Hora do adeus
Vários modelos saíram de linha no Brasil nesta virada de ano e alguns vão deixar saudade
Poucas vezes houve um ano com tanto modelos saindo de linha quanto em 2021. E houve dois fatores fundamentais que balançaram a árvore da indústria brasileira. O primeiro foi a falta de componentes para a produção no mercado global forçou as empresas a racionalizarem sua produção. O outro foi a entrada em vigor de novas exigências da fase L7 do Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores, Proconve, do Conselho Nacional do Meio Ambiente, Conama, que entre em vigor dia 1º de janeiro. A nova norma exigiria investimentos em alguns motores e modelos que as fabricantes consideraram inviáveis.
Foi isso que empurrou para fora das linhas os modelos mais antigos. A gama de veículos oferecidos no Brasil estava realmente recheada de modelos antigos, por conta da falta de investimentos no setor, principalmente nos últimos cinco anos. Casos de Volkswagen Fox e Fiat Dobló, por exemplo, já tinham quase duas décadas de mercado. Houve também o fechamento das fábricas da Ford, que tirou de uma só vez Ka, EcoSport e também o Troller T4 do mercado, modelo que tinham um desempenho de vendas bem razoável (por Eduardo Rocha/Auto Press).
A seguir, uma lista dos modelos mais relevantes que deixaram o mercado brasileiro em 2021.
Citroën C3 e C3 Aircross – A segunda geração do hatch compacto da marca francesa chegou ao Brasil em 2012. No começo, tinha um volume de vendas em torno de 3 mil unidades mensais, mas foi perdendo fôlego até ficar em torno de 300 unidades nos últimos anos. Um novo C3 vai ser lançado em meados de 2022. Ele será diferente do modelo francês, mais simples e com um porte mais aventureiro.
A interrupção da produção do C3 foi anunciada em março de 2021, juntamente com a notícia o fim da fabricação do C3 Aircross. O modelo foi lançado em 2011 originalmente como minivan, mas logo foi travestida de SUV no Brasil. O C3 Aircross acabou virando simplesmente Aircross e que acabou se impondo na linha.
Fiat Dobló, Uno e Gran Siena – O Fiat Doblò de primeira geração, de 2001, era o modelo mais antigo em produção no Brasil. A marca italiana conseguiu algum sucesso na linha de passageiros com a criação da versão Adventure, em 2003, e passou por um face-lift em 2010, que reanimou as vendas.
Outro que sai de linha é o Grand Siena. O sedã foi lançado em 2012 em resposta ao Chevrolet Cobalt, modelo que inaugurou o subsegmento de sedãs médios-compactos, ou B+. Ele foi baseado em uma plataforma alongada da linha Palio e acabou substituindo com vantagens o Siena de primeira geração, que saiu de linha em 2015.
Por fim, o Uno deixa de ser produzido e mereceu até uma versão especial de despedida, a Ciao Uno. Esta segunda geração do Uno foi lançada em 2010, projetada em conjunto com o Fiat Panda italiano e inaugurando o conceito de design Round Square. Além do nome, pouco tinha a ver com o primeiro Uno, com o qual conviveu no mercado até 2013. Teve um face-lift em 2017, para marca a chegada do motor Firefly à gama.
Ford EcoSport e Ka – A Ford anunciou em janeiro de 2021 o fim de suas atividades como fabricante no Brasil. E com um só cajadada, acabou com o EcoSport e com a linha Ka, composta por um hatch e um sedã. O EcoSport era a segunda geração, lançada em 2012, do modelo que inventou o SUV compacto derivado de uma plataforma monobloco, em 2003. Na época, a marca estadunidense já lidava com a ideia de sair do país, mas o potencial de sucesso do projeto adiou este processo por 20 anos.
Já o Ford Ka foi a reinvenção brasileira do modelo subcompacto com design pretencioso lançado na Europa em 1996 e no Brasil em 1997. Esta primeira geração do Ka brasileiro passou por uma reforma em 2013, que ampliou o espaço no banco traseiro, mas tinha apenas duas portas. Quando renasceu, em 2014, já como compacto com quatro portas, recebeu também uma versão sedã. Era o terceiro colocado no ranking brasileiro de vendas quando saiu de linha.
Honda Civic e Fit – Modelo inaugural como fabricante da Honda no país, o Civic saiu de linha em novembro, depois de 24 anos em novembro. O modelo estava na 10ª geração e sofreu, como todos os sedãs médios, com a falta de imaginação do consumidor brasileiro, que só compra SUVs. Outro fator determinante para essa decisão é a defasagem tecnológica – causada pela defasagem econômica – entre os modelos nacionais e os vendidos nos mercados centrais. Os novos projetos não viabilizam a produção de um carro sem recursos dinâmicos e de segurança mais sofisticados. O novo Civic da 11ª geração chegará em 2022 com status e preço de importado.
O monovolume compacto Fit sofreu do mesmo mal. A nova geração, lançada na Europa e Ásia em 2019, tem tecnologias que encareceriam ainda mais o modelo no Brasil. Para substituir o modelo, a solução da marca foi recorrer à versão hatch e sedã da nova geração do City, modelo pensado para mercados emergentes asiáticos. O sucessor recebeu o motor 1.5 reformado para receber um novo cabeçote multiválvulas com injeção direta de combustível.
Nissan V-Drive – A Nissan testou a receptividade da segunda geração do Versa, importada do México, e manteve o Versa da geração anterior, rebatizado de V-Drive, como modelo de entrada. Com as dificuldades para conseguir componentes e a boa aceitação do modelo novo, o sedã produzido na fábrica de Resende perdeu a vez. Com isso, o Kicks se torna o único carro fabricado pela marca no país.
Toyota Etios – Depois de estudar por 14 anos o mercado, a Toyota finalmente decidiu lançar um segundo modelo nacional. O Etios foi lançado em 2012, mas não foi muito bem recebido. A pobreza estética e de acabamento fez as vendas patinarem por um bom tempo. Somente quanto o mercado constatou a qualidade construtiva, os volumes começaram a crescer. Neste ponto, a marca já estava se preparando para trazer a linha Yaris, mais refinada, que acabou sendo lançado em 2018. Com dois modelos no segmento de compactos, a marca decidiu reduzir a produção do Etios, que agora é produzido apenas para ser exportado para alguns países da América do Sul, e abrir espaço na fábrica de Sorocaba para a produção do Corolla Cross.
Troller T4 – A Ford comprou a Troller em 2007 com a única intenção de ser a única montadora com incentivos fiscais no Nordeste. O bloqueio durou pouco, pois o Governo logo reabriu a possibilidade de novos incentivos por lá – aproveitado na época pela FCA, hoje Stellantis, que montou uma fábrica em Goiana, Pernambuco, inaugurada em 2015. Mesmo ano que a Ford apresentou uma nova geração do Troller T4, usando como base a plataforma e motor da Ranger. O utilitário da Troller era um modelo de nicho, com vendas muito pequenas, mas havia interessados em comprar a marca da Ford para manter a fábrica em Horizontina, no Ceará, em funcionamento. A Ford, no entanto, preferiu vender apenas os edifícios e acabar com a marca.
Volkswagen Fox e Up – O Fox nasceu em 2003 para salvar o investimento mal sucedido feito pela Volkswagen. O compacto “high roof” partiu de uma plataforma simplificada do moderno Polo, que chegou ao mercado em 2002 com preço muito alto. O Fox ficou 19 anos no mercado, sempre frequentando a parte de cima no ranking dos mais vendidos. A marca alemã, no entanto, decidiu tirá-lo de linha pois queria espaço para aumentar a produção do T-Cross. Além disso, teria de mudar o motor 1.6 8 V EA111 e ainda investir em modificações para adequá-lo aos próximos padrões de emissões e segurança.
O subcompacto Up também foi resultado de um outro erro de avaliação da Volkswagen. O modelo chegou com a duríssima missão de substituir o Gol G4, que vendia nada menos que 12 mil unidades por mês. O Up era moderno, bem construído e até vendeu bem, mas não tanto quanto a Volkswagen queria. com 6 mil unidades mensais. O Up foi visto como muito caro diante de seu tamanho. A própria Volkswagen antevia problemas nesse sentido e tentou empurrar o modelo para o segmento de compacto, ao aumentar em 6 cm o comprimento do carrinho. Mas não convenceu. O modelo saiu de linha deixando um rastro de fãs.