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Taos aposta na simplicidade

Simples assim

O Volkswagen Taos Comfortline tem acabamento simples e bom conteúdo, mas peca na relação custo/benefício

               Desde os anos 1970, a Volkswagen apostou na modernização da marca no mundo todo. No Brasil, no entanto, a marca sempre viveu o dilema entre modernizar a linha e manter o nível de vendas. A marca até conseguiu ter prestígio em mercados como o europeu e estadunidense – pelo menos até o Dieselgate –, mas no Brasil nunca conseguiu escapar da imagem de carro do povo. E isso sempre se chocou com os altos preços praticados nas concessionárias, tanto de venda quanto das revisões.

                Foi para driblar obstáculos como este que a marca decidiu criar o SUV médio Taos, que corre em uma trilha menos sofisticada que o Tiguan. A esperança depositada no modelo era que ele fizesse frente ao Jeep Compass. A desilusão veio rápido. Em seis meses de mercado, o Taos vem mantendo uma média de 1.300 unidades mensais, diante dos 6 mil emplacamentos do Compass e das 4 mil vendas do Toyota Corolla Cross.

                O motivo disso não chega a ser um mistério. O Taos é o menos potente dos três – 150 cv, com 25,5 kgfm contra 177 cv e 21,4 kgfm do Toyota e 185 cv e 27,6 kgfm do Jeep. Tanto o Taos quanto o Compass trazem câmbio automático de seis marchas, enquanto o Corolla Cross tem câmbio CVT com sete marchas simuladas. O Jeep ainda tem um recurso adicional de um sistema Jeep Traction Control+, que freia a roda sem aderência para transferir a força para a outra roda.

                Outro ponto é em relação ao acabamento. O Taos é claramente o mais despojado em relação ao acabamento. O modelo tem diversas áreas e painéis internos em plástico rígido, com materiais que não refletem requinte e não aparentam resistência. Enquanto isso, o Corolla traz o típico acabamento japonês, que não parece luxuoso à primeira vista, mas se mantém impecável anos a fio e a Jeep é, ao lado da Peugeot, a marca generalista de melhor acabamento. O afã de baratear o modelo e afastá-lo do Tiguan – o SUV médio vendido na Europa ‑, a Volkswagen exagerou.

                Em relação ao conteúdo, o Taos Comfortline traz o que é esperado no segmento e é bem semelhante ao oferecido pelos rivais de entrada. São seis airbags, sistema start/stop, sistema multimídia VW Play com tela de 10 polegadas (espelhamento de Apple CarPlay sem fio e de Android Auto via cabo), ar-condicionado automático de duas zonas, câmera de ré, carregador por indução, faróis em led com DLR integrado, lanterna traseira em led, freio de estacionamento eletromecânico, painel de instrumentos digital de 8 polegadas, controle de cruzeiro, rodas de liga leve aro 18, sensor de luz, chuva e de estacionamento dianteiros e traseiros e chave presencial para travas e ignição.

                Mas há um terceiro ponto que é o mais determinante para o desempenho mercadológico fraco do Taos: a relação custo/benefício desfavorável. Apesar do conteúdo semelhante ao dos rivais diretos, a versão de entrada Comfortline avaliada custa a partir de R$ 171.190, preço R$ 9 mil acima do Corolla Cross e R$ 12 mil do Jeep Compass, também nas versões de entrada. O nível de vendas até forçou a Volkswagen a ir reduzindo paulatinamente esta diferença – quando foi lançado, em maio, as diferenças eram, respectivamente, de R$ 11.500 e R$ 15 mil.

Esta falta de competitividade se repete na versão Highline, em que o modelo passa dos R$ 200 mil e fica mais caro até que o Corolla Cross Hybrid, que tem uma tecnologia bem mais sofisticada. Na apresentação do modelo, em maio do ano passado, havia a expectativa que a Volkswagen ainda criasse uma versão mais simples do modelo do modelo, mais barata. Isso porque ficou evidente na época que o Taos não conseguiria alçar bons volumes de venda com a formulação de conteúdo e preço mostrada (por Eduardo Rocha/Auto Press).

 

Ponto a ponto

Desempenho – O motor 1.4 TSI é o mesmo que move as versões de top do T-Cross e de entrada do sedã médio Jetta. São 150 cv a 4.500 rpm e 25,5 kgfm de torque, disponíveis já em 1.500 giros. O propulsor é suficiente para embalar o crossover médio com alguma agilidade e é capaz até de entregar, se forçado, um desempenho ligeiramente esportivo. Na Europa, este motor foi trocado por um 1.5 litro, com a mesma potência, por conta de normas de emissões. Nota 8.

Estabilidade – O Taos usa a mesma plataforma MQB do Jetta e até de modelo menores, como o T-Cross.  A diferença entre os dois SUV é de 25 cm no comprimento, de 3 cm no entre-eixos e 80 quilos no peso. Ou seja: o Taos exige mais do conjunto suspensivo para manter a carroceria sob controle. A vantagem é que o SUV médio tem suspensão multilink atrás, o que refina as reações do modelo. Nas curvas mais forçadas, o Taos rola pouco e nas retas, em velocidades de estrada, se mantém bem estável, sem exigir correções de trajetória. Nota 8.

 

Interatividade –O interior do Taos é comum aos modelos da Volkswagen, o que torna tudo muito familiar. Os comandos estão nos lugares esperados e são bem acessíveis. O sistema multimídia VW Play é fácil de interagir, mas faltam botões físicos para facilitar o controle de funções como volume do som e sintonia do rádio. O painel digital configurável é informativo e amigável. Inexplicável é a presença de duas entradas USB-C e a ausência de entrada USB-A, que é a mais usada. Nota 8.

 

Consumo – A avaliação de consumo do InMetro, para o sistema de etiquetagem veicular, o Taos Comfortline faz a média de 6,8 km/l na cidade e 8,5 km/l na estrada com etanol e 10,2 e 12,2 km/l, respectivamente, com gasolina. No uso do dia a dia, são números difíceis de alcançar. De qualquer maneira isso valeu nota B na categoria e C no geral. Nota 7.

Conforto – A suspensão tem a tradicional rigidez que acompanha os veículos da marca, mas só afeta o conforto quando enfrenta pisos mais irregulares. Os bancos são confortáveis, seguram bem o corpo, mas em trajetos longos são cansativos. O espaço interno é bem adequado para um SUV médio e suporta até um quinto ocupante se o trajeto não for muito longo. O motor quase não é ouvido no interior. Nota 7.

 

Tecnologia – O Taos é construído em torno da plataforma com MQB, com especificação A1, para modelos médios, que foi lançada em 2016 e apesar de não ser tão leve quanto plataforma mais recente, ainda é bem atual. Já o motor 1.4 turbo está defasado até mesmo dentro do Grupo Volkswagen, que já o substituiu por um motor 1.5 em mercados mais exigentes. Em relação à versão, ela só traz recursos de assistência mais evoluídos como opcional – o pacote com controle de cruzeiro adaptativo, alerta de colisão e frenagem autônoma acrescenta R$ 5.800 ao preço final. Nota 7.

Habitabilidade – O Taos acomoda bem quatro adultos e uma criança. O espaço é bom para pernas e cabeça, como costuma acontecer com SUVs médios. Assim como o acesso ao habitáculo, auxiliado pela altura do modelo. Já o porta-malas tem uma capacidade razoável. Em posição normal, pode carregar 498 litros, o que é bom. Vários porta-objetos espalhados pelo interior ajudam no dia a dia. Nota 8.

 

Acabamento – A Volkswagen quis baratear a construção do Taos e isso ficou evidente nas escolhas dos materiais de acabamento. O conceito de design é o típico dos Volkswagen dessa geração, com linhas horizontais para dar valorizar a largura do habitáculo. Há plásticos duros e rugosos em diversos pontos, o que desvaloriza visualmente o modelo. Nota 7.

Design – O Taos traz uma evolução do face family da Volkswagen, em que o friso da grade invade o conjunto ótico. No mais, o conceito segue o mesmo apresentado no Brasil há quatro anos, no Polo, com vincos laterais bem marcados e muitas linhas retas, desprovidas de sensualidade. Nas ruas, os SUV da marca costumam ser diferenciados pelo tamanho. No caso do Taos, a confusão com o Tiguan é inevitável. Nota 6.

 

Custo/benefício – O Taos atualmente tem dois preços de partida, um para cada versão. Ambos altos. No confronto com os rivais mais fortes do mercado nacional, Corolla Cross e Compass, a desvantagem do SUV da Volkswagen fica em R$ 9 mil e R$ 11.500. E isso se reflete nas vendas do modelo. Nota 6.

 

Total – O Volkswagen Taos Comfortline somou 72 pontos de 100 possíveis.

 

Impressões ao dirigir

Padrão alemão

O motor 1.4 turbo, chamado de 250 TSI, era bem interessante uma década atrás, quando desembarcou no Brasil a bordo do A1 em 2011, na época com apenas 122 cv. Ele é ainda capaz de mover com eficiência o Taos, mas já não consegue impressionar. Outros modelos presentes no mercado trazem motores mais modernos e com potência específica mais alta. Além do mais, os 150 cv têm de os carregar 1.420 kg do modelo, numa relação peso/potência de 9,5 kg/cv. É aceitável, mas não empolga. Essa, aliás, uma boa definição para o comportamento dinâmico do Taos. As arrancadas e as retomadas são feitas sem um grande esforço, mas não mostra também muita agilidade.

Outros aspectos do Taos em movimento seguem o padrão Volkswagen, de correção sem emoção. A cabine tem bom isolamento e o som do motor só é percebido quando de exige muito do motor.  A boa dinâmica do SUV se completa pelo bom controle de carroceria oferecido pela suspensão, que tem configuração multilink na traseira. A suspensão, apesar de rígida, oferece um bom controle de carroceria – o que não é fácil em um SUV com mais de 1,60 m de altura. O acerto, no estilo tradicional da Volkswagen, privilegia a estabilidade. Mas cobra um preço: em pavimentos ruins, o conforto na cabine fica comprometido. Neste ponto, o Taos está mais para crossover do que para SUV.

O volante multifuncional é um tanto grande, mas tem uma ótima comunicação com as rodas e permite controlar bem os recursos do carro. O painel digital não utiliza muito bem a área oferecida pelas 8 polegadas de diâmetro. Apenas um instrumento com grafismo analógico é simulado por vez, seja conta-giros, seja velocímetro. São poucas as informações disponíveis e é preciso um tempo de convívio para conseguir navegar bem por todas as funções. Poderia ser mais amigável.

O mesmo acontece com o sistema VW Play, que não tem botões, como no modelo vendido nos Estados Unidos. Para aumentar o volume ou mudar de estação é a partir de comandos indiretos e acaba sendo mais fácil usar o volante multifuncional. Ou seja: dificulta a vida do co-piloto. O que não é amigável são as entradas USB do modelo, no padrão C, enquanto a maioria dos usuários têm aparelhos no padrão A. A Volkswagen poderia ter seguido a linha da Jeep, que colocou uma de cada tipo no Compass. No mais, o interior é espaçoso e o arranjo dos comandos são os que estão presentes em qualquer Volkswagen, de Gol a Passat.

 

Ficha Técnica

Volkswagen Taos Comfortline

Motor: Etanol e gasolina, dianteiro, transversal, 1.395 cm³, quatro cilindros em linha, com quatro válvulas por cilindro. Com injeção direta de combustível, turbocompressor e comando variável de válvulas. Acelerador eletrônico.

Transmissão: Câmbio automático com seis marchas à frente e uma a ré. Tração dianteira. Oferece controle eletrônico de tração e bloqueio eletrônico do diferencial.

Potência máxima: 150 cv a 4.500 rpm.

Aceleração 0 a 100 km/h: 9,3 segundos.

Velocidade máxima: 194 km/h.

Torque máximo: 25,5 kgfm a partir de 1.500 rpm.

Diâmetro e curso: 74,5 mm x 80 mm. Taxa de compressão: 10,5:1.

Suspensão: Dianteira independente do tipo McPherson, com triângulos inferiores e barra estabilizadora. Traseira por barra de torção com braços de controle longitudinais, molas helicoidais e barra estabilizadora. Oferece controle eletrônico de estabilidade.

Freios: Discos ventilados na dianteira e sólidos na traseira. Oferece assistente para partida em subida.

Pneus: 215/55 R18.

Carroceria Hatch em monobloco com quatro portas e cinco lugares. Com 4,46 metros de comprimento, 2,10 m de largura, 1,63 m de altura e 2,68 m de distância entre-eixos. Oferece airbags frontais, laterais e de cabeça de série.

Peso: 1.420 kg em ordem de marcha.

Capacidade do porta-malas: 498 litros.

Tanque de combustível: 51 litros.

Produção: General Pacheco, Argentina.

Lançamento: maio de 2021.

Preço: R$ 171.070.

Opcional: Pintura metálica (R$ 1.410).