Chevrolet S-1o High Country alia bom conteúdo e custo/benefício para manter a S10 na briga
O mercado de picapes cresceu de forma acentuada desde que o coronavírus invadiu o cotidiano dos brasileiros, com uma alta média de 21,4% em 2021 ‑ maior até que os SUVs, que cresceram 19,4%. Só que o segmento de picapes médias vem ficando fora dessa festa e estão com níveis de venda bem próximos à média de 2020, um ano reconhecidamente ruim. Mesmo assim, as marcas estão sempre investindo em seus representantes, com atualizações de visual e de conteúdo. O motivo são as ótimas margens oferecidas por modelos que começam em R$ 160 mil e vão até os R$ 290 mil. Por outro lado, são exatamente estes preços que acabam desmotivando os consumidores. Já a Chevrolet vem usando uma tática diferente em relação à S10. O modelo passou por um face-lift há um ano, em que mudou discretamente o visual da frente, além de melhorias no motor e na estrutura. E mesmo assim, é atualmente a picape média com o melhor custo/benefício do mercado. E essa lógica vale inclusive para a versão topo de gama, High Country, custa R$ 248.790 – R$ 250.660 com pintura metálica, único opcional disponível. Isso é cerca de R$ 20 mil a menos que a Toyota Hilux SRX e a Ford Ranger Limited, as versões mais completas das principais rivais.
Na linha 2021, o modelo ganhou um visual discretamente alterado. As mudanças ficaram restritas a para-choque frontal e grade. A nova frente manteve o conceito de dividir a grade horizontalmente, mas por duas barras paralelas em preto brilhante, com a palavra chevrolet encaixada entre elas. O logo da gravatinha ficou menor e foi deslocado para o lado esquerdo da grade. No caso da unidade avaliada, na cor azul escuro, ou Azul Eclipse, o conjunto ficou com uma estética bem malvada. Já em relação a conteúdo, a High Country é bem completa. Conta agora com sistema de frenagem autônoma de emergência, que se juntou a recursos já existentes como alerta de colisão, monitor de faixa e controle de estabilidade e tração. A frenagem autônoma usa uma câmera instalada no para-brisas para detectar obstáculos e pedestres em situações de acidente iminente e pode evitar colisões ou, pelo menos, mitigar os danos em colisões entre 8 e 80 km/h. E também pode acionar o assistente de frenagem, quando identificar que o motorista não utilizou toda a capacidade dos freios. Na parte estrutural, o modelo ganhou um reforço que aumentou em 20% a resistência da cabine a impactos e agora traz também seis airbags de série.
Na parte de conforto, o modelo ganhou a versão mais evoluída do sistema multimídia MyLink, com wi-fi 4G que roteia até sete aparelhos e conta com uma antena com capacidade de captação de sinal até 12 vezes maior que um celular comum. O sistema também passou a espelhar celulares sem conexão por cabo, através dos aplicativos Apple CarPlay e Android Auto. No mais, o modelo manteve o bom nível de equipamentos: revestimento interno em couro sintético, direção, travas, espelhos e vidros elétricos, ar-condicionado automático, banco elétricos para o motorista, controle de cruzeiro, sensores de chuva, de luz e de obstáculos dianteiros e traseiros, câmera de ré e rodas de liga leve aro 18, entre outros. As únicas ausências sentidas foram ajuste de profundidade do volante, controle de cruzeiro adaptativo e chave presencial – itens presentes nos rivais.
Na parte mecânica, a mudança foi no turbo do motor diesel. Ele passa usar uma turbina menor, igual à usada na picape média Chevrolet Colorado, vendida no mercado estadunidense. Por ser mais leve, tem inércia menor, o que reduz o turbo lag e proporciona ganhos de velocidade mais consistentes. O propulsor de 2.8 litros manteve os 200 cv de potência, com 51 kgfm de torque, mas o zero a 100 caiu de 10,3 para 10,1 segundos no modelo com transmissão automática. As mudanças tiveram o objetivo de dar um fôlego adicional para o modelo chegar bem até 2023, quando deve ser lançada a terceira geração nacional do modelo. Afina, é um modelo lucrativo e importante para a General Motors do Brasil. A ponto de ter sido poupada na crise de componentes, que tem provocado paralisações de diversas linhas da fabricante no Brasil, e ter mantido os mesmos volumes de 2020, um pouco acima de 2 mil veículos. (Texto e Fotos: Eduardo Rocha/Carta Z Notícias)
Ponto a ponto
Desempenho – As mudanças no motor 2.8 litros turbodiesel deixaram as acelerações mais suaves e progressivas. O propulsor de 200 cv e 51 kgfm se entende bem com o câmbio automático de seis marchas e não toma muito conhecimento das mais de duas toneladas da picape, que se movimenta com bastante agilidade. A aceleração em 10,1 segundos mostra isso muito bem. Mas o melhor no comportamento dinâmico da S10 é a força que oferece em giros muito baixos, antes mesmo do regime de torque máximo, que é aos 2 mil giros. Essa característica facilita a superação de obstáculos e dá aumenta a capacidade off-road do modelo. Nota 9.
Estabilidade – É uma picape alta, com amortecedores de longo curso e capaz de absorver o impacto de buracos de grande porte. Não se pode esperar um comportamento neutro nas curvas, em velocidades mais altas ou por conta das ondulações das pistas. O comportamento melhora em relações às outras versões por conta dos pneus, de perfil mais baixo, que ajudam a reduzir a rolagem lateral. De qualquer forma, a suspensão macia oferece um grande conforto de rodagem. Nota 8.
Interatividade – Embora a S10 já fosse bastante amigável, ela ganhou alguns recursos a mais nessa renovação. Em relação à condução semiautônoma, conta agora com frenagem automática. A central multimídia MyLink com tela sensível ao toque ganhou integração sem cabo com Android Auto e Apple CarPlay. O volante multifuncional, câmera de ré, sensores dianteiros e traseiros e a transmissão automática facilitam a vida do motorista – principalmente nos grandes centros urbanos. Nota 8.
Consumo – No Programa de Etiquetagem do InMetro, a S10 2.8 Diesel High Country 4X4 Automática teve médias de 8,7 km/l na cidade e 10,6 km/l na estrada. Apesar de ser um resultado que rendeu notas ruins, C na categoria e nota D no geral, é semelhante ao consumo de Nissan Frontier, Ford Ranger e Toyota Hilux e bem superior ao da Volkswagen Amarok. Esse nível de consumo torna o tanque de 76 litros bastante suficiente, pois permite uma autonomia de até 800 km. Nota 6.
Conforto – Além de um espaço interno invejável, a S10 roda com maciez e silêncio. A boa ergonomia dos bancos, com uma postura mais ereta para ocupante, aproveita a boa altura da cabine e permite que mesmo viagens mais longas sejam pouco cansativas. A suspensão absorve completamente as irregularidades menos intensas e consegue filtrar boa parte dos solavancos maiores para a cabine. Nota 9.
Tecnologia – A S-10 High Country ganhou frenagem autônoma de emergência, mas já trazia uma boa dose de tecnologia com alerta de colisão frontal e de saída de faixa, assistente de partida em rampa, controle eletrônico de estabilidade e tração, faróis e lanternas em led, central multimídia com conexão com celular sem cabo, etc. Também conta com o sistema de assistência remota OnStar. A estrutura já sente um pouco o peso da idade – uma nova geração deve chegar em 2023 –, mas ainda respondem bem às demandas do segmento. Nota 7.
Habitabilidade – Há diversos porta-trecos no interior do veículo. O acesso ao habitáculo é favorecido pelas grandes portas, mas é bastante prejudicado pela altura excessiva do piso do modelo. Menos mal que há estribos laterais e alças de apoio para subir a bordo até para o motorista – caso contrário, seria preciso de apoiar no volante, o que não é muito indicado. A espaço para carga é grande e permite transportar muita coisa, mas poderia ter uma divisão para desempenhar melhor o papel de porta-malas, evitando que cargas menores – como malas ou compras – ficassem solta e pararem no fundo da caçamba. Nota 8.
Acabamento – A S10 High Cuntry é a expressão do que a picape tem de melhor para oferecer. E o acabamento reflete bem isso. Os bancos e o console frontal são revestidos em couro, as guarnições internas trazem detalhes em cromado. Além disso, os detalhes são bem cuidados, os materiais são de boa qualidade e tudo parece pronto a enfrentar uma vida mais dura no campo. Não fica devendo nada a versões de topo de SUVs de marcas generalistas. Nota 8.
Design – O porte da S10 sempre foi imponente e o face-lift, mexeu em uma parte muito pequena da frente, mas mudou efetivamente a cara do modelo. Detalhes como capa de retrovisores em cromado, grade com barra em preto brilhante com a logomarca deslocada e o santantônio revestido e pintado da cor da carroceria incrementam o estilo do modelo. No mais, a S10 tem linhas clássicas, sem grandes ousadias, mas também sem qualquer aspecto que cause rejeição. Nota 7.
Custo/benefício – A S10 High Country 2.8 Diesel 4X4 Automática está cotada a R$ 248.760. Mais de R$ 20 mil a menos que a Ranger Limited, que custa R$ 279.900, que tem a mais o controle de cruzeiro adaptativo. Mesmo recurso adicional que traz a Toyota Hilux SRX 4X4, que custa R$ 276.490. A Nissan Frontier custa R$ 261.690 e tem a mais que a S10 o sistema de câmeras 360º e o teto solar. Por fim, a Volkswagen Amarok sai por R$ 291.470, tem nível de equipamento semelhante ao da S10, mas tem um motor V6 de 258 cv. A Chevrolet S10 acaba com o melhor custo/benefício do segmento. Nota 8.
Total – A Chevrolet S10 High Country 2.8 Diesel 4X4 Automática somou 78 pontos em 100 possíveis.
Impressões ao dirigir
Charme agreste
A S10 High Country foi criada em 2015 para consolidar uma percepção dos consumidores do mundo do agronegócio, que enxergar a picape da Chevrolet como robusto e produtivo, mas capaz de oferecer luxo e conforto. Esse conceito é dominante no segmento de picapes médias e os modelos com mais conteúdo respondem pela maior parte das vendas. Nesses seis anos, a High Country veio se modernizando para acompanhar as demandas do mercado. Na última atualização, ganhou roteador wifi, espelhamento sem cabo, frenagem autônoma e um motor turbo mais ágil, com um turbo lag bem menor.
O motor 2.8 litros turbo diesel de 200 cv e 51 kgfm redondos oferece um desempenho que impressiona. Nem tanto pelos ganhos de velocidade, mas pelo poder e a força que ele exibe o tempo todo. Com o sistema de tração engatado, os movimentos ficam ainda mais pesados, mas a sensação é que a S10 é imparável. Na terra e no campo, pode-se explorar bem as capacidades da picape. Na cidade, ao contrário, ela fica meio desajeitada e é difícil de lidar. Sem recursos como sensores de obstáculos e câmera de ré, estacionar vira um desafio. Por conta dos mecanismos da tração dianteira, o esterçamento das rodas é bem limitado.
Na estrada, seja asfalto ou terra, é possível explorar o poderio da S10. O luxo do revestimento em couro é acompanhado por um nível de conforto elevado tanto pela ergonomia quanto pelo trabalho das suspensões. O acerto é para tornar a picape a mais amigável possível em caminho pouco amistosos. Isso cobra um preço: a direção é imprecisa e as curvas provocam rolagem acentuadas de carroceria. Nada muito alarmante, a ponto de acionar os sistemas de assistência à condução.
O volante multifuncional é bem completo e permite acessar inúmeras funções do modelo, enquanto a navegação do computador é feita através de uma haste no volante. O banco do motorista bem regulagens elétricas, mas falta ajuste de profundidade no volante. Além disso, espaço interno generoso, que permite até uma certa movimentação dentro da cabine.
Ficha técnica
Chevrolet S10 High Country 2.8 Turbo 4X4 Automática
Motor: Diesel, dianteiro, longitudinal, 2.776 cm³, turbinado com intercooler, com quatro cilindros em linha e 16 válvulas e injeção direta de combustível.
Potência máxima: 200 cv a 3.600 rpm.
Aceleração 0-100 km/h: 10,1 segundos.
Torque máximo: 51 kgfm a 2 mil.
Diâmetro e curso: 94 mm X 100 mm. Taxa de compressão: 16,5:1
Transmissão: Câmbio automático de seis marchas à frente e uma a ré. Possui controle de tração. Tração 4X2 com 4X4 e 4X4 com reduzida, controlada por seletor eletrônico rotatório.
Velocidade máxima: 180 km/h.
Suspensão: Dianteira independente com braços articulados, molas helicoidais, barra estabilizadora e amortecedores telescópicos hidráulicos pressurizados. Traseira com feixe de molas semielípticas de dois estágios e amortecedores hidráulicos e pressurizados. Oferece controle de estabilidade.
Pneus: 265/60 R18.
Freios: Dianteiros por discos ventilados e traseiros a tambor. ABS com EBD de série.
Carroceria: Picape cabine dupla montada sobre longarinas com quatro portas e cinco lugares. 5,41 metros de comprimento, 1,87 m de largura, 1,78 m de altura e 3,10 m de distância entre-eixos. Oferece airbags frontais de série.
Peso: 2.042 kg.
Capacidade de carga: 1.108 kg.
Tanque de combustível: 76 litros.
Produção: São José dos Campos, Brasil.
Lançamento da geração no Brasil: 2012.
Face-lift: 2015 e 2020.
Preço: R$ 248.490.