Crossover de futuro
Toyota Corolla Cross híbrido combina eficiência com excelente dinâmica urbana
Ao lançar a versão crossover e híbrida do sedã Corolla, a Toyota fez dois movimentos importantes: apontou sua família de médios para o futuro, ao se antecipar às exigências do Proconve, e ganhou uma vantagem competitiva ao entrar na brigar do suculento segmento de SUVs e crossovers com um modelo tecnológico e eficiente. O Corolla Cross híbrido segue a mesma lógica do Corolla sedã híbrido com uma nova roupagem, mas mantendo a linguagem estética. E esse pode ser o maior motivo de ele ter sido o primeiro crossover no mercado brasileiro a fazer frente ao ainda imbatível Jeep Compass. Em março, o Cross emplacou nada menos que 4.318, cerca de 10% menos que as vendas do Compass. Nunca antes na história desse segmento algum modelo chegou tão perto.
Apesar desse confronto mercadológico, o Corolla Cross nada tem a ver com o Compass. O Compass atende a um público que busca um pouco mais de aventura, enquanto o modelo da Toyota é o mais perfeito carro de família, um verdadeiro sucessor de gêneros como station wagons e monovolumes, praticamente extintos pelo crescimento exatamente dos SUVs e crossovers. Na versão híbrida, o modelo ainda agrega um alto grau de eficiência e um comportamento dinâmico dentro da cidade extremamente agradável, com alto torque nas arrancadas e em baixas velocidades, sem penalizar o consumo, como acontece com os motores turbo.
Para animar, o modelo conta com o mesmo sistema inaugurado pelo Prius: um motor térmico 1.8 litro de 98/101 cv com 14,5 kgfm e um motor elétrico principal de 72 cv e 16,6 kgfm. Um segundo motor elétrico, menor, funciona apenas para acionar o motor térmico no momento exato. Além disso, ambos funcionam como regenerador de energia durante reduções e frenagens. É por isso que os índices de consumo urbano são bem melhores que os obtidos na estrada. Na cidade, a média fica entre 11,8 e 17 km/h, dependendo da proporção de etanol e gasolina. Em ambiente rodoviário, os números ficam entre 9,6 e 13,9 km/h. Em qualquer caso, no entanto, são números impressionantes.
A versão XRX avaliada está no topo do line-up do crossover japonês. Ele tem interior em couro sintético de boa qualidade, ar digital duplo, sete airbags, recursos ADAS do Toyota Safety Sense, teto solar, chave presencial, sete airbags, banco do motorista com ajuste elétrico, etc. Um outro ponto de atração do Corolla Cross XRX é o preço. Os R$ 200.190 pedidos por ele o deixa mais em conta que diversos rivais diretos em versões de topo, como o próprio Jeep Compass e o Volkswagen Taos, que tem proposta semelhante, mas só emplacou 445 unidades em março.
A parte de design do Corolla Cross segue a lógica da marca japonesa. As linhas são pensadas de forma a não causarem estranhamento. A frente é dominada pela grade de grandes proporções, que forma com a entrada de ar inferior, também em preto, um conjunto bem agressivo. Todo o contorno da parte inferior da carroceria e as caixas de rodas têm molduras em preto e os para-lamas dianteiros e traseiros são bem ressaltados. Tudo é acentuado pelos conjuntos óticos dianteiros e traseiros bem afilados, que dão um ar de modernidade.
A junção da plataforma modular TNGA (Toyota New Global Architecture) do Corolla Cross com a motorização eleva o modelo japonês ao ponto mais alto em relação à oferta de tecnologia, numa configuração híbrida que antecipa uma obrigação que praticamente todos os rivais terão de obedecer após 2025 (Texto e fotos de Eduardo Rocha, Auto Press).
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Ponto a ponto
Desempenho – A motorização híbrida flex do Corolla Cross gera até 122 cv de potência (o torque combinado não é divulgado pela Toyota), o que parece pouco. Em ação, porém, o entrosamento dos dois propulsores cria uma sensação de força e capacidade de aceleração permanentes, principalmente em condições de uso urbano. Nas arrancadas, os dois motores elétricos disponibilizam o torque de 16,6 kgfm, que se soma aos 14,5 kgfm do motor térmico. Mas esta combinação se desfaz em torno de 80 km/h, quando a motorização elétrica reduz sua ação. Isso resulta em um zero a 100 km/h pouco convincente, em torno de 12 segundos. Nas retomadas, o “punch” inicial também é ajudado pelo propulsor elétrico. No geral, o comportamento é comedido, nada esportivo. Mas não há sensação de falta de disposição. Nota 8.
Estabilidade – O Corolla Cross usa a nova arquitetura global da Toyota, TNGA, que tem boa rigidez torcional, o que melhora bastante a dirigibilidade. O modelo feito no Brasil traz, no entanto, uma suspensão traseira por eixo de torção, mais voltada para a resistência. Com isso, – o controle da carroceria é menos refinado, com algum prejuízo para o conforto em pisos irregulares. De qualquer maneira, controla muito bem a carroceria. Nota 8.
Interatividade – A interface pelo Corolla Cross XRX contempla os recursos de um modelo híbrido, como monitoramento do estado da carga e da capacidade da bateria. O painel digital multifunção tem 7 polegadas tem um velocímetro central e diversas informações que se alternam na parte central. O sistema multimídia traz poucos recursos, como conectividade com smartphones e Bluetooth, sem espelhamento de celulares Apple ou Android, monitorado por uma tela “touch” de 8 polegadas. O modelo traz ainda chave presencial para travas e ignição, sensor de luz e de chuva, de obstáculos traseiro e câmera de ré. O freio de estacionamento por pedal é prático e ocupa um espaço menos nobre que uma alavanca no console central. Em relação à segurança, o modelo conta com um pacote Safety Sense, com diversos recursos ADAS, como está ficando do padrão no segmento. Nota 9.
Consumo – O InMetro classificou o Corolla Cross XRX com os índices A na categoria e B no geral. Como se trata de um sistema que recupera energia das frenagens, os índices são melhores no ciclo urbano, com consumo de 11,8 km/l a 17,0 km/l na cidade, enquanto na estrada fica entre 9,6 e 13,9 km/l, com etanol e gasolina respectivamente. Nota 9.
Conforto – A versão XRX do Toyota Corolla Cross tem uma suspensão pouco refinada, mas eficiente, isolamento acústico de boa qualidade e bons recursos de conforto. A direção tem peso correto para uma condução calma, os bancos são macios e bem ergonômicos e o acabamento é bom. É um SUV médio de topo de gama, com conteúdo coerente com este posicionamento. Nota 8.
Tecnologia – O entrosamento delicado e elegante dos motores elétrico e térmico requer um sistema de controle extremamente aprimorado e ainda oferece um nível de eficiente sem concorrência no segmento. O modelo tem uma plataforma moderna e diversos recursos de condução autônoma, além de itens atraentes de conforto, como chave presencial, sensores de luz e chuva, sete airbags etc. A crítica fica para a central multimídia, que não é das mais amigáveis. Nota 9.
Habitabilidade – O Corolla Cross, como qualquer crossover que se preze, oferece muito espaço a bordo. não foge à regra, apesar de ser 17 cm menor e ter um entre-eixos 6 cm mais curto que o sedã, com 4,46 metros e 2,64 metros. Essa redução, no entanto, é compensada na postura dos ocupantes, que podem adotar uma postura mais ereta por conta da boa altura do modelo, de 1,62 metro, que também facilita entrar e sair. O ambiente é agradável, prático e nessa versão de topo tem materiais um pouco mais luxuosos. O porta-malas comporta bons 440 litros. Nota 9.
Acabamento – Como se trata de uma versão de topo, os materiais de acabamento são um pouco mais requintados que o padrão normal da Toyota, mas continuam priorizando a resistência. Algumas superfícies de toque no interior são macias, mas a maior parte é mesmo em plástico rígido, com algumas guarnições em preto brilhante. O estofamento e os revestimentos, com imitação de couro e imitação de pespontos, são dispensáveis. Nota 8.
Design – A Toyota produz carros com a intenção de que eles não sofram rejeição por conta do visual. Nem sempre acertam, é verdade, mas no caso do Corolla Cross, cumpriram bem a missão. Não há ousadia, mas tem personalidade. A frente alta com a grade reta e a leve convergência entre o teto e a linha de cintura em direção à traseira dão dinamismo ao desenho. A estética aqui não é uma questão fundamental. Nota 7.
Custo/Benefício –Mesmo sendo um híbrido, o Corolla Cross a R$ 200.160 tem preço ligeiramente menor que alguns dos principais rivais diretos. Não por acaso, desde que foi lançado se mostrou o único rival capaz de concorrer com o modelo hegemônico no segmento de SUVs médios, que é o Jeep Compass, que em março vendeu apenas 10% a mais que o modelo da Toyota. Com essa política de preços, a marca japonesa vem conseguindo herdar os antigos consumidores do sedã que embarcaram na moda do SUV/crossover. Nota 8.
Total – O Toyota Corolla Cross XRX híbrido somou 83 pontos em 100 possíveis.
Toyota Corolla Cross está mais perto de uma station que de um SUV
Impressões ao dirigir
Dinâmica bem planejada
O Toyota Corolla Cross híbrido é de um espécime completamente novo de automóvel. Não se pode simplesmente olhar a ficha técnica e já decifrar seu comportamento dinâmica. Numa análise cartesiana, 122 cv de potência combinada parecem muito pouco para um modelo que pesa 1.440 kg. Mas o que vale para deixar o modelo japonês bem animado é a combinação de torque útil. O dos motores elétricos, de 16,6 kgfm, aparece em baixas velocidades, e é combinado com os 14,5 kgfm do motor térmico, o que dá vigor nas arrancadas e retomadas até cerca de 80 km/h, quando o motor elétrico reduz sua influência. A partir daí, a aceleração fica basicamente a carga do motor térmico, o que tira agilidade do crossover e o deixa bem comedido, apesar de não haver exatamente uma sensação de falta de força. O comportamento do modelo foi muito bem desenhado pela engenharia da marca e só vai deixar insatisfeito quem quiser tirar esportividade do carro, coisa que ele não se propõe a oferecer.
De forma geral, o Corolla Cross é um substituto na configuração da moda para a saudosa Fielder, pois também oferece bastante espaço para pessoas e bagagens. Na parte dinâmica, não tem jeito: paga-se um preço por querer ver o trânsito do alto. A suspensão é mais resistente que refinada, com eixo de torção na traseira. Ainda assim, o crossover contorna as curvas sem torcer ou rolar em demasia – além da rigidez da plataforma, as rodas aro 18 com pneus 225/50, com flanco de pouco mais de 11 cm, ajuda a neutralizar os movimentos laterais. Ou seja: perde um pouco na capacidade de filtrar as irregularidades, mas tem comportamento exemplar em asfalto de boa qualidade.
A versão XRX é a mais completa da linha e conta com equipamentos como ar-condicionado duplo, faróis em led, banco do motorista com ajuste elétrico, teto solar elétrico e também e com os aparatos de condução autônoma do Toyota Safety Sense. Alguns desses sistemas, dependendo do carro, podem ser bastante invasivos e até meio escandalosos, como o monitor de faixa e o alerta de colisão com frenagem autônoma. Mas não é o caso o Corolla Cross, que se mostrou discreto na hora que entrou em ação. Ou seja: elegante como o próprio crossover.
Ficha técnica
Toyota Corolla Cross XRX Hybrid flex 2023
Motor térmico: Gasolina e etanol, dianteiro, de Ciclo Atkinson, transversal, 1.798 cm³, quatro cilindros em linha, comando duplo no cabeçote com abertura variável na admissão, quatro válvulas por cilindro, injeção multiponto e acelerador eletrônico.
Potência máxima: 98/101 cv a 5.200 rpm com gasolina e etanol.
Torque máximo: 14,5 kgfm a 3.600 rpm com gasolina e etanol.
Motores elétricos: Dois síncronos. MG1funciona para acionar o motor a combustão e como gerador para carregar a bateria. MG2 funciona para tracionar as rodas e como gerador. Potência total de 72 cv.
Torque máximo: 16,6 kgfm.
Potência combinada motores elétricos e térmico: 122 cv.
Torque combinado: Não divulgado.
Transmissão: Automática do tipo CVT transaxle com uma marcha à frente e uma a ré. Tração dianteira e controle eletrônico de tração.
Aceleração 0-100 km/h: 12,3 segundos, com etanol.
Velocidade máxima: 170 km/h com etanol.
Suspensão: Dianteira independente tipo McPherson, molas helicoidais e barra estabilizadora. Traseira por eixo de torção, molas helicoidais e barra estabilizadora. Controle de estabilidade de série.
Pneus: 225/50 R18.
Freios: A disco ventilado na frente e sólidos atrás com ABS e EBD.
Carroceria: Sedã em monobloco com quatro portas e cinco lugares. Com 4,46 metros de comprimento, 1,83 m de largura, 1,62 m de altura e 2,64 m de distância entre-eixos. Oferece airbags frontais, laterais e de cortina.
Peso: 1.440 kg com capacidade de reboque de 400 kg.
Capacidade do porta-malas: 440 litros.
Tanque de combustível: 36 litros.
Produção: Indaiatuba, Brasil.
Lançamento: 2019.
Lançamento no Brasil: 2021.
Preço da versão XRX: R$ 200.190.
Preço da unidade testada, com pintura perolizada: R$ 202.490.