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Mobi deixa de ser básico

Questão de oportunidade

Fiat Mobi Trekking fica mais econômico, mas perde no custo/benefício

                Não é correta a afirmação de que, em chinês, há uma só palavra para definir as palavras crise e oportunidade – a primeira é “wei ji” e a segunda, “ji huì”. Mas é certo que, no universo capitalista, estas ideias se igualam em muitos momentos. Por exemplo: a crise de fornecimento de semicondutores na indústria automobilística criou uma fila de espera pelos modelos, que foi vista como uma oportunidade para as fabricantes passarem a disponibilizar apenas as versões mais caras de seus modelos, nas quais a margem de lucro é maior.

                Esse movimento ficou muito claro em relação ao subcompacto Fiat Mobi. Quando chegou ao mercado, em abril de 2016, oferecia nada menos que seis versões, a partir de R$ 31.900, ou US$ 9.011, sendo a mais cara a Way, por 43.800, ou US$ 12.300 na época. Atualmente, há apenas duas versões, sendo a mais barata a Like, por iniciais R$ 63.390, e a mais cara a Trekking, herdeira direta da Way, por R$ 66.390, ou cerca de US$ 12.900. Um detalhe nesta comparação: o modelo não teve um grande aumento direto de preço, mas perdeu diversos itens de série e acabou encarecendo o modelo.

                Caso de equipamentos como faróis de neblina, rodas de liga leve, volante com regulagem de altura, comando interno abertura porta mala e tanque de combustível, retrovisores externos elétricos com tilt down e repetidores de seta agora compõem um pacote de opcionais chamado Pack Top, que adiciona R$ 3.800 (ou US$ 740) ao preço final. Ou seja: para ter um Mobi Trekking com o mesmo nível de equipamentos do Mobi Way é preciso desembolsar US$ 1.340 ou 11% a mais que em 2016. Pelo menos, na linha 2023, o modelo pode receber o Pack Safety, atrelado à compra do Pack Top. Por R$ 700 (ou US$ 135), inclui assistente de partida em aclive e controle de estabilidade, equipamento que será obrigatório a partir de 2024.

                Mesmo sem os opcionais, a função do Mobi mudou. Não é mais um carro pensado para ser o mais barato possível, como era encarado no momento que entrou no mercado. Tanto que chega com só é vendido com equipamentos relevantes como ar-condicionado, direção hidráulica, travas e vidros dianteiros elétricos, monitor de pressão dos pneus e computador de bordo.

                Além disso, a marca procura valorizar o charme e a praticidade para o uso urbano. No caso da versão Trekking, ainda adiciona central Multimídia de 7 polegadas com espelhamento sem fio para Android Auto e Apple CarPlay e um visual esportivo aventureiro, que valorizam o modelo. São faixas decorativas nas laterais, no capô, na tampa traseira e até um detalhe no teto. Por dentro, a decoração dos bancos de tecido com pespontos em branco é o único detalhe que diferencia a versão.

                Para a linha 2022, o modelo passou por algumas alterações no velho motor Fire 1.0, que teve de se adaptar aos padrões de emissões do Proconve L7. Foram para o sacrifício 2 cv quando se usa gasolina e 1 cv quando o abastecimento é com etanol, indo para 71 e 74 cv, respectivamente. Com ambos os combustíveis, o torque ficou 0,2 kgfm menor, com 9,3 e 9,7 kgfm, sempre a 3.250 rpm. Para que esta perda não fosse ainda maior, a taxa de compressão foi elevada de 12,1:1 para 13,0:1. As mudanças deixaram o motor um pouco áspero, mas também mais econômico.

                O menor modelo vendido pela Fiat vem apresentando um desempenho de mercado bastante satisfatório para a marca. Nos cinco primeiros meses de 2022, o Mobi emplacou, em média, 5.300 unidades mensais – pouco mais da metade, 54%, em venda direta. No ranking, ele aparece com 4º modelo mais vendido do país e na marca só vendeu menos que a picape Strada no período. Apesar da piora na relação custo/benefício, o Mobi ainda está entre os modelos mais baratos do mercado brasileiro (Texto e fotos de Eduardo Rocha, Auto Press).

Ponto a ponto

Desempenho – O motor Fire1.0, com 71/74 cv e torque de 9,3/9,7 kgfm, com gasolina/etanol, consegue dar agilidade ao pequeno Mobi. Apesar de a relação peso/potência não impressionar – 13,1 kg/cv na melhor das hipóteses –, o fato de pesar apenas 969 kg traz uma inércia menor, o que garante boas arrancadas até os 50, 60 km/h. A partir daí, a baixa potência do motor se faz sentir. Tanto que zero a 100 km/h é feito em demorados 14,4 segundos. Para a proposta de modelo urbano, o comportamento do subcompacto é decente. Nota 7.

Estabilidade – O Mobi Trekking tem 1,55 metro de altura e 17,5 cm de vão livre para o solo. Ou seja: é altinho e não tem mesmo qualquer aspiração esportiva. Por isso, não é muito sábio levá-lo ao limite. Nas curvas de raio curto, há uma acentuada rolagem da carroceria. Os pneus com apenas 175 mm de largura também não oferecem um grande apoio. Em suma: é um carro urbano e se comporta de acordo. Nota 7.

Interatividade – A versão testada do Trekking traz central multimídia com espelhamento sem fio, volante multifuncional e sensores de obstáculos traseiros – vendido como acessório por R$ 393. Os demais comandos e são fáceis de acessar e são bem intuitivos. Como se trata de um subcompacto, lidar com ele em espaços estreitos e vagas apertadas não é um problema. Nota 8.

Consumo – Segundo o InMetro, na cidade, o Mobi Trekking consome 8,9/10,0 km/l na cidade/estrada com etanol e 13,0/14,1 km/l nas mesmas condições com gasolina, o que valeu um índice B no geral e D na categoria. Nada que possa orgulhar a fabricante Nota 7.

Conforto – A suspensão filtra bem as irregularidades do piso e o isolamento sonoro do habitáculo eficiente. O maior problema do subcompacto é mesmo a falta de espaço interno. Com dois passageiros é bastante confortável, mas por ser tão curto – o entre-eixos é de 2,30 metros ‑ ele é mais apropriado para dois adultos na frente e duas crianças atrás. Como o habitáculo é pequeno, o ar-condicionado refrigera muito rapidamente o ambiente. Nota 8.

Tecnologia – A plataforma do Mobi é emprestada do Uno, desenvolvida em conjunto com a Itália e que também deu origem ao novo Panda em 2010. Já em relação ao motor, o Mobi andou de ré. Ele chegou a contar com o moderno Firefly entre 2017 e 2020, mas agora só é oferecido com o velho Fire 1.0, menos potente e elástico. Em relação à segurança, agora ele pode receber opcionalmente controle de estabilidade e tração, o que não impressiona ninguém. Até porque, daqui a 18 meses, será equipamento obrigatório. Já o sistema multimídia é moderno e tem conectividade sem fio. Nota 7.

Habitabilidade – O Mobi foi pensado para ser o segundo carro da família, mais urbano. Por isso, o porta-malas com apenas 200 litros de capacidade não é surpresa. No mais, há bons porta-objetos nas portas, no console e nos compartimentos do teto, onde há um porta-óculos. Os acessos são facilitados pelos bons ângulos de abertura das portas. A ausência de vidro elétricos para o banco detrás, onde serão transportadas crianças, é uma falha na segurança. Nota 7.

Acabamento – Como em todo modelo de entrada, há plásticos rígidos por toda parte no habitáculo, mas são de textura agradável e com boa resistência. O acabamento e a montagem são caprichados, com cuidado aos detalhes e peças em preto brilhante e frisos cromados estrategicamente colocados. Nota 7.

Design – A Fiat optou por um visual robusto e jovem para o Mobi Trekking. A frente traz faróis protuberantes que se ligam à grade em preto brilhante. A tampa do porta-malas em vidro escuro adiciona uma dose de charme ao modelo. Ele traz o aspecto “fofinho”, típico dos subcompactos, adicionado a um visual aventureiro. Nota 8.

Custo/benefício –O Fiat Mobi Trekking parte de R$ 66.390 e na versão testada, com opcionais como rodas de liga leve, faróis de neblina, controle de estabilidade, entre outros, chega a R$ 70.890. Seu principal concorrente atualmente é o Renault Kwid Outsider, que custa R$ 70.490 e traz todos os opcionais do Mobi Trekking e ainda câmera de ré. Nota 6.

Total – O Fiat Mobi Trekking somou 72 pontos em 100 possíveis.

Impressões ao dirigir

Passo atrás

                A versão Trekking do Fiat Mobi é um modelo que chama a atenção pelo visual, simpático e jovial. Mas, a rigor, fantasia aventureira não vai além do visual. Inclusive, a distância para o solo da versão Like é 2 mm maior. Mas onde o modelo peca mesmo é na motorização. Não que o velho Fire 1.0 de 71/74 cv seja ruim, mas é pouco, ainda mais para um modelo que já dispôs do motor Firefly, que tinha 5% mais potência, 15% mais torque e era bem mais econômico. Ajuda na dinâmica do Mobi o baixo peso, de apenas 969 kg, que o deixa razoavelmente ágil em velocidades de cidade, até 60, 70 km/h. A partir daí, é preciso paciência.

                Por outro lado, finalmente o Mobi pode a contar com controle de estabilidade, mesmo que somente como opcional, mas que o comprador só tem acesso se comprar um outro pacote de equipamentos. Não há, no entanto, nenhum outro equipamento de segurança, além dos obrigatórios. Nem mesmo os airbags laterais, presentes no único rival direto, o Renault Kwid. Um ponto a favor é a adoção da central multimídia de 7 polegadas e com espelhamento de celulares sem fio, equipamento que domina o habitáculo.

                Em relação ao tamanho, o Mobi tem um espaço condizente com o segmento. O espaço na frente é bom e atrás é sofrível. Em compensação, permite que o modelo tenha um comprimento total de apenas 3,60 metros e ainda contar com um pequeno porta-malas de 200 litros. É bem medido para se deslocar e estacionar no ambiente urbano. Além disso, traz um acabamento com atenção aos detalhes.

 

Ficha técnica

Fiat Mobi Trekking

Motor – Gasolina e etanol, dianteiro, transversal, 999 cm³, quatro cilindros em linha, duas válvulas por cilindro e comando simples no cabeçote. Injeção multiponto e acelerador eletrônico.

Transmissão – Manual de cinco marchas à frente e uma a ré. Tração dianteira. Não oferece controle de tração

Potência – 71/74 cv com gasolina/etanol a 6 mil rpm.

Torque – 9,3/9,7 kgfm com gasolina/etanol a 3.250 rpm.

Aceleração de zero a 100 km/h – 14,4 segundos.

Diâmetro e curso – 70,0 mm X 64,9 mm.

Taxa de compressão – 13,0:1.

Velocidade máxima – 152 km/h.

Suspensão – Dianteira do tipo McPherson com rodas independentes, braços oscilantes inferiores, amortecedores hidráulicos e telescópicos de duplo efeito e mola helicoidal. Traseira com eixo de torção com amortecedores hidráulicos e telescópicos de duplo efeito e mola helicoidal. Não oferece controle eletrônico de estabilidade.

Pneus – 175/65 R14.

Freios – Discos sólidos na frente e tambores atrás. Freios ABS com EBD. Oferece controle eletrônico de tração como opcional.

Carroceria – Hatch em monobloco com quatro portas e cinco lugares. Com 3,60 metros de comprimento, 1,67 m de largura, 1,55 m de altura e 2,30 m de distância entre-eixos.

Peso – 969 kg.

Capacidade do porta-malas – 200 litros.

Tanque de combustível – 47 litros.

Produção – Betim, Brasil.

Preço – R$ 66.390.

Preço da versão testada: R$ 71.283 (R$ 70.890 + R$ 393 do sensor traseiro vendido como acessório).