Onix Premier mostra todas as qualidades que tornaram o compacto líder de vendas no Brasil
A General Motors vive um drama, que no Brasil toma proporções folhetinescas. Até o início da pandemia, o carro-chefe de sua marca Chevrolet, o Onix, vendia o dobro do segundo colocado, que era a versão sedã da própria linha Onix. O terceiro lugar entre disputado pelo Hyundai HB20 e pelo finado Ford Ka, que vendiam cada um cerca de 40% do total do hatch da Chevrolet. A falta de componentes forçou a GM escolher para onde destinaria os semicondutores que conseguia amealhar no mercado. Os modelos priorizados, obvio, foram os de valor mais alto, como a picape S10. O Onix, que sempre manteve uma política de preços agressiva e que tinha uma lógica de lucrar pelo alto volume, acabou sendo preterido nessa contabilidade. Para dar uma ideia, em julho o Onix não emplacou nem 1.400 unidades – a média antes da pandemia era de 20 mil/mês ‑, enquanto a S10 registrou o triplo, volume mais alto do modelo desde maio de 2015. Apesar de toda esta contingência, uma coisa fica evidente ao se analisar o Onix: todas as qualidades que fizeram ele se destacar em relação à concorrência continuam presentes: dinâmica, design, custo/benefício, custo de aquisição e tecnologia. E tudo isso aparece com maior evidência na versão mais completa do modelo, a Premier II.
Na troca de geração, promovida em novembro de 2019, a Chevrolet decidiu elevar o patamar tecnológico do modelo. Na época, era bem superior ao dos rivais, mas como sempre acontece em relação à tecnologia, os itens começaram a se popularizar – a exceção é o assistente de estacionamento automático, que apenas o Onix oferece no segmento. Alguns sistemas, como frenagem autônoma e monitor de faixa, ainda não é oferecido no Onix, mas a Chevrolet atualizou sua central multimídia para que pudesse espelhar celulares sem cabo – assim que a Fiat passou a oferecer este recurso. A pressa, nesse caso, se justifica: é o tipo de facilidade muito percebida e valorizada pelo consumidor. Outra novidade é o aplicativo de celular My Chevrolet, com diversas funções remotas, como acessar os dados do computador de bordo, ligar ou desligar o motor, travar e destravar, acionar luzes e buzina e localizar o veículo.
O hatch da Chevrolet ainda traz outros conteúdos, como seis airbags, sensor de ponto cego, alerta de colisão frontal, controle de estabilidade e tração e sensor frontais, laterais e traseiros. Ainda tem outros recursos de conforto quase obrigatórios nas versões de topo, como chave presencial para travas e ignição, ar-condicionado com controle eletrônico de temperatura, carregador de celular por indução e sensor de luminosidade. Tem ainda o sistema remoto OnStar, que oferece assistência e auxílio de emergência em caso de acidente. A tela da central multimídia em LCD passou de 7 para 8 polegadas e é sensível ao toque O sistema tem conexão Bluetooth para dois celulares simultaneamente, aplicativos Android Auto e Apple CarPlay, roteamento wi-fi para até sete aparelhos e GPS interno.
Sob o capô, há o eficiente motor 1.0 turbo de três cilindros e 12 válvulas, que oferece uma enorme agilidade ao modelo. Ele rende 116 cv de potência e 16,3/16,8 kgfm de torque, com gasolina e etanol. Ele é gerenciado por um câmbio automático de seis marchas, com um botão na alavanca para mudanças manuais sequenciais. Com ele, o modelo chega à máxima de 187 e faz de zero a 100 km/h em 10,1 segundos. O desempenho que ele oferece é um dos motivos do sucesso do modelo. Outro é o preço. A versão Premier II tem como único opcional a pintura da carroceria, que adiciona até R$ 1.600 ao preço de R$ 93.190. Ou seja: os elementos para o sucesso continuam presentes no Onix. Falta apenas a normalização da cadeia produtiva.(Texto e fotos de Eduardo Rocha/Auto Press).
Ponto a ponto
Desempenho – O motor 1.0 Turbo do Chevrolet Onix tem uma subida de giros rápida, se valendo da menor inércia oferecida em um bloco de três cilindros. Em baixas velocidades, como em uso urbano, é possível perceber um pequeno turbo lag quando se acelera suavemente, mas não há qualquer atraso quando a pressão é mais vigorosa. A potência de 116 cv, etanol ou gasolina, lida bem com os 1.118 kg do hatch compacto, mas é o torque de 16,3/16,8 kgfm já aos 2 mil giros que deixa o motor sempre cheio, oferece ganhos de velocidade de forma progressiva e homogênea e torna a condução divertida. O câmbio automático de seis marchas tem reações rápidas e interpreta bem as intenções do motorista. Segundo a marca, o zero a 100 km/h é feito em 10,1 segundos e a máxima é de 187 km. Nota 9.
Estabilidade – A configuração da suspensão do Onix é padrão para compactos, com McPherson na frente e barra de torção na traseira e traz um acerto mais firme, ao estilo europeu. Isso mantém a carroceria sob controle, mesmo em tocadas mais fortes, e tem pouca rolagem lateral nas curvas. A direção é precisa, mas o tamanho do volante é exagerado. Nota 8.
Interatividade – O Onix Premier traz um ótimo nível de conectividade. Ele traz um central multimídia com espelhamento sem fio com smartphone, roteador wi-fi para até sete aparelhos e GPS interno. O hatch ainda traz o serviço de assistência OnStar e ainda diversos itens que facilitam a vida do usuário, como chave presencial, sensor de ponto cego, monitor de pressão dos pneus e alerta de colisão, assistente de estacionamento automático e sensores frontais, laterais e traseiros, entre outros. O câmbio tem modo manual, em que as trocas são feitas através de um comutador na lateral da alavanca de marcha. A localização é pouco prática, mas permite a interação mais imediata com o trem de força. Nota 9.
Consumo – Segundo o InMetro, o Onix registrou no Programa de Etiquetagem Veicular um consumo de 10,7 e 15,1 km/l em ambiente rodoviário e 8,3 e 11,9 km/l na cidade, com etanol e gasolina. São valores rendem ao hatch notas B tanto na categoria quanto no geral. Nota 8.
Conforto – A opção da Chevrolet foi dar maior controle dinâmico ao Onix. Isso se traduz em uma suspensão com rigidez elevada, que transmite vibrações em pisos irregulares, mas oferece uma rodagem extremamente suave e neutra em pavimentos de boa qualidade. A necessidade de redução de peso acaba se refletindo diretamente no isolamento acústico, com redução de materiais fonoabsorventes e uso de vidros de menor espessura. Os bancos são ergonômicos, mas firmes, que podem até ser menos agradáveis em trajetos curtos, mas evita o cansaço em uso prolongado. Nota 7.
Tecnologia – O projeto do Onix segue conceitos bem modernos, como motor pequeno e construção com aços de alta resistência e baixo peso. A arquitetura eletrônica também é moderna, embora não seja das mais sofisticadas. Mas é suficiente para sustentar recursos como controle de estabilidade e tração, alerta de colisão, roteador wi-fi e sistema de estacionamento semiautomático, sensor de ponto cego, etc. O caso é que a tecnologia se renova com muita rapidez e muitas inovações foram apresentadas nesses pouco mais de dois anos que o Onix está no mercado. Faltam ao modelo alguns recursos ADAS, sigla para sistemas avançados de assistência ao condutor, como frenagem autônoma e controle de cruzeiro adaptativo. Em relação ao sistema My Link, a marca tratou de se atualizar e passou a oferecer espelhamento sem fio para celulares. Nota 9.
Habitabilidade – As dimensões do Onix são compatíveis com o segmento, como o entre eixos de 2,55 metros e porta-malas, que subiu dos iniciais 275 litros para os atuais 303 litros, com a adoção de estepe temporário. A maior vantagem do modelo da Chevrolet sobre os rivais é a boa largura e altura da cabine, capaz de fornecer espaço suficiente para pernas e cabeça de até cinco passageiros sem grandes sacrifícios. Nota 8.
Acabamento – Apesar de a versão Premier ser a mais equipada e cara, o Onix não transmite a ideia de requinte. O modelo tem interior com boa montagem e até traz o revestimento em couro sintético para os bancos, mas ainda sobra uma grande área coberta por plástico rígido que denuncia a falta de sofisticação. O design interno também é simples demais. Nota 7.
Design – Como costuma acontecer com os carros da Chevrolet, o Onix segue à risca os parâmetros estabelecidos pelo departamento de design. Ou seja: não há ousadias que possam provocar encantamento ou rejeição. Para um modelo projetado para vender grandes volumes, é uma atitude lógica. Ainda assim, as linhas são simpáticas e a combinação de traços orgânicos e geométricos cria um conjunto equilibrado. Nota 8.
Custo/benefício – O Chevrolet Onix Premier só tem a pintura metálica como opcional, é muito bem recheado – é o único com assistente de estacionamento automático, por exemplo – e tem preço extremamente competitivo, de R$ 93.190. O Fiat Argo HGT 1.8 AT6, que tem uma pegada esportiva, mas conteúdo semelhante, vai a R$ 104.660. O Toyota Yaris XLS Connect é menos recheado, mas sai a R$ 100.290. O Volkswagen Polo Highline 200TSI, também menos completo, sai a R$ 100.990. Um hatch compacto que tem preço menor é o Hyundai HB20 Diamond, que custa R$ 89.090 e tem até frenagem autônoma, mas é bem menos equipado. Essa lógica agressiva de preços perpassa toda a gama do modelo e é por isso que, quando tinha modelos disponíveis, emplacava o dobro do segundo colocado no ranking. Nota 9.
Total – O Chevrolet Onix Premier II somou 82 pontos em 100 possíveis.
Impressões ao dirigir
Boas relações
O Chevrolet Onix com motor 1.0 Turbo é um carro ágil, rápido e muito divertido. E essa dinâmica se deve, basicamente, à boa relação peso/potência, de exatos 9,63 kg. Esse índice não dá uma personalidade esportiva ao modelo – o valor consagrado para essa classificação é abaixo de 8 kg/cv. O propulsor flex rende 116 cv e 16,3/16,8 kgfm, torque que fica disponível em praticamente toda a faixa útil de giros. Arrancadas e retomadas são vigorosas e o câmbio de seis marchas tem relações bem escalonadas que mantém o ritmo e não deixa buracos entre as marchas.
O motor tem dois pontos que não agradam, embora não sejam tão relevantes. O primeiro é um certo turbo lag que é percebido em baixos giros quando se usa o carro de forma suave. Quando se exige mais do modelo, e se mantém os giros mais altos, o hiato desaparece. O outro é que ele trabalha de forma áspera, sem refinamento, e tem um ponto de vibração por volta de 4 mil giros.
Por dentro, o Onix Premier tem muitos recursos de conforto e tecnologia. O sistema multimídia é bem amigável com smartphones e faz espelhamento sem o uso de cabo. Tem ainda GPS interno e roteador para até sete aparelhos e ainda conta com o aplicativo MyChevrolet, que permite o acesso remoto a diversas funções. O modelo traz ainda ar automático, sensores de obstáculos dianteiros, laterais e traseiros, sistema de estacionamento semiautomático, roteador wi-fi, sensor de ponto cego e chave presencial para travas e ignição.
Falta ao modelo, porém, um pouco de requinte. Os materiais de revestimento, mesmo na configuração mais alta da gama, não são convincentes. Mesmo o couro sintético dos bancos carece de uma certa sofisticação. Em compensação, o Onix leva uma boa vantagem sobre os rivais no país na relação custo/benefício.