Aposta dobrada
Novo Honda HR-V ganha em segurança, conforto e equipamentos para brigar entre os SUVs compactos e médios
Nos últimos anos, a Honda adquiriu um posicionamento bem peculiar no mercado brasileiro. Seus carros não chegam a ser tão valorizados quanto os de uma marca de luxo, mas têm mais prestígio que os de marcas generalistas, muito por conta da qualidade construtiva de seus produtos. Com a chegada da nova geração do HR-V, a Honda decidiu consolidar de vez essa condição. Além de brigar com outros SUVs compactos, como Hyundai Creta, Chevrolet Tracker, Nissan Kicks e Volkswagen T-Cross, a marca vai estender o campo de batalha de seu SUV compacto também para o segmento inicial de SUVs médios – onde estão o Toyota Corola Cross, o Volkswagen Taos e algumas versões do Jeep Compass.
Os preços do novo HR-V traduzem exatamente esta opção. As versões de entrada EX e EXL custam R$ 142.500 e R$ 149.900, enquanto as versões superiores, Advance e Touring, saltam para R$ 176.800 e R$ 184.500. Além das diferenças de conteúdo, as versões mais baratas trazem o motor 1.5 aspirado, enquanto as superiores serão animadas por um motor 1.5 turbo, semelhante ao que já era usado pela geração anterior do modelo, mas que passará a ser flex. Por conta disso, o calendário de lançamentos ficou separado. As versões iniciais, como a avaliada EXL, já estão disponíveis enquanto as configurações com motor turbo só chegaram às concessionárias em outubro.
Em relação às dimensões externas, o SUV da Honda praticamente não mudou em relação ao antecessor. Tem 4,33 metros de comprimento – sendo que as versões superiores têm 5,5 cm a mais por conta do desenho dos para-choques ‑, com 1,59 m de altura, 1,79 de largura e os mesmíssimos 2,61 metros de entre-eixos de antes. Este é um tamanho intermediário entre os SUVs dos segmentos B e C. Para reforçar a ideia de atuar no topo dos compactos e na base dos médios, Honda valorizou o espaço na cabine. Elevou a posição do motorista em 1 cm, o que aumento o espaço para os pés sob o assento para os passageiros de trás. Houve ainda um reposicionamento dos bancos, que aumentou em 3,5 cm o espaço para os joelhos, embora tenha sacrificado um pouco a capacidade do porta-malas, que caiu de 437 para 354 litros.
Ambos os motores são da mesma família, L15B, com duplo comando no cabeçote e injeção direta de combustível. A diferença é que o motor turbo tem comando variável tanto na admissão quanto no escape enquanto o aspirado tem variação apenas na admissão. Este motor da versão EXL é o mesmo aplicado ao novo City, que rende 126 cv de potência a 6.200 rpm, com torque de 15,5 a 15,8 kgfm a 4.600 giros, com gasolina e etanol. Ele é gerenciado por um câmbio CVT com sete marchas pré-programadas, que direciona a força para as rodas dianteiras.
Em comparação ao motor 1.8 usado nas versões de entrada do antigo HR-V, que tinha comando simples e injeção multiponto, o novo motor é cerca de 15% mais econômico. Segundo os dados do InMetro, o consumo urbano é de 8,8 e 12,7 km/l com etanol e gasolina e de 9,8 e 13,9 km/h em rodovia. Esses índices são mais favoráveis, inclusive, que os seis principais concorrentes do segmento. Em compensação, é um pouco mais lento. A aceleração de zero a 100 km/h é feita em 11,8 segundos, ou 0,6 s a mais. Já a máxima se manteve nos mesmos 175 km/h.
Um dos pontos de maior destaque da nova linha HR-V são os recursos segurança. Todas as versões chegam de série com seis airbags, faróis full led, controle de tração e de estabilidade, ABS com assistente de partida em rampa, chave presencial para ignição, acionada por botão, câmera de ré panorâmica, controle de descida e saídas de ar para a fileira de trás. O SUV da Honda traz ainda outros recursos bem desejáveis, como o sistema Magic Seat, que caracterizava o finado Fit. Nele, o assento traseiro pode tanto rebatido, para formar um piso plano na área de bagagem, quanto ser levantado, para criar uma área de bagagem com 1,20 metro de altura. Na parte de conectividade, o HR-V traz central multimídia com tela touch de 8 polegadas e conexão sem fio com Apple CarPlay e Android Auto.
O pacote Honda Sensing também está presente em todas as versões. Trata-se de um grupo de sistemas avançados de assistência ao condutor – ADAS na sigla em inglês –, que inclui alerta de colisão frontal para automóveis e pedestres com frenagem autônoma, controle de cruzeiro adaptativo que funciona em baixas velocidades, para uso em trânsito lento, sistema de permanência na faixa, com ação corretiva no volante, farol alto automático e monitoramento por vídeo da faixa direita, quando a seta é acionada. A versão EXL, especificamente, ainda recebe adicionalmente, sensor traseiro, retrovisor interno eletrocrômico e faróis de neblina em led. Além disso, tem revestimento em couro nos bancos, chave presencial para travas e ignição, paddle shift no volante e apoio central no banco traseiro. (Texto e fotos de Eduardo Rocha/Auto Press)
Ponto a ponto
Desempenho ‑ O motor 1.5 litro rende 126 cv e oferece um desempenho apenas correto ao HR-V. Tanto que o zero a 100 km/h consome 11,8 segundos. Mesmo com 10% a menos de potência em relação ao antigo 1.8, consegue manter a agilidade a partir de 2.500 giros. O CVT se mostra rápido na hora de responder ao acelerador. Nota 7.
Estabilidade – O HR-V ganhou em equilíbrio e conforto, com a nova plataforma com rigidez torcional 25% maior. Ele ficou mais neutro em curvas e retas pelo acerto mais firme da suspensão, com maior controle sobre a carroceria. Nota 8.
Interatividade ‑ O novo SUV da Honda ficou mais sofisticado. Mesmo nas versões de entrada, o carro traz diversos sistemas de assistência à condução, central multimídia completa, várias regulagens posicionais. Na versão, o painel traz instrumentos analógicos e uma pequena tela para o computador de bordo, que representa graficamente diversos recursos, como o controle de cruzeiro adaptativo, monitoramento de faixa etc. Nota 9.
Consumo – Aqui a nova geração do HR-V apresenta um ganho significativo, de cerca de 15%. Segundo o InMetro, o consumo de etanol é de 8,8 a 12,7 km/h na cidade e de 9,8 a 13,9 km/l na estrada, dependendo da proporção de etanol e gasolina. Esses números renderam nota “B” na categoria e no geral. Nota 8.
Conforto – O HR-V tem um habitáculo amplo e com um bom aproveitamento do espaço longitudinal e para as pernas de quem vai atrás. Os bancos dianteiros ganharam uma nova estrutura que apoia as costas em diversos pontos, o que distribui a pressão e provoca menos cansaço. As novas saídas de ar próximas ao vidro criam uma cortina que isola termicamente a cabine sem ventar diretamente nos passageiros. A suspensão mais firme filtra um pouco menos as irregularidades, mas com o incremento no isolamento acústico, a sensação é de solidez. Nota 8.
Tecnologia – A nova plataforma ganhou em rigidez torcional, mas o motor, embora tenha sido modernizado e seja muito eficiente, tem projeto antigo. Como outras marcas japonesas, a Honda não aposta todas as fichas na tecnologia turbo, que o motor mais sensível, menos robusto e bem mais caro de reparar que um aspirado. O modelo traz de série um pacote ADAS, controle de partida em rampa e de descida, central multimídia com conexão sem fio, faróis full led, seis airbags etc. Mesmo as versões de entrada são bem completas. Nota 8.
Habitabilidade – A cabine ganhou espaço, com maior área para as pernas, mas o porta-malas perdeu tamanho e ficou com 354 litros. Entrar e sair do carro é facilitado pela boa altura do assento e a distribuição de ar internamente é muito bem pensada – conta, inclusive, com saídas para os passageiros traseiros. Um aspecto agradável é que os limpadores de para-brisa ficam ocultos quando não estão em uso, o que cria uma integração maior com a estrada. Nota 9.
Acabamento – No interior, os encaixes são corretos e os materiais aparentam qualidade. O design é agradável, com linhas horizontais que valorizam a largura da cabine. Tudo é bem elegante, com poucos elementos e texturas na combinação dos acabamentos. O couro sintético aparece nos bancos, no câmbio, no volante e apoios de braço. O ambiente traz uma certa sofisticação e se destaca na categoria. Nota 9.
Design ‑ O visual externo do novo HR-V traz linhas limpas, modernas e esportivas. São vários elementos que se destacam, como o caimento acentuado do teto na traseira típica de cupê, a maçaneta da porta traseira camuflada, a frente com faróis em led e a grande grade sem moldura da versão EXL, que dá um aspecto futurista, e nas lanternas traseiras, conectadas por uma barra iluminada internamente por led. Mistura ousadia e bom gosto. Nota 9.
Custo/benefício – O HR-V EXL a R$ 149.900 não é nada barato, mas é um carro extremamente completo. Apenas as versões mais altas dos rivais diretos chegam nesse mesmo nível de equipamentos, e nesse caso o modelo da Honda fica com preço parecido com os concorrentes. Isso pode até reduzir o espectro de consumidores do SUV, mas como é muito equipado e charmoso, também pode atrair consumidores que comprariam modelos maiores, mas com menos recursos. Nota 6.
Total ‑ O Honda HR-V somou 81 pontos em 100 possíveis.
Primeiras impressões
Revolução dos detalhes
A ideia da Honda, de alçar o HR-V a segmentos mais altos, encontra um bom respaldo em boa parte das características do modelo. No design sofisticado, no incremento do conforto do habitáculo, em recursos como iluminação em led, revestimento em couro, no caso a versão EXL, multimídia com conexão sem fio etc. Tudo isso torno a convivência com esta nova geração do modelo ainda mais agradável. Os ocupantes, principalmente o condutor, se sentem muito bem tratados. Mas o destaque vai também para os recursos ADAS, que simplificam a vida do piloto.
Em um tom bem-educado, mesmo os sistemas normalmente mais invasivos, como monitor e corretor de faixa de rolagem atua de forma delicada: se houver qualquer resistência do condutor ao movimento no volante, o sistema é desativado, sem protestos escandalosos. Mas o sistema mais efetivo para o dia a dia nas grandes cidades é o controle de cruzeiro adaptativo com Low Speed Flow. Trata-se do conhecido sistema stop and go, que permite que o carro acompanhe o anda e para em um trânsito engarrafado. Caso a imobilidade passe de 3 segundos, basta um leve toque no acelerador para o carro retomar o programa e voltar a acompanhar o tráfego.
A versão avaliada EXL tem a função de enfrentar os rivais do chamado segmento B+, as configurações mais completas dos SUVs compactos. Para essa batalha, a Honda elencou o mesmo motor 1.5 usado na linha City, que rende 126 cv e 15,5/15,8 kgfm. Esse talvez seja o ponto menos atraente do HR-V, pois motores com turbo vêm se tornando objeto de desejo no segmento. Mas aqui a Honda decidiu privilegiar a eficiência no consumo, mesmo que o desempenho seja um tanto comportado.
O HR-V tem até boas arrancadas, graças ao acerto do câmbio CVT, que faz o giro subir rapidamente em baixas velocidades para minimizar o desagradável “efeito scooter”. Isso mantém o vigor em uso urbano, com uma aceleração de zero a 60 km/h abaixo dos 6 segundos. Já na rodovia, há uma certa falta de agilidade, o que é espelhado pelo zero a 100 km/h perto dos 12 segundos. Caso seja necessário ou desejável um ganho de velocidade mais rápido, pode-se recorrer às sete marchas pré-programadas através dos paddle shifts no volante. Uma característica interessante desse CVT é que ele reduz a marcha no caso de um alívio abrupto do acelerador, o que melhora o controle nas entradas de curva ou início de descida.
Ficha técnica
Honda HR-V EXL
Motor: Gasolina e etanol, dianteiro, transversal, 1.497 cm³, quatro cilindros em linha, quatro válvulas por cilindro, comando duplo no cabeçote e comando variável de válvulas na admissão. Acelerador eletrônico e injeção direta de combustível.
Transmissão: Transmissão continuamente variável (CVT) acoplada por conversor de torque com sete marchas pré-programadas e paddle shifts no volante. Tração dianteira. Controle eletrônico de tração.
Potência máxima: 126 cv a 6.200 rpm com gasolina e etanol.
Torque máximo: De 15,5 a 15,8 kgfm a 4.600 rpm com gasolina e etanol.
Diâmetro e curso: 73,0 mm X 89,4 mm. Taxa de compressão: 11,4:1.
Suspensão: Dianteira independente do tipo McPherson. Traseira por eixo de torção. Controle eletrônico de estabilidade.
Freios: Discos ventilados na frente e tambor atrás. Oferece ABS com EBD, assitente de partida em rampa, controle de descida e sistema de frenagem autônoma.
Pneus: 215/60 R17, com monitoramento de pressão.
Carroceria: Utilitário esportivo em monobloco com quatro portas e cinco lugares. Com 4,33 metros de comprimento, 1,79 metro de largura, 1,59 metro de altura e 2,61 metros de entre-eixos. Oferece airbags frontais, laterais e de cortina de série.
Peso: 1.305 kg.
Capacidade do porta-malas: 354 litros.
Tanque de combustível: 50 litros.
Produção: Itirapina, São Paulo.
Preço da versão EXL: R$ 149.900.