Em um degrau mais alto
Jeep Renegade Sport foca nas faixas intermediárias do segmento com muita potência e bom conteúdo
O Renegade é um caso raro de automóvel que vendeu muito, por muitos anos e ainda assim não perdeu o glamour e o prestígio. Tanto que a Jeep mudou o posicionamento do modelo sem prejuízo mercadológico. Com a chegada da nova motorização 1.3 turbo à gama – atualmente, a única disponível ‑, o preço da versão mais barata do modelo ficou nada menos que 30% maior. Custava pouco menos de R$ 97 mil na versão standard e agora começa em R$ 127.590 na configuração Sport. Ainda assim, o Renegade manteve o fôlego de vendas, embora já não encabece a lista dos mais vendidos. Em maio, foram nada menos que 5.489 unidades emplacadas, o que o deixou como o 11º modelo no ranking geral e em 4º entre os SUVs compactos. No ano, o modelo acumula 20.575 emplacamentos.
Dois fatores justificam esta façanha. O primeiro é que a nova motorização extinguiu a principal crítica que o modelo sofria nas versões flex, que era o desempenho ruim do motor 1.8 EtorQ. O novo motor T270 oferece uma performance bem mais convincente. Trata-se de um 1.3 turbo com 185 cv e 27,5 kgfm, sempre gerenciado por um câmbio automático de seis marchas. A diferença de comportamento é gritante desde a ficha técnica. A velocidade máxima do modelo subiu de 182 para 210 km/h, enquanto o zero a 100 km/h caiu de 11,1 para 8,7 segundos.
O outro fator é que o Renegade tem um conteúdo bem completo desde esta versão inicial. Fazendo uma comparação direta entre a antiga versão Sport e a atual, a distância de preço entre a fase anterior e a atual do Renegade fica um pouco menos chocante. O valor da configuração em si teve um acréscimo na ordem de 12% por conta da troca do motor e pela introdução de alguns conteúdos.
Nessa diferença se incluem câmbio automático com modo Sport, diferencial de escorregamento limitado eletronicamente (Jeep Traction Control+), alerta de colisão em relação a outros automóveis (não detecta nem pedestres, nem ciclistas) com frenagem autônoma de emergência, alerta de mudança de faixa, rodas de liga leve de 17 polegadas, sistema start/stop, freio de estacionamento elétrico e painel com tela de TFT de 3,5 polegadas.
Além desses adicionais, o Renegade ainda traz central multimídia com tela de 7 polegadas com espelhamento sem fio através de Apple CarPlay e Android Auto, trio elétrico, faróis, luz diurna e lanternas em led, monitor de pressão dos pneus, seis airbags, ar-condicionado, câmera de ré e controle de cruzeiro e limitador de velocidade. Ou seja: desde a versão de entrada, o Renegade tem todos os recursos básicos para o segmento e ainda inclui alguns itens mais requintados, composição que acaba se refletindo no desempenho de mercado (Texto e Fotos de Eduardo Rocha, Auto Press).
Ponto a ponto
Desempenho – A personalidade do Renegade mudou completamente com o novo motor T270. O torque máximo de 27,5 kgfm já aparece aos 1.750 giros, o que faz com que o motor fique cheio em praticamente todas as faixas de rotações úteis. O acoplamento com o câmbio automático de seis velocidades é suave a ponto de ser difícil perceber as mudanças de marcha em uma condução normal – numa tocada mais agressiva, elas ficam evidentes. Por outro lado, a transmissão modula as reações do motor, que apesar da ótima relação peso/potência abaixo de 8 kg/cv, não mostra um comportamento esportivo – caso contrário, seria necessária uma revisão completa da suspensão. De qualquer forma, é um conjunto vigoroso, capaz de acelerar o modelo de zero a 100 km/h em até 8,7 segundos, que chega a 210 km/h. Nota 8.
Estabilidade – A suspensão independente nas quatro rodas controla muito bem os 1.468 kg do Renegade Sport A configuração rígida, apesar do curso amplo, não deixa a carroceria rolar, apesar da altura de 1,70 metro. O motor de reações suavizadas não instiga uma condução mais agressiva, mas seu equilíbrio em marcha passa sempre a impressão que se está mais devagar do que o velocímetro aponta. Nota 9.
Interatividade – A central multimídia tem uma tela relativamente pequena para os padrões atuais, de 7 polegadas, mas é suficiente para criar uma boa interface com o usuário. O modelo tem ainda câmera de ré, volante multifuncional, tela de TFT no cluster de instrumentos com dados do computador de bordo, ar-condicionado analógico e até sistema de limitação de escorregamento do diferencial, para sair de situações de baixa aderência. O câmbio ainda tem ainda modo Sport, que dá uma pouco mais de agressividade às reações. Faltam, no entanto, recursos simples e já corriqueiros, como sensor de obstáculos traseiro, de luz e de chuva. Nota 7.
Consumo – O Jeep Renegade não virou um carro econômico, mas o novo motor T270 reduziu o consumo entre 5 e 10% em relação ao antigo 1.8 EtorQ, mesmo oferecendo 33% mais potência e 43% mais torque. As médias de consumo com etanol foram de 7,7 e 9,1 km/l, na cidade e na estrada, enquanto com gasolina chegou a 11,0 e 12,8 km/l, respectivamente. Os índices ficaram em C na categoria e C no geral. Nota 6.
Conforto – Vários elementos tornam o Renegade confortável e agradável de conviver. As boas reações do motor T270, que tem baixo nível de vibração, a suspensão independente nas quatro rodas de amplo curso, que filtra bem as irregularidades e suaviza os buracos maiores, os bancos ergonômicos e bom espaço para cabeças e pernas. O habitáculo tem uma boa altura e gera uma sensação de amplidão, mas na realidade é um pouco estreito e por isso um terceiro passageiro atrás causa aperto. Como acontece, a rigor, com qualquer modelo compacto. Nota 9.
Tecnologia – O Renegade Sport tem um conteúdo bem equilibrado, com uma central multimídia funcional e espelhamento sem fio, diversos itens de conforto e uma plataforma forte e resistente, realmente projetada para um utilitário. O moderno motor T270 é eficiente, mas a transmissão de seis marchas retira um pouco o vigor do conjunto. O modelo traz assistentes de condução, como monitor de faixa e alerta de colisão em relação a outros carros com frenagem automática. Tem ainda câmara de ré, mas faltou um modesto sensor de obstáculos traseiros. Nota 8.
Habitabilidade – O Renegade tem diversos guarda-volumes, e como o console central não tem alavanca para o freio de estacionamento, ele serve como um bom apoio. O entre-eixos não é capaz de impressionar ninguém, com seus 2,57 metros, mas é muito bem aproveitado e oferece bom espaço interno. O entrar e sair do veículo é facilitado devido à altura do modelo. O porta-malas, ajudado por um estepe menor de uso temporário, tem 385 litros de capacidade – 65 litros a mais que na fase anterior do modelo. Nota 8.
Acabamento – Os materiais usados no Renegade são resistentes e misturam de forma bem dosada plásticos emborrachados e rígidos. A unidade testada tinha revestimento opcional em couro sintético de ótima qualidade, o que emprestou algum requinte ao habitáculo, sem arranhar a ideia de robustez, que reforça a vocação do modelo. O interior é discreto e elegante, com guarnições e revestimentos em preto. Nota 9.
Design – As linhas do Renegade são muito bem resolvidas e por isso mesmo é um trabalho desafiador promover mudanças de design. Por isso, a renovação promovida para a nova fase foi discreta, mas suficiente para marcar as mudanças. Em linhas gerais, a grade frontal ganhou uma moldura mais grossa, as sete aberturas ficaram mais curtas e passaram a morder a parte superior do para-choque. A assinatura em led nos faróis ganhou um formato de ferradura. Na traseira, o “X” característico da lanterna recebeu um corte horizontal. O resultado ficou interessante. Não houve uma mudança conceitual, mas conseguiu renovar o visual do modelo, que continua extremamente agradável. Nota 9.
Custo/benefício – O Renegade passou a atuar apenas nas faixas de preço mais altas do segmento de SUVs compactos. Ou seja: o preço inicial do Renegade corresponde a versões intermediárias dos rivais, mas se a comparação for por conteúdo, o preço inicial de R$ 127.590 é bem compatível com o que o mercado pratica. Além disso, o modelo da Jeep é o mais potente e o que tem o maior torque na categoria. Nota 6.
Total – O Jeep Renegade Sport T270 somou 79 pontos em 100 possíveis.
Impressões ao dirigir
Simples equilíbrio
A versão Sport é a mais simples da linha Jeep Renegade, mas isso está longe de significar que é um carro incompleto. O conteúdo traz os itens mais exigidos no segmento – trio, direção, computador de bordo, central multimídia com bom nível de conexão, câmera de ré etc. Faltam alguns recursos desejáveis, como sensores de obstáculos, de chuva e de luminosidade, ar digital automático ou chave presencial. Por outro lado, traz itens de segurança interessantes como seis airbags e alerta de colisão com detecção de veículos com frenagem automática e monitor de faixa – mesmo que sejam um tanto escandalosos, como costuma acontecer com os carros de marcas da Stellantis, principalmente Jeep e Fiat.
Para destacar a robustez do modelo, a versão traz de série revestimento interno em tecido e diversos detalhes em preto, tanto no interior quanto nas molduras da grade frontal. O modelo recebe opcionalmente rodas de liga leve com pintura prata de 18 polegadas com pneus 225/55, com flanco de 12,4 cm, o que é razoável para as funções off-road – nesse sentido, o original 215/60 R17 é mais adequado. Mas o melhor recurso para isso é mesmo o sistema Jeep Traction Control+. Ele pode ser acionado somente em baixas velocidades e desativa o controle de tração, para que o sistema possa limitar o escorregamento do diferencial. É pensado para sair de um aperto e dá alguma destreza para um SUV sem tração integral.
Mesmo sem explorar o lado mais aventureiro do Renegade, o SUV compacto da Jeep extremamente funcional e agradável. O motor T270 é suave e silencioso, além de acelerar vigorosamente o modelo, que tem quase uma tonelada e meia. É bem verdade que o câmbio automático de seis marchas tira um pouco do ímpeto de um carro que tem relação peso/potência inferior a 8 kg/cv, mas ainda sobra o bastante para dar dinamismo ao modelo. O zero a 100 km/h é feito abaixo de 9 segundos e a máxima é de 210 km/h. São números ousados para um modelo com uma plataforma projetada para ser robusta. Tanto que o Renegade tem entre 200 e 300 kg a mais pesado que os SUVs/crossovers do mercado. A suspensão independente nas quatro rodas, também reforçada, dá conta dessa carga e proporciona uma dinâmica bem neutra.
Ficha técnica
Jeep Renegade Sport T270 AT6
Motor: Gasolina e etanol, dianteiro, transversal, 1.332 cm³, sobrealimentado por turbocompressor, quatro cilindros em linha, quatro válvulas por cilindro, comando de válvulas no cabeçote, sendo as de admissão por sistema eletro-hidráulico Multiair III e de espace por eixo de comando. Sistema de injeção eletrônica direta e acelerador eletrônico.
Transmissão: Câmbio automático de seis velocidades à frente e uma a ré. Tração dianteira com sistema eletrônico de limitação de escorregamento do diferencial (Jeep Traction Control+). Oferece controle de tração e modo Sport.
Potência: 180 cv com gasolina e 185 cv com etanol a 5.750 rpm.
Torque máximo: 27,5 kgfm com gasolina e etanol a 1.750 rpm.
Diâmetro e curso: 70 mm X 85 mm.
Taxa de compressão: 10,5:1.
Aceleração 0-100 km/h: 8,8/8,7 segundos, com gasolina/etanol.
Velocidade máxima: 210/208 km/h com gasolina/etanol.
Suspensão: Dianteira independente do tipo McPherson, com triângulos inferiores e barra estabilizadora, amortecedores hidráulicos e pressurizados e molas helicoidais. Traseira independente do tipo McPherson, com links transversais e laterais, barra estabilizadora, amortecedores, hidráulicos e pressurizados e molas helicoidais. Oferece controle de estabilidade e sistema anticapotamento.
Carroceria: Utilitário compacto em monobloco, com quatro portas e cinco lugares. 4,27 metros de comprimento, 1,81 m de largura, 1,70 m de altura e 2,57 m de entre-eixos. Oferece airbags frontais, laterais, de cabeça e de joelho para o motorista.
Capacidade off-road: Altura mínima do solo de 18,6 cm. Ângulo de entrada de 21°, ângulo de saída de 31° e ângulo de rampa de 22º.
Freios: Freio a disco na frente e atrás. Discos ventilados na frente. Oferece ABS, controle de descida e assistência de partida em rampa.
Pneus: 215/60 R17 (225/55 R18 opcional).
Peso: 1.468 kg.
Capacidade do porta-malas: 385 litros.
Tanque de combustível: 55 litros.
Produção: Goiana, Pernambuco.
Preço: R$ 127.590.
Preço da unidade testada: R$ 135.189 (com opcionais de pintura Branco Perolizado por R$ 2.220 e Pack Exclusivo, com bancos em couro, rodas aro 18 e pneus 225/55 R18 por R$ 5.379).