por Matteo Pozzi
Infomotori.com/Itália
Exclusivo no Brasil para Auto Press
Montar uma Royal Enfield Himalaia é um pouco como voltar ao passado. Mas em um bom sentido, porque o modelo atual foi modernizado. Em um mundo em que as cilindradas e potências aumentaram talvez exageradamente, experimentar uma moto com característica de big trail, mas com motor monocilíndrico de apenas 25 cv, causa estranhamento. A ideia da marca indiana é se concentrar no prazer de dirigir. Exatamente porque é intuitiva, tem um desempenho que não assusta e instiga a encarar uma aventura. Sem dúvida, esta visão de mercado da marca tem funcionado, dado o enorme sucesso que alcançou. E mesmo que tenha 98% de suas vendas na própria Índia, a Royal Enfield atingiu a marca de um milhão de motocicletas por ano.
Na Europa, a nova Interceptor e a Continental GT 650, ambas com motor de dois cilindros, são as mais atraentes e capazes de reunir suporte e vendas, mas também a Himalaia tem fãs. No Brasil, por sua vez, a marca tem uma presença muito incipiente. São poucas concessionárias, a gama é mais curta – tem apenas modelos monocilíndricos – e assistência é precária, apesar de ruas e estradas brasileiras exigirem bem mais dos modelos que os “carpetes” que cobrem as vias europeias. O ponto de atração é realmente o preço: custa R$ 19.390.
O ponto alto da Royal Enfield Himalayan é a estética. Basta olhar para o modelo para entender que o motor de um cilindro não é mesmo um motivo de aquisição. Protetores de metal para proteger a parte mecânica em qualquer eventualidade, com barras que envolvem o tanque e também o motor, para-lamas dianteiro duplo, o mais baixo para evitar que a lama suje as partes mecânicas e o mais alto para reforçar a estética de aventura. Tem também uma coloração de camuflagem e bolsas laterais rígidas. Tudo é simples, deliberadamente dedicado a não aumentar os custos de produção, apesar da sensação de robustez que transmite.
Depois, há referências ao passado e à tradição, como o fole de borracha no garfo telescópico ou os instrumentos puramente analógicos. Ali estão disponíveis hodômetro, relógio, temperatura e até uma bússola, o que reforça a filosofia da Himalayan. Há também um pequeno para-brisa, ajustável em duas posições – mas é preciso soltar parafusos para regular. O motor, com o logotipo da marca quase escandaloso é outro elemento estilístico central.
O motor é meticulosamente desenhado para parecer antigo, em preto fosco, precisamente porque também desempenha um papel na imagem geral da moto. E, de certa forma, ele também define sua personalidade. Tem um cilindro único com resfriamento a ar/óleo clássico e é chamado LS410. É um propulsor de longo curso, com diâmetro e curso de 78 mm X 86 mm, o que gera mais torque em baixa rotação, mas por outro lado limita a velocidade em estradas. A capacidade volumétrica é de 411 cc e é capaz de gerar 24,5 cv de potência a 6.500 rpm e torque máximo de 3,3 kgfm a 4.250 rpm. A Himalayan nasceu para ser usada também em off-road pois, além do bom torque, tem relações de marcha curtas nas três primeiras velocidades e mais longas nas duas últimas.
A estrutura é um berço duplo em tubos de aço. Ela conta com um amortecedor traseiro progressivo com link com 180 mm de curso, enquanto na frente os telescópicos têm 200 mm de curso. A distância livre para o solo é de 22 cm e o assento fica a 80 cm de altura. Todos estes recursos não fazem da Himalayan uma off-road extrema, mas permite enfrentar estradas de terra e algumas passagens difíceis, também graças aos pneus 90/90 R21 na dianteira e 120/90 R17 atrás. Quanto aos freios, o sistema é equipado com ABS, conforme prescrito por lei, com um disco duplo, uma frente de 300 mm e 240 mm na traseira. Finalmente, o peso é alto para a potência disponível: 191 kg de peso seco.
Impressões ao pilotar
Como antigamente
Vicenza/Itália – A Royal Enfield Himalayan tem o espírito de modelos históricos, com uma mecânica simples que sugere confiabilidade, baixo consumo e todos os recursos para enfrentar uma longa jornada. O modelo também pode ser equipado com bolsas laterais rígidas opcionais, que ajudam nas pequenas viagens que a motocicleta costuma inspirar. Ela também induz a uma condução relaxada em pista livre, mas na cidade, quando se enfrenta trânsito pesado, as três primeiras marchas curtas exigem muitas trocas. Em compensação, os engates são precisos e macios e a embreagem, bem leve. Ao esticar a quarta e a quinta marchas, pode-se passar dos 130 km/h, mas acima de 110 km/l a moto começa a ficar pouco estável e “sugere” manter uma velocidade de até 100 km/h na estrada. A partir desse ponto, surgem vibrações bem incômodas nas pedaleiras e no guidão. Por outro lado, o consumo é bom, em torno de 30 km/l em velocidades de estrada. Como o tanque conta com 15 litros, a autonomia chega a 450 km/h.
Apesar da presença da bússola, o melhor uso da Himalayan é pilotar sem rumo, sem estrasse, sem pressa. Em estradas secundárias, não pavimentadas, fica ainda melhor, dada a facilidade com que enfrenta buracos e irregularidades. A instrumentação é simples, mas oferece todas as informações principais, incluindo o termômetro ambiental e a marcha engatada, enquanto a posição de pilotagem é natural e descontraída, mesmo nos trechos em que o piloto fica em pé. O assento é bastante confortável, mas em trajetos muito longos acaba se revelando um tanto rígida. O único defeito importante são os freios. O ABS funciona como se espera, mas o sistema de freios tem uma mordida limitada, o que gera espaços de parada maiores que o recomendado. O garfo, que afunda de maneira intensa, também não ajuda.