Com a mesma a base do Polo, Nivus é uma alternativa mais esportiva e tecnológica aos SUVs compactos
por Eduardo Rocha
Auto Press
Para amplificar o aspecto de novidade, muitos fabricantes tentam enquadrar seus lançamentos em um segmento inédito. Em alguns casos, como o Volkswagen Nivus, essa categoria não é nem muito bem definida, mas ainda assim transmite a ideia de novidade. De fato, as linhas do Nivus, com uma traseira com caimento entre o hatch e o fastback, são incomuns nos modelos atuais, embora sejam recorrentes na história da Volkswagen (como no TL, dos anos 1960, o Passat da década de 1970, o Gol de primeira geração de 1980 e o Pointer da década de 1990. Dessa forma, o Nivus surge como uma alternativa aos SUVs compactos, quase todos com aparência de hatch vitaminado. O modelo tem como base o Polo (com quem compartilha todas as peças desde a coluna dianteira até a porta traseira, incluindo o interior), o que facilitou bastante o desenvolvimento do modelo.
Para definir um limite claro entre os dois modelos, a marca alemã disponibilizou para o Nivus o máximo de tecnologia que oferece aos modelos que usam a plataforma MQB no Brasil. O modelo básico já chega com conta com seis airbags, ar-condicionado, assistente de partida em aclive, sensor de estacionamento traseiro, câmara de ré, faróis e lanternas em led, assinatura luminosa e DLR em led, controle eletrônico de estabilidade e tração, direção, espelhos externos e vidros elétricos, sistema de frenagem automática pós-colisão, rodas de liga leve de 16 polegadas, sistema multimídia com tela “touch” de 6,5 polegadas e controle de cruzeiro. A versão testada, Highline, ainda adiciona controle de cruzeiro adaptativo, frenagem de emergência urbano, até 50 km/h, chave presencial para travas e ignição, ar-condicionado automático, revestimento em couro sintético, sensor de obstáculos dianteiro, sensores de chuva e luz, espelho interno eletrocrômico, detector de fadiga do motorista, rodas de liga leve de 17 polegadas, painel de instrumentos digital e sistema multimídia VW Play, com tela “touch” de 10 polegadas.
Todo este recheio, obviamente, se reflete diretamente no preço. A versão Comfortline começa em salgados R$ 89.150, enquanto a Highline tem preço inicial R$ 12.900 acima, de R$ 102.050. A versão testada chega a R$ 104.540 por conta da cor Vermelho Sunset, que acrescenta R$ 990, e do pacote Lauching Edition, que adiciona mais R$ 1.500. Este pacote consiste nos espelhos e teto pintados de Preto Ninja, acabamento diamantado nas rodas e logotipos pintados de preto. Sob o capô, ambas as versões trazem o mesmo conjunto. No caso, o motor 1.0 turbo de três cilindros com 116 cv com gasolina e 128 cv com etanol. O torque é de 20,4 kgfm ou, como está estabelecido pelo padrão alemão, 200 Nm – daí definir a versão de 200 TSi. Ele trabalha acoplado a um câmbio automático de seis marchas, que conta com aletas no volante para mudanças manuais sequenciais.
A estratégia da Volkswagen ao criar uma espécie de Polo Plus vem sendo muito bem sucedida. O modelo chegou ao mercado em julho e conseguiu se manter em setembro e outubro acima dos 3 mil emplacamentos, volumes bem próximos ao do próprio Polo no período. A importância do Nivus é ainda maior porque o hatch compacto não conseguiu recuperar os níveis de venda anteriores à pandemia, que eram entre 5 mil e 6 mil unidades mensais. Em parte, esta queda foi criada pelo envelhecimento do Polo, que deve passar por um face-lift de meia-vida até meados de 2021 – o carro chegou no final de 2017 e o usual é que seja renovado a partir do terceiro ano de mercado. Nesse caso, o Nivus vem cobrindo muito bem esta lacuna e ajuda a Volkswagen a brigar palmo a palmo com Fiat e Chevrolet pela liderança do mercado.
Ponto a ponto
Desempenho – O motor 1.0 TSI, de 116/128 cv com gasolina/etanol, é ágil e elástico, embora a transmissão automática de seis velocidades tire um pouco da rapidez dos movimentos. Na aceleração pura, mantendo os giros altos, o conjunto funciona bem, mas nas retomadas, a reação é mais lenta que o desejável. A aceleração de zero a 100 km/h em 10,0 segundos é boa, mas não expressa fidedignamente o comportamento do modelo, que é bom, mas não tão esportivo. Nota 8.
Estabilidade – O Nivus reflete pouco o ligeiro aumento da altura da carroceria em relação ao Polo –de 2,7 cm no vão livre para o solo –, com uma rolagem lateral pequena. Mas a suspensão repete o acerto rígida do hatch e não filtra muito as irregularidades do piso ainda mais com os pneus 205/50 R17, que tem apenas 10,25 cm de perfil. Por outro lado, em pavimentos de boa qualidade, a estabilidade é muito boa. Nota 8.
Interatividade – Os comandos repetem os do Polo, que estão nos lugares certos. Como costuma ocorrer com comandos vocais em sistema multimídia, o não entende tão bem o português. Por outro lado, se conecta com facilidade aos celulares. Um ponto desfavorável do VW Play é a ausência de botões para os controles do som e sintonia. O comando apenas por toque é mais barato e até parece mais moderno, mas exige a atenção completa do motorista para alterar o volume ou a sintonia, enquanto por botões é possível mexer sem olhar. Nota 7.
Consumo – O Nivus Highline 200 TSI é 52 kg mais pesado que o Polo e aferiu médias ligeiramente piores, de 7,7/9,4 km/l na cidade/estrada com etanol e 10,7/13,2 km/l com gasolina, nas mesmas condições. No Inmetro, isso equivale às notas C na categoria e B no geral. Nota 7.
Conforto – O conjunto de suspensão é rígido e incômodo para pisos irregulares – como se encontra em qualquer cidade brasileira. Os bancos também são firmes e seguram bem o corpo nas curvas, mas também não privilegiam o conforto. Por outro lado, o espaço interno é generoso para os passageiros da frente e bom para quem vai atrás, desde que sejam dois ocupantes. Já o isolamento acústico é razoável. Nota 7.
Tecnologia – O Nivus Highline traz diversos recursos incomuns em modelos compactos, como controle de cruzeiro adaptativo, frenagem automática de emergência, painel digital, faróis em led, etc. O modelo usa a plataforma MQB A0 de segunda geração, que é leve e rígida. Já o motor 1.0 turbo é eficiente em relação ao desempenho, mas nem tanto em relação ao consumo. Outros recursos, como painel digital e controles dinâmicos, são modernos e estão se popularizando rapidamente, mas ainda são novidade entre compactos. Nota 8.
Habitabilidade –O Nivus oferece um bom espaço para quatro ocupantes e um ótimo porta-malas, de 415 litros, principalmente por conta do bom entre-eixos de 2,57 m e do grande balanço traseiro, 21 cm maior que o do Polo. Como é ligeiramente mais alto que o hatch, o acesso ao habitáculo é também um pouco melhor. Nota 7.
Acabamento – Os carros da Volkswagen, em geral, não são exemplos de refinamento. No caso do Nivus Highline, que traz revestimento em couro sintético, a impressão fica um pouco melhor. E a guarnição no console frontal em plástico preto brilhante passa uma imagem de modernidade. Já a textura dos plásticos crus que se espalham pelo habitáculo têm aspecto pouco refinado. Nota 6.
Design – O diferencial do Nivus entre os crossovers/SUVs compactos são as linhas, principalmente pelo perfil que combina trações de hatch e fastback. O estilo, como sempre, é o de qualquer carro da marca alemã, com muitas linhas retas e sulcos marcados. Ao contrário do Polo, não é confundido com outros modelos da Volkswagen. Nota 9.
Custo/benefício – O Nivus Highline começa em R$ 102.050 e chega a R$ 104.540 completo. Não tem um rival direto com o mesmo estilo de carroceria, mas se for confrontado em relação ao tamanho, conteúdo e desempenho, fica caro diante de outros compactos do mercado brasileiro. Por outro lado, seu design o diferencia da massa de hatches e SUVs do oferecidos por aqui. Nota 7.
Total – O Nivus Highline somou 74 pontos de 100 possíveis.
Impressões ao dirigir
Bem traçadas linhas
Há quem tente enxergar um automóvel de forma pragmática, como uma ferramenta de transporte. Só que não. Pelo menos para nove entre 10 compradores. Tanto que, de uns anos para cá, o primeiro motivo de compra tem sido o design. E embora o que se considera bonito ou feio seja pessoal, há ainda alguma objetividade nas questões estéticas, como o equilíbrio dos volumes e a originalidade das linhas. E é exatamente isso que o Nivus oferece. Mesmo sendo um Volkswagen, que costuma “clonar” o desenho frontal entre seus carros, a versão crossover do Polo tem personalidade, principalmente pelo caimento de teto e pela traseira.
O motor 1.0 TSi de 116/128 cv, com gasolina e etanol, consegue lidar de forma convincente com os 1.200 kg do Nivus, mas sem grande esportividade. O carro acelera bem, mas as retomadas são apenas razoáveis – em parte por conta do câmbio automático de seis velocidades, que não é tão ágil. Dinamicamente, ele se destaca na hora de encarar curvas, as quais contorna com facilidade, com rolagem lateral bem limitada. A boa estabilidade vem da plataforma MQB de segunda geração, que consegue ser leve e rígida ao mesmo tempo, mas também pela suspensão, que é rígida e mantém a carroceria sob controle. O efeito colateral é o prejuízo do conforto em pisos irregulares, como os das cidades brasileiras.
O interior tem o desenho de painéis e dos consoles do Polo. Ou seja: não há requinte e os materiais parecem de boa qualidade, a despeito das texturas. A impressão geral é melhorada pelo revestimento dos bancos em couro sintético e pela guarnição frontal em preto brilhante. A versão avaliada, a Highline, traz painel digital, que dá um toque de tecnologia ao modelo. Por outro lado, a nova central multimídia VW Plus, só impressiona pela tela de 10 polegadas. A ausência de botões a torna menos amigável ao uso – nos Estados Unidos, por exemplo, equipamentos sem botões sofrem rejeição, tanto que o SUV médio Taos vendido por lá tem um sistema multimídia com botões, enquanto o que será feito na Argentina virá com o VW Plus.
Por dentro, o crossover é idêntico ao do Polo, com a diferença de ter um porta-malas maior. Ou seja: fica em termos de dimensão entre o hatch compacto e o T-Cross. Exatamente a posição que ocupa na tabela de preços nas concessionárias. A principal diferença fica nos recursos tecnológicos, como controle de cruzeiro adaptativo, frenagem de emergência urbana, até 50 km/h, chave presencial para travas e ignição, ar-condicionado automático, sensores de chuva e luz, câmera de ré, espelho interno eletrocrômico e detector de fadiga do motorista, alguns deles inéditos em modelos compactos no mercado brasileiro.
Ficha técnica
Volkswagen Nivus Highline 200 TSI
Motor: Gasolina e etanol, dianteiro, transversal, 999 cm³, com três cilindros em linha, quatro válvulas por cilindro e turbocompressor. Acelerador eletrônico e injeção direta de combustível.
Transmissão: Câmbio automático com seis marchas à frente e uma a ré com paddle shifts no volante. Tração dianteira. Possui controle eletrônico de tração e bloqueio automático do diferencial.
Potência máxima: 116/128/ cv a 5.500 rpm com gasolina/etanol.
Aceleração 0 a 100 km/h: 10,5/10,0 segundos (gasolina/etanol).
Velocidade máxima: 184/189 km/h (gasolina/etanol).
Torque máximo: 20,4 kgfm entre 2 mil e 3.500 rpm.
Diâmetro e curso: 74,5 mm X 76,4 mm. Taxa de compressão: 10,5:1.
Suspensão: Dianteira independente do tipo McPherson, com triângulos inferiores, amortecedores hidráulicos e barra estabilizadora. Traseira por eixo interdependente com braços longitudinais com molas helicoidais, amortecedores telescópicos hidráulicos e barra estabilizadora. Oferece controle eletrônico de estabilidade.
Freios: Discos ventilados na dianteira e sólidos na traseira.
Pneus: 205/50 R17.
Carroceria Hatch em monobloco com quatro portas e cinco lugares. Com 4,27 metros de comprimento, 1,76 m de largura, 1,49 m de altura e 2,57 m de distância entre-eixos. Oferece airbags frontais e laterais de série.
Peso: 1.199 kg em ordem de marcha.
Capacidade do porta-malas: 415 litros.
Tanque de combustível: 52 litros.
Produção: São Bernardo do Campo, São Paulo.
Preço: R$ 102.050.
Preço da versão Highline Launching Edition: R$ 104.540.