Força original
Como anda o novo Nissan X-Trail ePower com tração elétrica que está confirmado para o Brasil para este ano
por Hernando Calaza
Infomotori.com/Argentina
Exclusivo no Brasil para Auto Press
A Nissan lançou na Argentina a nova geração do X-Trail com uma dupla missão: ser o primeiro modelo híbrido da marca na região e ocupar um espaço que vai do segmento C ao D – ou seja, brigar tanto com Jeep Compass e Toyota Corolla Cross quanto com Jeep Commander e Chery Tiggo 8. Para atuar neste espectro amplo, o SUV japonês mudou radicalmente de estilo, passa a oferecer sete lugares e estreia o motor ePower com a tração integral elétrica e4orce, que usa como gerador um motor a combustão 1.5 litro turbo. A versão convencional, por sua vez, traz um motor 2.5 litros a gasolina com tração AWD.
O modelo está confirmado para chegar ao Brasil nos próximos meses, dependendo de algumas definições de engenharia, principalmente em relação a combustível – a expectativa é que seja em março do ano que vem. Na Argentina, o SUV chegou com preços bem salgados, também por conta da situação econômica caótica do país. A versão ePower sai por lá o equivalente a US$ 102 mil enquanto a convencional fica em US$ 85 mil – respectivamente, R$ 560 mil e R$ 420 mil. Equalizado com as diferenças de preço entre os dois países praticadas pela Nissan, pode-se esperar que no Brasil a versão ePower fique em torno de R$ 310 mil enquanto a AWD saia por R$ 230 mil. São preços compatíveis com os praticados pelos líderes do segmento Toyota RAV4 Hybrid no primeiro caso e Commander no segundo.
Esta quarta geração do X-Trail – que também é a segunda geração do Rogue nos Estados Unidos – manteve basicamente as mesmas dimensões do antecessor, com 4,65 m de comprimento, 1,84 m de largura, 1,70 de altura com 2,71 m de entre-eixos. Para que pudesse receber mais adequadamente a terceira fileira de assentos, o balanço dianteiro foi encurtado e o traseiro aumentado. Além disso, a silhueta do carro ganhou um contorno mais blocado. O SUV é estruturado na plataforma CMF-CD da Aliança Renault-Nissan-Mitsubishi, uma evolução da usada na geração anterior e a mesma de modelos como Renault Space e Mitsubishi Outlander.
Para reduzir a sensação da traseira mais quadrada, os designers criaram diversos vincos e cortes geométricos diagonais, combinando a cor da carroceria com o preto para que a coluna traseira mantivesse a inclinação para a frente, dando um visual mais dinâmico. Na lateral, destacam-se as linhas que alargam os para-lamas traseiros e a das saias laterais, que dão a ideia de uma cintura mais estreita e maior altura para o solo. A coisa de maior personalidade no X-Trail é o conjunto ótico dianteiro dividido, com a grade em trapézio invertido sem moldura superior. O capô traz diversos relevos, com as laterais pronunciadas e a frente afiada na direção da grade.
Por dentro, o SUV traz três fileiras de assentos, mas a última delas só é própria para receber duas crianças, especialmente por conta do espaço para as pernas. Por isso, a melhor definição para esta configuração do X-Trail é como um 5+2. O acesso à terceira fila também não é tão fácil, apesar de as portas traseiras abrirem quase 90º para ajudar na entrada. Dividida assimetricamente, a fileira do meio pode ser movida longitudinalmente, para dividir o espaço entre passageiros e bagagem. Dependendo dessa distribuição, a segunda fileira pode até ganhar espaço de limusine, além de contar com controle de temperatura independente, duas entradas USB.
Caso se tenha a necessidade de lotação completa, é o espaço do porta-malas que fica reduzido à expressão mínima. Com todos os bancos rebatidos, são 1.298 litros até a linha das janelas. Com apenas a terceira fileira rebatida, fica entre 891 e 1.033 litros, dependendo da posição da segunda fileira. Em qualquer desses casos, o piso do compartimento fica totalmente plano. A Nissan não divulgou o espaço com todos os assentos disponíveis – até porque e é bastante modesto, em torno de 150 litros ‑ como costuma ocorrer em modelos de sete lugares com dimensões semelhantes. Na versão argentina, não há pneu sobressalente disponível, apenas um kit de reparo. Este é também um detalhe que pode ser alterado na versão que será importada para o Brasil.
A partir dos bancos dianteiros, a paisagem do interior do novo X-Trail é mais sóbria, com linhas horizontais, estilo minimalista que concentra comandos físicos e táteis, plásticos de qualidade e uma alta sensação de solidez, valorizado pela presença do teto panorâmico. As decorações incluem um curioso revestimento plástico marrom na parte superior do console frontal e dos painéis das portas, couro nos bancos, detalhes em preto brilhante e anéis cromados nos botões, como nos comandos do ar-condicionado de três zonas.
No interior, são duas telas de 12,3 polegadas, uma para a central multimídia e outra para o painel de instrumentos. A primeira das telas é bem prática e inclui controles físicos por botão e tem áudio assinado pela Bose. Conta com câmera 360º, navegador interno, Carplay e Android Auto, que ainda exige o uso de cabos. Estranhamente, há um carregador sem fio, mas que deverá ser usado por outro telefone e não pelo que está plugado à central, já que não é recomendável que o celular receba energia de duas fontes diferentes ao mesmo tempo.
O painel de instrumentos tem dois modos de exibição: um clássico e um techno. Embora a personalização seja muito limitada, ele tem informações e gráficos muito bons em ambos os modos. O modelo conta ainda com um HUD dos mais modernos, colorido e com muitas informações, como velocidade, dados de navegação, som etc. O volante traz dois núcleos de comandos, com o som e computador de bordo do lado esquerdo e controle de cruzeiro e comando vocal no lado esquerdo. O X-Trail ainda traz pequenos confortos como tampa traseira elétrica, chave presencial para travas e ignição, acionamento remoto do motor, banco elétricos dianteiros com aquecimento,
Na parte de segurança, o X-Trail tem uma boa bateria de ADAS reunidas sob o nome Nissan Safety Shield, todas com um grau de intervenção ajustável e uma forma de agir pouco intervencionista, que não é irritante. Estão presentes alerta de ponto cego, monitor periférico, monitor de faixa, alerta de tráfego cruzado traseiro, alerta de colisão frontal com frenagem autônoma, sensores dianteiros e traseiros, seis airbags, controle de descida, ignição remota, monitor de pressão dos pneus e controle de cruzeiro adaptativo, além de iluminação full led e câmera 360º.
Mas o aspecto que mais chama a atenção do X-Trail é mesmo a motorização. Não exatamente na convencional, que tem um motor a explosão de quatro cilindros com 2.5 litros, com 181 cv e 25,0 kgfm, controlado por um câmbio CVT e com tração integral. O interessante no portfólio desse SUV é a nova motorização ePower. Nesse sistema as rodas são movimentadas somente pelos dois motores elétricos, um na frente e outro atrás, o que gera a tração integral chamada pela marca de e4orce – há também versões com tração dianteira, mas não devem ser trazidas para o Brasil.
O motor elétrico dianteiro pode gerar até 150 kW, ou o equivalente a 204 cv, enquanto o traseiro fornece até 100 kW, ou 136 cv. Em conjunto, porém, o sistema libera no máximo 205 cv, com um torque de 33,7 kgfm –suficiente para animar um SUV que pesa 1.883 kg – já a versão a convencional tem 1.568 kg. A energia para estes motores vem de uma pequena bateria de 1,8 kWh, que por sua vez é alimentada pelo motor 1.5L turbo de 3 cilindros, que funciona como um gerador. A ideia é que, por trabalhar sempre na faixa ideal, este motor tenha eficiência máxima, enquanto o SUV se beneficia do torque instantâneo dos motores elétricos. Tecnicamente é um sistema híbrido de série, semelhante ao usado pelo finado Chevrolet Volt e por locomotivas diesel-elétricas. (Texto de Hernando Calaza, Infomotori.com/Argentina. Exclusivo no Brasil para Auto Press. Fotos de divulgação).
Primeiras impressões
Teoria na prática
Em movimento, o X-Trail se comporta como um bom carro 100% elétrico. O SUV arranca de forma tranquila e consistente, sem patinar ou tomar fôlego. Mas se trata de um híbrido e, por isso, em pouco tempo o habitáculo começa a ser invadido por um som estranho, como uma vibração sutil. Trata-se do motor a combustão que é acionado para manter a pequena bateria de 1,8 kW carregada a bateria. Não é barulhento, mas quebra aquele silêncio de catedral de um BEV.
Apertar o acelerador e liberar alto nível de torque elétrico explicita a reatividade do modelo. Nessa situação, é mais do que provável que o motor a combustão suba o giro para aumentar a dose de carga injetada no sistema. Com toda a parafernália do ePower, o X-Trail não é especialmente pesado. Com isso, garante um desempenho bem convincente. A aceleração de zero a 100 km/h é feita em 7,2 segundos. Já a retomada é feita em 6,1 s em D e em 5,1 segundos com o modo S acionado – a diferença de reação no modo Sport é bem significativa.
Em velocidade de cruzeiro, como numa estrada, o motor a combustão funciona praticamente o tempo todo, mas em diferentes regimes. Nas situações que exige mais dos motores, o condutor percebe um som que soa como um avião passando longe. Este esquema não gera incômodo e proporciona uma economia palpável. Na cidade e na estrada a 120 km/h, a média apontada pela marca é de 15,6 km/h. Não impressiona. Com um tanque de 55 litros, a autonomia pode passar de 850 km.
Em linhas gerais, é perceptível que a Nissan fez um conjunto voltado para o conforto com uma condução rítmica, mas sem ser esponjosa. O pedal da direção e do freio são bem calibrados e a posição de condução ideal é facilmente alcançada com as várias configurações disponíveis. Na estrada é estável e faz curvas bem, aproveitando em parte o eixo traseiro multilink. Em curvas mais apertadas, o peso e a altura de 1,70 m se fazem sentir. A dianteira canta pneu com muita facilidade.
Em suma, o novo X-Trail é um SUV atraente, com um interior prático e bem feito. É também bem equipado, traz muitos recursos de segurança e oferece uma dinâmica refinada. O sistema ePower oferece uma experiência elétrica, especialmente quando você se move silenciosamente e quando pisa o pé e aproveita a reação instantânea de sistemas movidos a bateria.