à qualidade do veículo, mas à parte comercial, que posiciona o modelo na parte superior do segmento, com preços entre R$ 265 mil e R$ 330 mil –, e tem uma estrutura de pós-venda um tanto precária em comparação às rivais. Essa diferença estrutural, inclusive, é uma das responsáveis pela Fiat Titano estar com um crescimento substantivo – só em dezembro, emplacou 50% mais unidades que L200/Triton.

A Triton é fruto de um desenvolvimento completamente novo. Ela cresceu 6 cm no comprimento, indo para 5,36 metros na versão de topo Katana e 5,32 m nas demais, por conta da diferença no desenho dos para-choques. Na largura há também 6 cm a mais na Katana, por conta do ressalto nos para-lamas – nas demais versão, fica em 1,87 m. A altura é de 1,80 m e o entre-eixos de 3,13 m – 13 cm a mais que na L200. A altura livre para o solo é de 22 cm, a capacidade de carga é de 1.080 e a de reboque foi elevada de 1.500 para 3.500 kg.

Em termos de design, a mudança foi dramática, com linha quadradas e uma certa dose de ousadia, que possivelmente não vai agradar a todos. O que a Mitsubishi fez foi definir dois estilos. Nas versões GLS, HPE e HPE-S, a frente é mais limpa, com dois frisos grossos em formato de C nas laterais da grade preta. Na top de linha Katana, a grade vem na cor da carroceria, os frisos são em preto e ela ganha um peito de aço bastante imponente. Nas laterais ela traz molduras nas caixas de roda. Tudo seguindo o estilo batizado de Dynamic Shield pela marca.

A proposta da Mitsubishi com as linhas frontais mais quadradas, em contraste com as da L200 (5ª geração), que são mais afiadas, foi ganhar um visual mais robusto. E isso é reforçado pelo capô mais alto e dobras bem marcadas, que dão a ideia de solidez. Para compensar essa elevação da altura na frente, os designers optaram por dividir o conjunto ótico, com luz de posição/DRL em cima, faróis no meio e luzes de neblina abaixo, uma solução muito na moda atualmente.

Faltou nessa renovação uma tampa traseira com abertura suavizada por molas ou amortecedores, para melhorar a usabilidade. Em outros aspectos, a Triton mostra boa funcionalidade, com ganchos estrategicamente posicionados e um revestimento plástico para proteger a caçamba. E também houve um incremento na capacidade volumétrica da caçamba, que ganhou 4 cm no comprimento, 8 cm na largura e 5 cm na altura.

Por dentro, a Triton também foi completamente renovada. E embora não traga o futurismo ou o luxo das novas picapes chinesas, ou a sensação poderosa e aconchegante de picapes como a Hilux, esta L200 está anos-luz à frente da atual L200 e com ergonomia atualizada, condizente com os dispositivos que carrega. O melhor é que, apesar de ser mais moderno, não comprometeu a funcionalidade. A ideia foi dar mais conforto de condução e não apenas fazer com que uma família se sinta em um SUV.

Um bom exemplo disso são os pedais mais afastados, para que o condutor tenha maior segurança no uso, mesmo se estiver usando uma bota volumosa. Os porta-copos também foram aumentados, para acomodar as novas garrafas que entraram na moda, como as térmicas. Os bancos dianteiros ficaram um pouco mais altos e tiveram o encosto redesenhado, para facilitar o acesso a objetos colocados na fileira de trás. Os bancos traseiros ficaram mais largos e confortáveis para a norma do segmento. Isso melhora a condição do modelo para atendeu ao uso familiar.

Em relação aos elementos tecnológicos, a Mitsubishi não quis apostar no minimalismo ou nos painéis panorâmicos, vistos em picapes mais recentes. Na verdade, a marca preferiu ficar com a tecnologia atual, que é bem funcional. O painel de instrumentos combina dois relógios analógicos com um grande display de LCD multifuncional no centro. O mesmo pode ser dito da tela da central multimídia, com 8 ou 9 polegadas e disposta na mesma linha do cluster, em altura.

A interface até está desatualizada, mas é intuitiva e conta com os recursos mais necessários, como GPS, espelhamento por Apple CarPlay e Android Auto, e câmeras (de ré ou 360°, dependendo da versão), mesmo que não tenham a melhor resolução. Os materiais usados são duros, por conta da condição de utilitários, mas o visual é melhor do que da L200. Mas ninguém compra uma Triton procurando o conforto de um BMW.

A nova Triton evoluiu em relação a itens de segurança. Passou, por exemplo, nos testes do Latin NCAP com cinco estrelas. De série, o modelo oferece sete airbags, sinalização de frenagem de emergência, assistência de estabilidade do reboque e assistente de subida, além dos itens obrigatórios. Já a versão Katana inclui monitor de ponto cego, sensores de estacionamento dianteiros e traseiros, controle de descida e um pacote ADAS que inclui controle de cruzeiro adaptativo, alerta de colisão com frenagem autônoma, alerta de tráfego cruzado e monitoramento de faixa.

A nova plataforma não compartilha absolutamente nada nem com a antiga L200 nem com as marcas parceiras da Mitsubishi (Nissan e Renault). Esta base é mais longa e mais larga, com um aumento de 60% na rigidez torcional e um aumento de 40% na rigidez estrutural, projetada para serviços pesados e resistência em competições de rali. A suspensão traseira ficou pouco mais refinadas, para aliar melhor capacidade de carga e conforto. No entanto, os freios a tambor traseiros foram mantidos – embora menos eficientes em geral, em determinadas situações de off-road são mais adequados.

 

Impressões ao dirigir

Evolução geracional

O motor da Triton sofreu algumas alterações em relação ao atual da L200. Trata-se basicamente do mesmo 2.4 litros diesel, mas agora com dois turbos e mais refinado, para aumentar a potência e torque – são 205 cv e 47,9 kgfm contra 190 cv e 43,9 kgfm. Ele conta com sistema de variação de abertura de válvulas MIVEC, duplo comando e sincronização por corrente, associado a uma caixa automática de seis marchas (câmbio manual apenas para venda direta). O resultado dessas mudanças é perceptível. É um motor com menos atraso nas retomadas e uma faixa de torque mais plana, para um manuseio mais equilibrado e gerenciável.

O sistema Super Select 4WD II equipado nas versões HPE-S e Katana é superlativo. Não só conta com a ajuda da vetorização de torque, mas também com os sete modos de tração, que aparecem dependendo do tipo de tração que você selecionou, seja o 4H automático, o 4H com travamento central ou o 4L com travamento central.

Para explicar de forma fácil em que tudo isso se traduz, é que a Triton é menos abrupta na partida, tem um impulso mais uniforme na faixa baixa e intermediária de rotações e permite que maior precisão no acelerador. Tudo isso deixa a condução menos exaustiva: não é preciso lutar tanto com a direção. Além disso, o chassi mais rígido deixa a picape mais estável, pois reduz a flexão desnecessária na estrutura. Isso permite um acerto mais refinado na suspensão e oferece um comportamento mais previsível.

A nova Mitsubishi Triton, como é chamada no Brasil, é um exemplo autêntico de como executar racionalmente e com precisão uma mudança geracional. A marca japonesa focou em resolveu gargalos como falta de potência, capacidade de reboque e o nível de segurança. Embora não seja nem a picape mais luxuosa nem a mais moderna, é capaz de oferecer um bom desempenho, tanto como utilitário quanto como veículo para uso familiar.