Bem traçadas linhas
Na versão Impetus, Fiat Fastback se equilibra entre conteúdo e preço, mas tem o visual como principal ponto de atração
por Eduardo Rocha
Auto Press
A rivalidade entre a Fiat e a Volkswagen nasceu no Brasil antes mesmo da fábrica de Betim ter sido implantada, em meados dos anos 1970. O modelo 147 foi desenvolvido especificamente para enfrentar a hegemonia do Fusca no mercado nacional. Nesses quase 50 anos de disputa, uma sempre serviu de referência para a outra. A briga sempre foi mais acirrada entre os compactos. Uno versus Gol, Palio versus Polo, Strada versus Saveiro, Weekend versus Parati… Agora, na era dos SUVs/crossovers, a briga nos segmentos compactos foi reavivada com T-Cross, Nivus, Pulse e Fastback. Só que a coisa se inverteu. Na Volkswagen, o hatch deu origem ao cupê Nivus, enquanto na Fiat foi o sedã Cronos que serviu de base para o Fastback.
O posicionamento dos modelos também é diferente. O cupê da marca alemã fica na base do segmento de SUV enquanto o da Fiat fica na parte mais alta. Tanto que o Nivus de topo, Highline, se alinha à configuração intermediária do Fastback, a versão Impetus avaliada, que é orçada em R$ 149.980, ou 3% acima do valor do rival – a de topo, Limited, custa R$ 13 mil a mais. Mesmo mais caro, o Fastback tem obtido um volume de emplacamentos respeitável, próximo a 2.800 unidades por mês unidade, contra 3.400 do Nivus. Em relação ao tamanho, o Fastback leva vantagem: é 16 cm mais comprido, com 4,43 metros, apesar de ter um entre-eixos 3,3 cm menor, com 2,53 m.
Sob o capô, o Fastback traz o bom motor GSE 1.0 turbo de três cilindros, que rende de 125 a 130 cv, dependendo da proporção de gasolina e etanol, mas sempre com 20,4 kgfm – ou 200 Newton metro, número que aparece na tampa traseira. Ele é gerenciado por um câmbio CVT da japonesa Aisin, com sete relações pré-programadas e pode ser manipulado via paddle shifts no volante. A tração é dianteira e o modelo conta com o mesmo sistema de controle de tração TC+ usada no Jeep e no Pulse, que é capaz de usar o módulo de ABS para bloquear a ação do diferencial e frear isoladamente uma roda sem aderência. Embora não o torne um SUV raiz, esse recurso permite leves incursões aventureiras.
O Fastback tem um ajuste de suspensão levemente esportivo em todas as versões. Trata-se de acerto que não comprometesse o conforto, até pela proposta mais familiar do modelo, bem explicitada pelo porta-malas agigantado, que comporta 600 litros de carga (1.087 litros com a segunda fileira rebatida). O crossover pode ser classificado como um GT, com fôlego para viagens longas. Os números também são compatíveis com a proposta. A aceleração de zero a 100 km/h é feita entre 9,4 e 9,7 segundos, dependendo da proporção de etanol e gasolina no tanque, com máxima de 190/193 km/h. Já o consumo é razoável com gasolina e sofrível com etanol. Segundo o InMetro, as médias são de 8,1 e 11,6 km/l na cidade e 9,7 e 13,9 km/l em estrada, com etanol e gasolina – uma diferença de 40% entre os combustíveis.
Em relação ao conteúdo, o Fastback vem com boa parte do arsenal disponível nos carros da Stellantis e entrega praticamente tudo o que está disponível na versão de topo. Ele conta com ar digital, revestimento em couro nos bancos, painel de instrumentos digital de 7 polegadas e central multimídia com tela de 10,1 polegadas com Apple CarPlay e Android Auto com espelhamento sem fio e carregador por indução, freio de estacionamento elétrico com acionamento eletrônico e chave presencial para travas e ignição, com botão de partida.
Na parte de segurança, são quatro airbags, frenagem autônoma de emergência, alerta de mudança de faixa, farol alto automático, sensores dianteiros e traseiros, câmera de ré, e lanternas full led – além de controle de estabilidade e tração e ABS com assistência de partida em rampa. Ficou devendo os airbags de cabeça e o controle de cruzeiro adaptativo (Textos e fotos de Eduardo Rocha, Auto Press).
Ponto a ponto
Desempenho – O motor 1.0 Turbo de três cilindros lida bem com o Fastback e consegue movimentar com facilidade os 1.262 kg do modelo, se valendo dos 125/130 cv de potência e do torque de 20,4 kgfm, com gasolina e etanol. O conjunto não chega a oferece um comportamento esportivo, ainda mais por conta do gerenciamento do câmbio CVT, que mostrou pouca rapidez em solicitações mais imediatas. Arrancadas, retomadas e ultrapassagens são feitas com vigor e não há sensação de falta de potência em nenhuma faixa de giro e mostra boa agilidade no trânsito urbano. Nota 8.
Estabilidade – O Fiat Fastback traz, desde as versões com motor 1.0 turbo, uma suspensão com um acerto mais firme, europeu. O Impetus apresenta um comportamento neutro em velocidades mais altas, tanto em retas quando no contorno de curvas. As rodas aro 18 com pneus 215/45 agarram bem no asfalto e a impressão de quem conduz é que o Fastback tem uma altura menor que o 1,55 m da ficha técnica. A direção progressiva tem um peso agradável e é precisa e comunicativa. Nota 7.
Interatividade – O Fastback tem bons recursos de interação com o condutor, como paddle shift no volante, painel digital de 7 polegadas e central multimídia com tela de 10,1 polegadas, espelhamento sem cabo e carregador por indução. Já em recursos avançados de assistência à condução, traz somente alerta de colisão com frenagem autônoma, monitor de faixa e farol alto automático. Tem ainda sensor de luz, de chuva e de obstáculos dianteiro e traseiro e câmera de ré. Os comandos são bem localizados e bastante familiar para quem conhece algum modelo mais recente da Fiat. Nota 9.
Consumo – De acordo com o Inmetro, o Fiat Fastback Impetus 200 turbo registrou médias de 8,1/9,7 km/l com etanol e 11,3/13,9 km/l com gasolina, na cidade/estrada. Chama a atenção a grande diferença de rendimento de 40% entre etanol e gasolina. Fica bem mais caro ser corretamente ecológico. Além disso, quase não há diferença entre estes valores e os obtidos pela versão Limited, que usa o motor T270. Ainda assim, este consumo rendeu notas B na categoria e no geral. Nota 8.
Conforto – A suspensão do Fastback foi configurada para controlar a carroceria sem comprometer o conforto. E obtém bom resultado em asfalto liso. O conjunto conta com rodas de aro 18 e pneus 215/45, com 9,7 cm de flanco, que evitam as rolagens nas curvas. Embora não seja macio, o Fastback tem boa capacidade de filtragem das irregularidades. Os bancos são bem moldados e dão bom suporte ao corpo em uso mais demorado. O isolamento acústico é bem eficiente. Nota 7.
Tecnologia –O Fastback foi desenvolvido a partir da versão da plataforma MLA usada no sedã Cronos. Na origem, porém, a base é a usada no extinto Punto, mas nessa evolução passou a usar mais aços especiais, o que aumentou a rigidez e reduziu a transferência de ruídos e vibrações. O resultado é a sensação de solidez que sente quem conduz o crossover da Fiat. O motor 1.0 turbo é conceitualmente moderno e trabalha bem com o câmbio CVT de sete relações pré-programadas. O modelo tem sensores de luz, chuva e obstáculos, central multimídia versátil, painel digital e uns poucos recursos ADAS. Faltam também airbags de cabeça. Nota 8.
Habitabilidade – A altura elevada do teto cria um habitáculo espaçoso e aconchegante. Na frente, os ocupantes contam com um excelente espaço de movimentação e atrás há boa área para as pernas no sem ter de contar com a boa vontade de quem vai à frente. Como um crossover familiar, deveria oferecer mais porta-objetos Além do porta-copos e do nicho do carregador por indução, à frente do câmbio, há apenas os bolsões nas portas e o espaço sob o apoio de braços central. O porta-malas oferece generosos 600 litros de capacidade – comparável aos de minivans. Nota 9.
Acabamento – A Fiat tem conseguido criar um ambiente agradável através de revestimentos com visual e textura agradáveis. Não se trata de materiais nobres ou caros e os plásticos rígidos estão presentes, mas recebem um tratamento estético e tátil que valoriza o conjunto. O design geral também é de bom gosto. Nota 8.
Design – Os designers da Stellantis se basearam no conceito Fastback, mostrado no Salão de São Paulo de 2018. Só que em vez de usar a Toro como base, como ocorreu no conceito, deviam usar o Cronos como base. As portas do Fastback são as mesmas do sedã compacto – o que significa dizer que toda a estrutura interna da carroceria se manteve. O desenho é atraente e tem muita personalidade, mesmo que a silhueta tenha uma evidente inspiração no BMW 3 GT – que é um bom modelo para servir de referência. A cor Cinza Silverstone da unidade de teste não valoriza as linhas – como, aliás, toda a paleta da gama, composta ainda por Preto, Branco, Prata e só. Nota 8.
Custo/benefício – Embora tenha alguma similaridade de conceito com o Volkswagen Nivus, o Fastback Impetus só é equivalente em motorização. O modelo da Fiat é bem mais encorpado, mas é menos equipado e ligeiramente mais caro. A unidade testada, com pintura metálica, custa R$ 149.980. Um Nivus Highline, também com pintura metálica, fica em R$ 145.340 e conta com controle de cruzeiro adaptativo e dois airbags a mais que o crossover da Fiat. Nota 6.
Total – O Fiat Fastback Impetus somou 78 pontos em 100 possíveis.
Impressões ao dirigir
Força visual
A traseira é a primeira coisa que chama a atenção ao se vislumbrar o Fiat Fastback. E pode ser classificada como exuberante ou exagerada, dependendo da simpatia de quem olha. Mas gostando ou não, é preciso reconhecer que ela dá uma personalidade marcante ao modelo. Juntamente com a boa altura do modelo, de 1,55 metro, o Fastback impressiona pelo porte, apesar de ser um crossover compacto na origem.
No interior, o Fastback é espaçoso, sensação ampliada pela altura do teto – embora a forração em preto seja um pouco opressora. Os bancos são bastante ergonômicos, mas poderiam ser um pouco mais macios. A área destinada a pernas e cabeça é generosa, mesmo para quem vai atrás. Já em relação.ao espaço transversal, a plataforma compacta se faz sentir. Em trajetos mais longos, há até espaço para dois adultos e uma criança – três adultos ficariam um tanto íntimos –, mas o ideal é mesmo dois ocupantes.
Em movimento, o Fastback não é macio. Não se trata de um carro feito apenas para asfalto liso, mas é muito mais confortável em pavimentos de boa qualidade. Neste ponto, está mesmo mais para um GT que para um SUV. O resultado, no entanto, é bom. O crossover cupê é bem-equilibrado e se mostra neutro mesmo em velocidades mais altas. Além disso, mantém sempre uma boa comunicação entre rodas e volante.
O isolamento acústico é adequado e só se ouve o motor nos giros mais altos. Isso ajuda a melhorar ainda mais a qualidade de vida a bordo. O modelo oferece ainda uma central multimídia de tela generosa e bom recursos de conectividade. O modelo conta com sensores de obstáculos dianteiros e traseiros, câmera de ré, painel digital, alerta de colisão com frenagem autônoma e monitoramento de faixa.
Já o motor 1.0 turbo, de 125/130 cv, é suficiente para um desempenho digno do Fastback. Ele oferece boas acelerações desde a arrancada e retomadas sem vacilos. Isso porque o câmbio CVT tem uma programação refinada, que permite que as relações fiquem bem curtas sem patinação. Com isso, evitam o famigerado Efeito Scooter, aquela sensação que veículo não anda, apesar de o motor subir de giro. Infelizmente, não inventaram ainda um antídoto para eliminar completamente o turbo lag nas acelerações mais abruptas, mas no caso do Fastback não chega a ser irritante.
Ficha técnica
Fiat Fastback Impetus T200 AT6
Motor: Gasolina/etanol, transversal, dianteiro, com 999 cm³, sobrealimentado por turbo, três cilindros em linha, quatro válvulas por cilindro, eixo de comando simples no cabeçote e injeção eletrônica multiponto.
Transmissão: Automático continuamente variável, CVT, com sete relações pré-programadas à frente e uma à ré. Tração dianteira com sistema de tração TC+.
Potência: 125 cv a 130 cv, com gasolina e etanol, a 5.750 rpm.
Torque: 20,4 kgfm, com gasolina ou etanol, a 1.750 rpm.
Diâmetro X Curso: 70,0 X 86,5 mm.
Taxa de compressão: 10,5:1.
Aceleração 0-100 km/h: 9,7/9,4 segundos com gasolina/etanol.
Velocidade máxima: 190/193 km/h com gasolina/etanol.
Suspensão: Dianteira independente do tipo McPherson, braços oscilantes inferiores com barra estabilizadora, amortecedores hidráulicos e pressurizados de duplo efeito e molas helicoidais. Traseira por eixo de torção com fixação central com molas helicoidais e amortecedores de duplo efeito. Oferece controle eletrônico de estabilidade de série.
Pneus: 215/45 R18.
Freios: Discos ventilados na frente e a tambor atrás. Oferece ABS com EBD. Alerta de colisão com frenagem autônoma
Carroceria: Crossover cupê em monobloco, com quatro portas e cinco lugares. Comprimento de 4,43 metros com 1,77 m de largura, 1,55 m de altura e 2,53 m de entre-eixos. Possui airbags frontais, laterais e de cabeça de série.
Peso: 1.262 kg.
Capacidade do porta-malas: 600 litros expansível para 1.087 litros com a segunda fileira rebatida.
Tanque de combustível: 47 litros.
Lançamento no Brasil: 2022.
Produção: Betim, Minas Gerais.
Preço: R$ 147.990.
Preço da unidade avaliada: R$ 149.980.