Estratégia de dominação
Versão Impetus do Fiat Pulse leva a boa relação custo/benefício do SUV compacto ao limite
No Brasil, Fiat e Jeep atuam de forma complementar no mercado. Foi por conta disso que a marca italiana pôde demorar a apresentar um SUV compacto ao mercado. Afinal, o Jeep Renegade estava confortavelmente instalado nas primeiras posições do ranking de mais vendidos enquanto o Pulse era preparado. Agora, o Pulse chegou para ocupar a faixa inicial do segmento de SUVs, o que vai permitir que o Renegade entre em uma nova fase, com mais conteúdo, motor mais forte e preço maiores. Até lá, os dois convivem e se somam na faixa de entrada. E é aí que o Pulse mostra suas melhores armas, com conteúdo bem atualizado e preço atraente. Essa lógica vale para todas as versões do SUV da Fiat, mas tem a maior expressão de custo/benefício na top de linha Impetus 200 Turbo.
A versão Impetus, que custa R$ 123.490, traz de série todos os recursos disponíveis na linha. A lista é grande: câmera de ré, sensor de estacionamento dianteiro e traseiro, ar automático digital, faróis e lanternas em led, recursos de segurança como alerta de colisão com frenagem autônoma, monitor de mudança de faixa, farol alto automático, airbags frontais e laterais, painel digital de 7 polegadas, central multimídia com tela touch de 10,1 polegadas com espelhamento sem fio, carregador por indução, chave presencial para travas e ignição, partida remota via chave e revestimento em couro. Os opcionais se resumem à cor externa – a pintura bitom está incluída – e ao pacote Connect Me, uma plataforma de serviços conectados que permite interagir com o modelo remotamente.
Sob o capô, o Pulse traz o bom motor GSE 1.0 turbo de três cilindros, que rende de 125 a 130 cv, dependendo da proporção de gasolina e etanol, mas sempre com 20,4 kgfm – ou 200 Newtons, número que aparece na tampa traseira. Ele é gerenciado por um câmbio CVT da japonesa Aisin, que emula sete marchas e pode ser manipulado por paddle shifts no volante. A tração é dianteira e o Pulse conta com o mesmo sistema de controle de tração TC+ usada no Jeep, que é capaz de usar o módulo de ABS para bloquear a ação do diferencial e frear isoladamente uma roda sem aderência. Embora não seja um SUV de raiz, esse recurso permite leves incursões aventureiras ao modelo da Fiat.
A estratégia mercadológica da Fiat vem dando o resultado esperado, mas vem sendo limitado pela capacidade de produção, por conta da crise de componentes na indústria. No primeiro mês completo de vendas, o modelo chegou a 4.432 emplacamentos. Em janeiro, a coisa vai na mesma batida, com 2.342 unidades nos 20 primeiros dias e o 9º lugar entre os modelos mais vendidos. Tudo indica que o destino do Pulse é mesmo um dos primeiros lugares do ranking (por Eduardo Rocha/Auto Press).
Ponto a ponto
Desempenho – O motor GSE 1.0 Turbo de três cilindros lida bem com os quase 1.300 kg do Pulse e consegue movimentar com alguma facilidade, se valendo dos 125/130 cv e do bom torque de 20,4 kgfm, com gasolina e etanol. O conjunto não chega a oferece um comportamento esportivo, ainda mais por conta do gerenciamento do câmbio CVT, que mostrou pouca agilidade em solicitações mais imediatas. Arrancadas, retomadas e ultrapassagens são feitas com vigor e não há sensação de falta de potência em nenhuma faixa de giro. Nota 8.
Estabilidade – O Pulse tem suspensão e carroceria elevadas combinadas com um acerto mais macio. Isso sacrifica o controle da carroceria, que é menos neutro que o desejável. Esse comportamento é bem perceptível, mesmo que o modelo tenha uma distância para o solo de 19,6 cm, modesta para um SUV. Daí apresentar rolagem lateral nas curvas e exige pequenas correções de trajetória nas retas, mas nada muito dramático. No uso normal, não chega a chamar à ação o controle de estabilidade. Nota 6.
Interatividade – O modelo traz um painel digital de 7 polegadas configurável que facilita bastante a interação como o veículo. O Pulse traz ainda conexão com smartphones sem o uso de cabos, que facilita o acesso aos recursos da central multimídia, além de contar com GPS nativo. A tela “touch” com 10,1 polegadas é elevada e oferece boa visibilidade. As demais funções se oferecem através controles bem clássicos e não é necessário aprender os comandos para acionar os recursos. O volante multifuncional traz do lado esquerdo botões para navegar no computador de bordo e usar os comandos de voz e telefonia, enquanto o lado direito é destinado ao controle de cruzeiro e traz um vistoso botão vermelho Sport, para alterar o modo de condução. Na parte de trás do volante há controles para o volume e sintonia para o som. Incomodou a histeria nas reações do alerta de colisão e o autoritarismo do sistema de centralização do veículo na faixa, que atrapalha na escolha mais precisa da trajetória. Para calá-los, é preciso desativá-los a cada vez que o carro é ligado. Nota 8.
Consumo – De acordo com o Inmetro, o Fiat Pulse Impetus 200 turbo registrou médias de 8,5/10,2 km/l com etanol e 12,0/14,6 km/l com gasolina, na cidade/estrada. Este consumo rende notas B na categoria e no geral. É um consumo semelhante ao do Argo Trekking, apesar de o Pulse ser maior e mais pesado, o que comprova a eficiência do motor GSE Turbo. Nota 8.
Conforto – A suspensão macia, apesar de elevada, e os pneus com flancos altos ajudam a filtrar as irregularidades, o que resulta em um bom conforto de rodagem. Os bancos têm boa ergonomia, com bom apoio lateral. O que é importante, já que o modelo apresenta uma certa rolagem lateral nos trechos mais sinuosos. A insonorização da cabine é boa, principalmente em relação a ruídos aerodinâmicos, de rodagem e do motor, mas não filtra tão bem os ruídos externos. Nota 8.
Tecnologia – O Pulse tem uma arquitetura montada a partir da plataforma do Argo. A ponto de as esquadrias de portas e tampa da mala serem as mesmas do hatch. Como é um projeto mais recente, o SUV traz recursos mais atualizados, como alerta de colisão frontal com frenagem autônoma, monitor de faixa e farol alto automático. Mas a ampliação da carroceria, especialmente na altura, deixou o modelo com 100 kg a mais – o que é compensado pelo novo motor 1.0 Turbo, moderno, potente e eficiente. A conectividade da central Uconnect é das mais práticas do segmento, com espelhamento de smartphones sem fio, tela de 10,1 polegadas e GPS interno. Nota 9.
Habitabilidade – O Pulse tem dimensões internas semelhantes às do Argo, mas com altura mais elevada. Isso se reflete na posição dos passageiros, que fica mais vertical, o que melhora também a ocupação longitudinal dos espaços. Traduzindo: a área da cabine é generosa para pernas, cabeças e ombros principalmente na frente. O acesso é facilitado pela altura do veículo e o porta-malas, com 370 litros, tem tamanho razoável par ao segmento. Nota 8.
Acabamento – A Fiat segue a filosofia de criar texturas e padrões agradáveis, mesmo sem usar materiais requintados ou caros. No caso da versão Impetus do Pulse, o interior tem um maior refinamento por conta dos revestimentos dos bancos e as áreas de toque, como câmbio, volante e apoios nas portas em couro sintético. Além disso, o revestimento de colunas e teto são em preto. Nota 8.
Design – Nesse ponto, faltou ousadia à Fiat na hora de transportar o Pulse da prancheta para a realidade. As linhas do Pulse não anteciparam as tendências de estilo da marca nem surpreenderam em relação ao que já existia no mercado. Como ele utiliza partes da carroceira do Argo, acabou seguindo o mesmo conceito estético, apesar da diferença de quatro anos entre os dois. Olhado de forma isolada, os volumes são equilibrados, embora previsíveis, e combinam com harmonia linhas orgânicas com detalhes geométricos. O teto em preto é um modismo de gosto discutível e nem sempre funciona bem em um modelo compacto. Nota 7.
Custo/benefício – O Fiat Pulse chegou para ocupar deixado vago com o reposicionamento do Jeep Renegade, que vai passar a oferecer apenas versões mais potentes, equipadas e caras. Ou seja: chegou para oferecer um bom custo/benefício e manter o bom volume de vendas da dobradinha estratégica das marcas. Por isso, apesar de ser uma versão topo de linha com bastante conteúdo, os R$ 123.490 do Pulse o deixam em vantagem diante de rivais diretos – é mais barato que todos os SUVs compactos do mercado conteúdo semelhante, exceto pelo Chery Tiggo 3X, que é bem menos potente e equipado. Nota 9.
Total – O Fiat Pulse Impetus 200 Turbo somou 80 pontos em 100 possíveis.
Impressões ao dirigir
A mão invisível
Daqui para a frente, será cada vez mais comum a convivência com automóveis com “vontade própria”. O problema dessa fase de implantação de sistemas com inteligência artificial é que eles nem sempre são tão espertos quanto se acham. Uma boa saída seria fazer com que a atuação de recursos como alerta de colisão e centralização de faixa, presentes no Fiat Pulse Impetus, fosse menos imperativa ou escandalosa. Mas o fato é que o modelo italiano tem uma personalidade um tanto exuberante.
O alerta de colisão, por exemplo, atua cedo demais e grita de uma forma que envergonha quem está ao volante – dá a impressão que o motorista cometeu um erro crasso. Já o monitor de faixa monta uma queda de braço com o condutor, que pode estar apenas indo para o canto da faixa para desviar de uma irregularidade no pavimento, mas tem de enfrentar uma impertinente resistência ao volante. Se a ação dos recursos fosse mais sutil, seria bom de conviver, mas do jeito que foi configurado, acaba sendo preciso desligá-los para explorar um pouco mais os limites do carro.
Dessa forma, é possível constatar que o Pulse é um SUV com um motor potente e bem alerta em qualquer faixa de giros. Ele se entende bem com o câmbio CVT, que não anestesia as reações aos acelerados tanto quanto seria de se esperar. Nas tocadas mais esportivas, no entanto, o Pulse apresenta um pequeno inconveniente. Como a Fiat optou por uma suspensão mais macia e o Pulse tem um centro de gravidade elevado, há uma certa tendência de rolar nas curvas e flutuar nas retas em velocidades mais altas. Não são reações descontroladas ou exageradas, mas tira um pouco o ímpeto de quem gosta de uma tocada mais agressiva. Mas, a bem da verdade, um SUV não é exatamente o gênero de automóvel para alguém com este tipo de demanda.
Os outros papéis de SUV/Crossover são bem desempenhados pelo Pulse. Tem um espaço interno generoso, com boa altura na cabine e espaço para pernas, o rodar é silencioso e macio, os bancos são confortáveis e ergonômicos e, o principal, tem um padrão de interatividade que seduz os mais conectados. A central multimídia com GPS interno e espelhamento de celular via Bluetooth funciona de forma exemplar. Praticamente todos os comandos importantes podem ser feitos a partir do volante multifuncional. Tudo isso ajuda a tornar o convívio com o Pulse fácil e agradável.
Ficha técnica
Fiat Pulse Impetus Turbo 200
Motor: Gasolina/etanol, transversal, dianteiro, com 999 cm³, sobrealimentado por turbo, três cilindros em linha, quatro válvulas por cilindro, eixo de comando simples no cabeçote e injeção eletrônica multiponto.
Transmissão: Automático continuamente variável, CVT, com sete relações pré-programadas à frente e uma à ré. Tração dianteira com sistema de tração TC+.
Potência: 125 cv a 130 cv, com gasolina e etanol, a 5.750 rpm.
Torque: 20,4 kgfm, com gasolina ou etanol, a 1.750 rpm.
Diâmetro X curso: 70,0 x 86,5 mm.
Taxa de compressão: 10,5:1.
Aceleração 0-100 km/h: 9,7/9,4 segundos com gasolina/etanol.
Velocidade máxima: 187/189 km/h com gasolina/etanol.
Carroceria: Utilitário esportivo (SUV) com quatro portas e cinco lugares. Com 4,10 metros de comprimento, 1,78 m de largura, 1,58 m de altura e 2,53 de distância entre-eixos. Altura mínima para o solo de 19,6 cm. Ângulo de 20,4º de ataque e de 31,6º de saída. Airbags frontais e laterais de série.
Suspensão: Dianteira tipo McPherson com rodas independentes, braços oscilantes inferiores transversais com barra estabilizadora, amortecedores hidráulicos de dupla ação e molas helicoidais. Traseira com eixo de torção com amortecedores hidráulicos de dupla ação e molas helicoidais.
Freios: Dianteiro a disco ventilado com 284 mm de diâmetro com pinça flutuante. Traseiro a tambor com regulagem automática. ABS com controle de partida em rampa e controle de estabilidade.
Pneus: 205/50 R17.
Peso: 1.237 kg em ordem de marcha com 400 kg de capacidade de carga.
Porta-malas: 370 litros.
Lançamento: Outubro de 2021.
Produção: Betim, Minas Gerais.
Preço: R$ 123.490.
Preço da unidade testada: R$ 127.190.