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Um C3 bem animado

Sopro de sinergia

Versão You! do Citroën C3 mantém lógica de custo/benefício, mas adiciona uma pegada esportiva

por Eduardo Rocha

Auto Press

Com apenas dois anos de mercado, o C3 hatch trocou a alma. Ou seja: substituiu o motor 1.6 16V, de origem PSA, pelo novo Turbo 200, da FCA. Com a nova motorização, o compacto da Citroën adota a designação You! para sua nova versão de topo, animada pelo motor GSE 1.0 T200 de três cilindros. Com a troca, a potência pulou de 113/120 para 125/130 cv, com o torque indo dos antigos 15,4/15,7 para 20,4 kgfm (os 200 Nm indicados no nome). A transmissão é sempre CVT com sete relações pré-programadas. O preço da nova versão segue a lógica de custo/benefício adotada pela marca. O preço de R$ 100.990 coloca o C3 You como o automóvel turbo mais barato do mercado nacional.

Nessa movimentação dentro do Grupo Stellantis, pode-se dizer que o antigo motor EC5 foi aposentado por tempo de serviço. Com as novas exigências de emissões, ficou cada vez mais complicado atualizar um propulsor nascido em 1986, na chamada família TU. Além de cortar custos com o fim da produção do antigo motor, a adoção do GSE 1.0 de três cilindros também gera uma economia em escala para o Grupo. Com exceção do Fiat Mobi, que usa o velho motor Fire, toda a linha de produtos da Stellantis produzida no Brasil usa os motores da família GSE Firefly.

Em relação ao conteúdo, o novo C3 You Turbo 200 AT não muda. A versão traz revestimento em couro sintético, rodas de liga leve, ar-condicionado analógico, luzes diurnas em led, câmera de ré, computador de bordo, faróis de neblina, vidros, travas e espelhos elétricos e volante multifuncional com revestimento em couro. As partes mais tecnológicas do C3 são o painel com visor de TFT com 3,5 polegadas, que exibe o velocímetro digital e os dados do computador de bordo, e a central multimídia com tela sensível ao toque de 10 polegadas, com Android Auto e Apple CarPlay por conexão sem fio.

Já na parte estética, alguns detalhes foram introduzidos para marca a alteração. Caso da cor Emerald Blue, presente no logotipo da versão e nos clusters do farol de neblina nos adesivos na coluna traseira e nas faixas laterais. As rodas são escurecidas e na tampa traseira há uma plaqueta com a inscrição “Turbo 200”. A versão ainda tem pintura bitom de série. Por dentro, os tapetes e as soleiras denunciam a versão.

A entrada do motor mais forte e 37 kg mais leve, que reduziu a relação peso/potência de 9,60 para 8,58 kg/cv forçou algumas adequações na configuração mecânica do C3 You! O sistema de suspensão ganhou uma nova calibração de molas e amortecedores. O sistema de freios também foi redimensionado, enquanto a direção assistida eletricamente recebeu uma nova calibração específica para esta versão. Atualmente, o C3 hatch vem mantendo uma média em torno de 1.800 emplacamentos mensais, mas tendência é que a chega do novo motor turbo, inclusive com a mídia que o tema gera, pode dar um impulso nas vendas do hatch compacto da Citroën (Fotos de Eduardo Rocha, Auto Press).

Ponto a ponto

Desempenho – O motor GSE 1.0 turbo de três cilindros, de origem Fiat. Ele lida facilmente os 1.115 kg do C3 You! As acelerações e retomadas são progressivas desde a arrancada, com um sutil turbolag que não chega a incomodar. O zero a 100 km/ é feito em 8,4 segundos, 2 segundos a menos que com o motor 1.6 16V aspirado. O ajuste do câmbio tem exatamente as mesmas relações do C3 Aircross, que é 100 kg mais pesado. A resultado é que o C3 é muito mais ágil, o motor enche bem mais rápido e ainda é mais econômico. Nota 9.

Estabilidade – A Citroën se preocupou em reforçar a robustez da suspensão, para encarar não só a maior potência do novo trem de força, mas também aceitar uma condução um pouco mais agressiva. Além disso, o acerto de suspensão mais rígido controla melhor a carroceria, mas rouba conforto dos ocupantes. A altura livre de 18 cm somada aos pneus 195/60 R15, com flanco de 11,7 cm, ajuda a enfrentar os desníveis e irregularidades. A direção ganhou um pouco de peso, também para se adequar ao novo conjunto. Nota 8.

Interatividade – Um trunfo do C3 é a central multimídia Uconnect, com tela de 10 polegadas e conexão sem cabo, que domina completamente o console frontal e é bastante funcional. O monitor fica em posição elevada para facilitar a visualização, mas não traz botões, o que é compensado parcialmente pelos comandos no volante. O painel digital tem um visor pequeno e manteve a excessiva simplicidade. Alguns dados do computador de bordo e o reset são feitos a partir de um arcaico pino que se projeta diretamente do cluster. Ausência como sensor de obstáculos, controle de cruzeiro, sensores de luz e chuva e qualquer recurso ADAS denuncia o posicionamento de entrada do modelo. Com o câmbio CVT, o modelo passou a contar com modo Sport, mas é pouco para mudar o padrão de interatividade do C3. Nota 7.

Consumo – O motor Turbo 200 não é conhecido pela eficiência, mas se saiu melhor que o antigo 1.6 16V e mostrou um consumo, em média, 5% menor. Ele percorreu 7,8/8,8 km/l com etanol na cidade e na estrada e 11,0 e 12,8 km/l nas mesmas condições com gasolina. As notas não mudaram: C na categoria e C no geral. Nota 6.

Conforto – O C3 tem bancos firmes, que não são nem confortáveis nem seguram bem o corpo em curvas. O melhor do interior é o espaço. Já a suspensão é firma e transfere as irregularidades do pavimento para os ocupantes. Outro problema é a falta de isolamento acústico. Mesmo em velocidades de cidade, os ruídos de rolagem incomodam. Na estrada, o barulho ganha o reforço dos ruídos aerodinâmicos, a ponto de impedir a conversa em tom normal de voz. Nota 5.

Tecnologia – A nova motorização promoveu tecnologicamente o C3, que junto com a central multimídia Uconnect, com tela de 10 polegadas e espelhamento sem cabo, representa o ponto alto do modelo. Mas como se trata de um projeto de baixo custo, faltam recursos de segurança além dos obrigatórios por lei, traz o mínimo de itens de conforto esperados em um carro de R$ 100 mil. Nota 6.

Habitabilidade – Este é um dos pontos altos do C3. A boa altura da cabine permite um melhor aproveitamento longitudinal do espaço. Cabeças e pernas têm boa área de movimentação. Já em relação à largura, não há mágica: trata-se de um compacto. O acesso ao interior é facilitado pela altura do modelo e o porta-malas é excelente para a categoria, com 315 litros. Nota 8.

Acabamento – A falta de refinamento dos materiais deixa evidente a categoria do modelo e o interior é uma imersão em um mundo de plásticos rígidos. E mesmo o revestimento dos bancos e volante é em um couro sintético pouco convincente. Mas não se pode negar um certo bom gosto no design e nas texturas dos painéis internos – como a guarnição do console frontal em azul. A Citroën parece ter exagerado no conceito de despojamento. Nota 6.

Design – As fotografias não fazem jus às proporções do C3, que é bem maior e robusto do que parece. A modelo tem linhas atraentes, que dão um ar moderno ao hatch, ao mesmo tempo em que mantém elementos visuais clássicos da marca. Como é alto, os faróis ficam a meia altura no para-choque, com as luzes em led no limite do capô. É uma solução cada vez mais utilizada em SUVs, picapes e hatches altos como o C3. Nota 8.

Custo/benefício – Sem dúvida, a chegada do motor T200 à linha C3 valoriza o modelo, que agora coloca modelos como Volkswagen Nivus, Fiat Pulse e Renault Kardian na alça de mira, pelo menos no aspecto de desempenho. É bem verdade que são modelos melhor acabados e que dão acesso a equipamentos mais tecnológicos, mas todos custam coisa de 40% mais. E é por conta desse bom preço que a versão You Turbo 200 do C3 não tem um rival direto. Nota 8.

Total – O Citroën C3 You! Turbo 200 somou 71 pontos em 100 possíveis.

Impressões ao dirigir

Hatch empolgadinho

O posicionamento do C3 hatch foi bem sucedido na proposta de fazer a Citroën ressurgir no mercado. E deu origem a outros dois modelos – C3 Aircross e Basalt – que, de fato, podem sustentar a planta de Porto Real, de onde sai também o C4 Cactus, modelo que logo se despede do mercado. E um dos maiores valores dessa linha para a nave-mãe Stellantis é a sinergia com as outras marcas do grupo. Foi assim que chegou à linha o bom motor GSE 1.0 T200, aqui chamado de Turbo 200. E ele coloca o C3 hatch na briga com outros compactos, sem qualquer complexo de inferioridade.

Por ser 100 kg mais leve que o C3 Aircross, o Turbo 200 rende muito bem no hatch. Para ilustrar a ideia, basta saber que ele é quase 1,5 segundo mais rápido no zero a 100 km/h e consome cerca de 5% menos. O melhor em termos dinâmicos é que a melhor relação peso/potência torna mínimo o turbolag, que é bastante perceptível no Aircross. O modelo ficou tão mais vigoroso do que era com o antigo 1.6 16V que passou por um ajuste de suspensão, de freios e de direção.

O C3 ficou mais esportivo, contorna bem as curvas e aceita manobras mais agressivas sem reclamar. Mas paga por isso no conforto. O hatch, que já era um tanto rígido, agora deixa todas as irregularidades chegaram aos ocupantes sem filtro. E os ruídos de rodagem também chegam sem qualquer cerimônia à cabine. Por outro lado, entrega o que promete: bom espaço interno, versatilidade de uso, com o encosto traseiro rebatível, e materiais resistentes, mas nada requintados.

O interior é marcado pela simplicidade e funcionalidade. Os materiais usados explicitam a preocupação da marca em controlar os custos. Com exceção dos bancos, todos os revestimentos são em plástico rígido. No console, há poucos comandos, reflexo do pequeno número de equipamentos. O modelo conta apenas com o essencial: trio elétrico, ar-condicionado analógico e central multimídia, que é a estrela da companhia. Trata-se do sistema Uconnect com uma vistosa tela de 10 polegadas instaladas no centro do tablier.

Ficha técnica

Citroën C3 You! Turbo 200 flex

Motor: Gasolina e etanol, dianteiro, transversal, 999 cm³, três cilindros em linha, sobrealimentado por turbocompressor com wastegate elétrica e quatro válvulas por cilindro. Comando de válvulas no cabeçote por sistema eletro-hidráulico MultiAir na admissão e por eixo comando simples no escape. Injeção direta de combustível sequencial e acelerador eletrônico.

Potência máxima: 125/130 cv a 5.750 rpm com gasolina/etanol.

Torque máximo: 20,4 kgfm a 1.750 rpm com gasolina/etanol.

Transmissão: Câmbio CVT com acoplamento por conversor de torque com 7 velocidades pré-programadas à frente e uma à ré. Tração dianteira.

Aceleração 0-100 km/h: 8,4 e 8,5 segundos com etanol e gasolina.

Velocidade máxima: 192/194 km/h com gasolina/etanol.

Diâmetro e curso: 70,0 mm X 86,5 mm. Taxa de compressão: 10,5:1.

Suspensão: Dianteira do tipo McPherson independente com barra estabilizadora, molas helicoidais e amortecedores hidráulicos telescópicos pressurizados a gás. Traseira com travessa deformável, molas helicoidais e amortecedores hidráulicos telescópicos pressurizados a gás.

Pneus: 195/60 R15.

Freios: A disco ventilado na frente e tambor na traseira com ABS e EBD.

Carroceria: Hatch em monobloco com quatro portas e cinco lugares. Com 3,98 metros de comprimento, 1,73 m de largura, 1,60 m de altura e 2,54 m de distância entre-eixos. Altura mínima do solo de 18 cm. Oferece airbags frontais obrigatórios.

Peso: 1.115 kg.

Capacidade do porta-malas: 315 litros.

Tanque de combustível: 47 litros.

Produção: Porto Real, Brasil.

Lançamento no Brasil: setembro de 2022.

Lançamento da versão: agosto de 20234.

Preço da versão You!: R$ 100.990.

Opcional: Pintura metálica (R$ 1.600).

Preço da versão testada: R$ 102.590.